jardim

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Não tenho coragem de encarar as outras pessoas que estão na divisão.

A vergonha queima a minha face como se fosse labaredas.
Acho que se olhar alguém nos olhos esse alguém vai ficar a saber o que se passou.

Ainda sinto pequenos arrepios na pele como sussurros e os meus mamilos tão duros que poderiam cortar gelo. E ainda tinha a questão da humidade que se tinha acumulado entre as minhas pernas, desconfio que quando me levantar da banqueta a prova da minha excitação deve estar marcada no tecido que cobre o assento.

-Foi incrível, Mariana- diz James ao meu lado. Eu até tinha me esquecido dele. Será que ele se apercebeu? Que vergonha.

- Realmente. Penso que esta foi a tua melhor performance, até agora minha querida. Tocaste com tanto vigor e paixão - tomo coragem por fim e encaro a D. Sílvia.

- Obrigada. - digo a medo.

- Foi uma atuação muito boa, penso que a presença do James tenha ajudado. Porque podíamos sentir como os dois estavam  entregues à música. - a cobra coloca ênfase nos dois. E olha de canto para o Miguel que ainda está atrás de mim.

Só quero ir embora para bem longe de  todos. Estou cheia das atitudes do Miguel, das indiretas da Raquel e do assédio do James. Será que vai demorar muito para as férias acabarem? Bem que podiam ir para o inferno todos eles.

Tomo coragem e peço licença para ir embora com a desculpa que tenho que ajudar a minha avó a fazer a sobremesa para o jantar.

Saio da sala e vou direto para o banheiro mais próximo. Fecho a porta e olho para o meu reflexo. Faces rosadas, pele com um brilho sutil de suor, pupilas dilatadas e os mamilos marcados no tecido da blusa. Ódio o meu aspeto neste momento, parecendo realmente uma vagabunda ou uma puta.

Molho a cara com água fria, respiro fundo e busco coragem dentro de mim. Pois sei que bem lá no fundo deve restar alguma grama.
Ainda tenho que enfrentar o jantar.
____

Os jantares estão cada vez mais pesados e estranhos. Não sei como os patrões dos meus avós não notaram que o ambiente entre mim, o Miguel e o James estão de cortar á faca. Aliás, se eles prestassem atenção, conseguiam ver o véu cinzento e poluído que nos cerca.
Acho que eles optaram por não ver. Faço o máximo para evitar olhar na direção dos dois.
Por isso mal terminou o jantar, peço desculpas e saiu daquele ambiente tóxico com a desculpa que não me estou a sentir bem, dor de cabeça.
A mais velha arma usada pelas mulheres para evitarem situações incómodas.

Fico no meu quarto, graças a Deus o Miguel me libertou, não sei se aguentava mais uma noite a dormir tão próximo dele, a sentir o seu cheiro e a sua presença 

Está cada vez mais difícil resistir a sua proximidade, ainda sinto medo mas agora está diluído com outra coisa. Que ao que parece é mil vezes mais poderosa do que ele. A Bianca chamou de tesão, desconfio que ainda é mais poderosa do que isso.

Luxúria,
Desejo,
Paixão.

Olho para o relógio em cima da cómoda e vejo que já passa das 2 da manhã. O sono não quer chegar e o tic-tac do relógio aparece que está a zoar comigo.
Dou voltas e mais voltas na cama, mas nada de dormir.
A minha mente se recusa a descansar, cada vez que tento relaxar surgem por trás das pálpebras a lembrança do beijo que o Miguel me deu logo cedo, e sinto na pele o seu toque fantasma.

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora