Depois do episódio da sala não me atrevo a sair do meu quarto.
Não quero dar de caras nem com o James nem com o Miguel. Ainda nem acredito naquilo que o amigo do Miguel me disse, é impossível ele estar interessado em mim. Deve ser alguma armação entre os dois, só pode.
Posso ser ingénua mas não sou crédula. Nos anos de amizade com a Bianca, ela sempre se esforçou para que eu deixasse de ser tão crente nas pessoas. Dizia que as pessoas aproveitavam-se de mim por isso.
E por outro lado, eu também não quero ver novamente o Miguel, a última vez que estivemos juntos ultrapassamos muitos limites.Por mais que me esforçasse, ainda podia sentir o seu calor e o seu toque na minha pele. O peso do seu corpo entre as minhas pernas. E ainda tinha aquele anel pendurado no seu pescoço.
Porque será que ele o guardou por tantos anos?
O que será que isso significa?
Porque é que ele o usa como pendente?São perguntas a mais que eu não quero responder.
E sentimentos que não quero explorar.Olho para a janela, já está a anoitecer o que significa que tenho que decidir se vou por livre vontade para o quarto dele ou espero que ele me venha buscar.
Os meus pensamentos são interrompidos pelo barulho de alguém a bater à porta.
- Mariana, querida, posso entrar?- ouço a D. Sílvia no outro lado da madeira.
- Sim, claro!- respondo ao mesmo tempo que passo as mãos pelo cabelo e por o vestidos numa tentativa de melhorar o meu aspecto.
- Estás bem, meu amor? A tua avó contou-me o que aconteceu.- pergunta ao sentar se ao meu lado na cama.
- Não foi nada, eu só tive um pesadelo. - se ela soubesse que os meus pesadelos apareceram de dia e não à noite.
- Meu amor. - diz ao pegar na minha mão - quero que saibas que não és e nunca serás com a tua progenitora. És pura, bondosa e carinhosa. - os meus olhos começam a arder um sinal que as lágrimas estão a chegar.
- Não é por termos o mesmo sangue que isso nos torna igual. És muito mais minha filha do que da mulher que te deu á luz. Não podemos escolher com quem partilhamos ADN, mas podemos escolher quem entra nos nossos corações.
As lágrimas caem pelo meu rosto e sinto o meu coração a aquecer como se tivesse a ser abraçado.
- Tenho tanto orgulho em ti. Só queria que te abrisses mais comigo. As vezes tenho a sensação que por trás do teu olhar escondes alguma sombra. Mas espero que um dia me contes o que isso significa.
- Não vou cobrar que me contes tudo porque sei que há coisas que temos que guardar para nós mesmos. Mas minha querida menina, quero que saibas que estarei aqui sempre para ti.
Sinto os seus braços a envolver-me num abraço cheio de ternura e amor. Um verdadeiro abraço de amor maternal. Mas no fundo me pergunto se ela continuaria a amar-me se soubesse o que sinto pelo seu filho? Se ela ficaria do meu lado se soubesse aquilo que o Miguel me faz.
- Agora, vamos lavar essa cara linda, põe um sorriso nos teus lábios e vamos jantar. Porque eu e o Eduardo estamos a sentir a tua falta á mesa. Parece que já nem gostas de comer conosco? - limpa carinhosamente as lágrimas que já começam a secar na minha pele.
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Filha Da Outra
RomanceEu não pedi para nascer. Não pedi para ter a mãe que tive Nem pedi para ser deixada para trás. Ser filha da outra, da quase amante é ser marcada. Mas ser a filha da outra e ser deixada para crescer na mesma casa da família que a sua mãe quase destr...