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De repente ouve-se um barulho estridente, sem dúvida uma panela que caiu no chão da cozinha, já que está é a divisão mais próxima.
E como se tivesse sido atingido por um raio o Miguel afastasse de mim

De imediato sinto a falta do seu calor e abraço o meu corpo para tentar disfarçar o arrepio que senti.

- Podes voltar a dormir no teu quarto, ratinha! Mas se eu souber que o James ou outro de tocou vais voltar a dormir no meu quarto amarrada mim.- e assim termina o momento mais carinhoso que tivemos em anos. Como uma bolha de sabão ao tocar o chão.

Vejo-o a afastar-se e tenho vontade de ir atrás dele, de lhe pedir para me voltar a abraçar e beijar. Para me explicar o significa as suas palavras.

- Eu odeio-te tanto como te desejo.

- Mariana- a voz da minha avó desperta -me do meu transe.

- Já acabaste de arrumar as roupas como te pedi?

Olho para os meus pés e vejo o amontoado de roupa que até a pouco tempo estava dobrada e que agora está enrolada depois de eu ter deixado cair.

- Estou quase a acabar avó - respondo rapidamente

- Então apressa-te que preciso da tua ajuda na cozinha.

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- Tinha saudades das nossas tardes- diz a D. Sílvia, horas depois do meu encontro com o Miguel no corredor.

- Eu também - respondo.

Estamos as duas na sala da mansão, a conversar e tomar chá, como é habitual. É o nosso ritual, beber chá, conversar sobre a escola ou as aulas de música e tocar piano.

E para falar a verdade estava mesmo a precisar de um pouco de normalidade no caos que tem sido as últimas semanas.

- Só gostaria de saber porque é que tens andado a esconder-te!- a sua pergunta pega-me de surpresa.

- Eu não me ando a esconder, só ando mais ocupada. Mas peço desculpa.

- Não, não peças desculpa, querida, só acho andas estranha. Pensei que com o Miguel por aqui ficasse feliz. Mas é ao contrário. Diz-me Mariana alguma coisa que queres-me dizer? - pergunta-me e eu tenho vontade de gritar. Tenho vontade de contar tudo.

Paro de tocar e olho para ela, sentada no sofá.

- Não, não tenho nada a dizer. Quer dizer, o Miguel voltou mas há muito tempo que não estávamos juntos. Acho que já não somos o que éramos. - covarde, grita o meu cérebro. Tinha a oportunidade de falar a verdade. Estás a encobrir-lo porquê?

- Quando eram crianças, o Miguel e tu eram tão unidos, a onde estava um estava o outro. - o seu olhar ficou vago como se tivesse a reviver na sua cabeça as recordações que narrava.

- As vezes eu apanhava o Miguel a olhar para ti como se fosses o tesouro mais preciso e belo que ele tinha visto. Ele te adorava, eras a sua princesa, mas de repente tudo mudou. Tudo por causa daquela...- fala está última parte com raiva .

-  Desculpa querida, não devia falar estás coisas. As coisas mudaram foi isso não foi?

- Acho que sim, crescemos foi isso.

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora