a filha da empregada.

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-Querida, ainda estás a dormir?- a minha avó entra no meu quarto e fala com admiração.
Não é normal eu ainda estar na cama a estas horas, normalmente sou a primeira a acordar.

- Já estão todos à mesa, a senhora está a perguntar por ti!

-Desculpa avó, não estou a sentir-me bem!- sento-me na cama e abraço os meus joelhos

- Mas estás a sentir o quê? Queres que chame o médico?- fala preocupada e vem até ao meu lado.

-Não estás quente!- coloca a mão na minha testa e depois testa com os lábios, um gesto que fazia desde que sou criança

-Não, avó, não dormi bem e estou com dor de cabeça! Já, já estou bem. - é verdade, estou a sentir-me mal e devo parecer também. Porque a minha avó dá-me um beijo na testa e sai pela porta com a promessa de mais tarde me trará o pequeno almoço e um medicamento.

A minha cabeça parece que vai explodir, as imagens do Miguel com a amiga assim como o sonho que tive mantiveram-me acordada a madrugada inteira.
O regresso do Miguel mexeu muito comigo. Não é só o velho medo que senti quando o vi. O meu corpo todo sentiu a sua presença e o seu calor.
Lá no fundo eu sei que é verdade o que ele disse no sonho. Eu desejei ser a Raquel, desejei ser eu a lhe dar prazer.

-Oh, Deus! Sou maluca!- sussurro,  desabo no colchão e cobro a minha cabeça com o edredom.

  _

Depois de comer e de tomar banho, já me sinto mais eu mesma. E resolvo sair e enfrentar o dia. Não posso me esconder.

- Já está melhor, filha? - a minha avó está entretida entre os tachos e panelas a começar o almoço.

-Sim, obrigada avozinha! O chá e o medicamento ajudaram. - sorrio e aperto a sua larga cintura.

Vou em direção ao frigorífico para tirar uma taça de fruta, que sei que minha avó guardou para mim e começo a comer a mesma encostada à bancada.

- Madalena, podes fazer uma cesta com alguma comida e bebidas, por favor? - o motivo da minha dor de cabeça acaba de entrar na cozinha e fala para a minha avó. Os seus amigos estão com ele, ou melhor, a sua amiga está agarrada ao seu pescoço como um cachecol enquanto James está atrás.

- Claro, menino! - a minha avó adora o Miguel, para ela ele é mais um neto do que o filho dos patrões.

Nesse momento, a D.Silvia  entra na cozinha e olha para mim.

- Minha querida, já está melhor?- pergunta enquanto vem até mim.

- Sim, obrigada. Desculpe pela preocupação!- falo com vergonha. E sinto os olhares do trio de amigos sobre mim.

-Não faz mal, meu amor! Eu queria ter chamado o médico, mas a Madalena disse que já estava medicada.

-Mas se está melhor podes ir com o Miguel e os amigos à praia está tarde, o que achas?! - a minha cabeça parece que tem uma mola dado a velocidade que  olha da taça de fruta para a cara da D.Silvia. A minha mente começa a pensar numa desculpa, mas depois lembro-me que tenho uma bastante boa.

- Eu gostaria, mas não posso! Combinei ir buscar uns apontamentos que emprestei a um colega.

O Daniel é um colega do colégio que
a algo tempo andava a insistir para sairmos. Mas eu nunca tinha aceitado porque não tinha interesse nem nele nem em nenhum rapaz da escola. No entanto, ele tinha me pedido os apontamentos de História e ontem à tarde tinha mandado uma mensagem a pedir que fosse ter com ele para os devolver.

Pela minha visão periférica vejo o maxilar do Miguel a contrair-se e o seu  olhar a escurecer.

- Podes preparar a cesta para depois do almoço, Madalena! Depois venho buscá-la - o Miguel fala e sai da cozinha com os amigos. Mas antes de ir James ainda me lança o seu olhar que tanto me incomoda e que não sei interpretar.

A senhora Sílvia saí logo a seguir dizendo que tem algo para fazer e eu pretendo seguir o seu exemplo mas a minha avó pede que passe pela lavandaria e verifique as roupas que estão na máquina.

Quando estou a olhar para o visor da máquina da roupa para perceber quanto tempo demora para terminar o ciclo de lavagem. Sinto a sua presença e ouço a porta a ser fechada e trancada.
Viro-me para confirmar as minhas suspeitas.

-Precisas de alguma coisa, Miguel? - pergunto sem olhar para a sua fase. Mas o seu cheiro é o bastante para me trazer à mente o sonho.

- Não vais ter com ninguém, não tem autorização para sair! - a sua voz faz os pelos da minha nuca arrepiarem.

-Mas tenho que ir buscar os meus apontamentos...- tento falar

-O teu amigo vai mandar os teus apontamentos através de outra pessoa. Não te quero ao pé de nenhum rapaz. - fala com raiva na voz ao mesmo tempo que me encurrala entre o seu corpo e a bancada.

- Não mandas em mim. Não és meu pai nem meu irmão...

- Dormes sob o teto dos meus pais, comes na sua mesa. São eles que pagam o teu colégio às tuas aulas de piano e de natação e até aposto que pagam a tua roupa, por isso eu posso e mando em ti. Não tolero que andes a foder com um qualquer.

As suas palavras magoam-me mais do que o aperto da sua mão na minha fase, que me obriga a olha nos seus olhos.

- Vais começar a pagar a tua estadia na casa dos meus pais. - fala próxima ao meu ouvido

- Para começar, vais limpar e arrumar o meu quarto e tratar da minha roupa. Se és a filha da empregada vais começar a comportar-te como uma.- sinto o seu corpo, cada vez mais próximo do meu.

-Estas a perceber?- eu só consigo acenar que sim, tenho medo de falar e a minha voz me trair

- Se gostas tanto de espreitar o meu quarto podes muito bem entrar para limpar o pó e esfregar o chão. - afinal ele viu que eu estava a ver através da fresta da porta. Engolo em seco.

- Mas fica sabendo que o mais perto que vais chegar da minha cama é limpar o chão debaixo dela. - fala tão próximo aos meus lábios que o seu movimento faz cócegas nos meus. E o cheiro mentolado do seu hálito me envolve.

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora