O acordar.

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A primeira coisa que sinto ao acordar é chão duro e frio,a onde dormi, ou antes tentei. Foi difícil conseguir desligar das coisas terríveis que ouvi e vivi na noite passada. Eu sabia que iria sofrer nas mãos do Miguel, mas agora não era só o medo que ele despertava, era outra coisa, que eu não sabia ou não quero saber.
Olho para a cama e vejo o corpo dele coberto até à cintura. Quando é que o Miguel deixou de ser um rapaz para se tornar um homem. Passo o meu olhar pelas costas musculadas decoradas por algumas pintas. Para nos ombros largos e fortes e vejo mais uma tatuagem, pergunto-me quantas mais ele tem, está é uma clave de sol meio destruída  como se tivesse sido queimada.
Continuo a percorrer o seu corpo com os olhos e começo a sentir um calor e uma vontade de lhe tocar. Mas eu sei que não posso, ele era bem capaz de cortar a minha mão.

Tenho que sair daqui o mais rápido que consiga penso. Olho para a janela e reparo que o sol está prestes a nascer. É agora ou nunca.
Saio do quarto do mesmo modo que entrei, como um fantasma, sem fazer o mais leve ruído.

Quando chego ao meu quarto respiro fundo, e reparo que estava a conter a respiração grande parte do caminho até aqui.

Dá-me vontade de ir nadar, preciso de me acalmar, e só a natação e ou a música são capazes de me fazer relaxar. A segunda está fora de questão, se não quero acordar a mansão, já a primeira...
  Recordo que o Miguel proibi-me de usar a piscina, mas penso, ele nunca vai saber , está a dormir e pelas horas em que se deixou dormir só deve acordar bem tarde.

Visto rapidamente o meu maiô e vou tentar encontrar alguma paz deste cenário de loucos em que se tornou a minha vida.

____

-Sais-te do quarto sem eu dar por isso, não gosto que as minhas cadelas me desobedecam!- O Miguel consegue me encurralar na cozinha e sussurra ao meu ouvido mais palavras venenosas.

-Já estava amanhecendo e eu não podia correr o risco dos teus pais ou a minha avó me ver- sibilo.

-Estou pouco me fodendo para as tuas desculpas. Acho que hoje vais dormir na minha cama algemada a mim.

Porque é que as duas palavras causam um calor húmido em mim, devo estar louca.

- Por favor Miguel eu juro que não quero nada com o James ou com qualquer outro- pelos visto o meu corpo é masoquista e só agora acordou.

- Ficas-te bem corada quando eu referi as algemas, a menina bem comportada gosta da ideia, é sua rata? - pergunta ao mesmo tempo que intensificar o aperto no meu braço e incurta a distância entre os nossos corpos.

- Não sei o que estás a falar, eu só quero que me deixes em paz. - tento mentir.

- Então se eu enfiasse a minha mão na tua calcinha não vou encontrar a tua boceta molhada, sua putinha? - assopra para os meus lábios.

- Por favor, deixa-me ir embora. - lágrimas começam a surgir nos meus olhos, mas não são de medo mas sim de vergonha porque o Miguel está certo.

-A próxima vez que eu  te vir a usar a piscina, vai entrar sem nada, sem maiô ou biquíni. Mas somente para mim.- e vira-me as costas. Fico sozinha no meu da cozinha com  cabeça a mil, o coração a bater como um trem e o corpo quente como o inferno.

Tenho que me afastar daqui , penso e é isso que vou fazer. Vou em direção ao meu quarto, pego a minha mochila com o meu celular e a minha carteira e já na garagem pego a minha bicicleta.
Pedalo até ao parque no centro da vila sento-me num banco do jardim.

-Estás bem querida! Mariana estas bem?- Bianca atende logo ao primeiro toque e fala aflita ao ouvir os meus soluços.

- O que é que esse filho de cobra te fez? Não quero saber hoje mesmo quero-te dentro de um avião para vires para ao pé de mim- fala do outro lado da linha.

- Eu não sei o que se está acontecer comigo Bianca! Eu estou a começar a sentir coisas que nunca antes senti e estou com medo- falo entre soluços.

- Como assim, Mariana, o que estás a sentir, estás doente? - como vou dizer à minha melhor amiga que sinto desejo pela pessoa  que tanto mal me fez, talvez isto fosse realmente uma doença.

- Eu, eu sinto...- não tenho coragem para falar.

- Por amor de Deus, mulher, fala, estou a ficar muito preocupado!

- Quando ele me toca eu não sinto medo, ou pelo menos só medo, eu sinto um calor, um aperto e uma vontade que ele continue- falo tão baixo que acho que a Bianca não consegue ouvir.

- Deixa me ver se entendi, Mariana, estão com tesão daquele filha da puta- meus Deus ela resumiu muito bem em meia duzia de palavras o que me está a acontecer.

- Como isso pode acontecer, Mariana mulher? - repreende.

- Eu não sei bem, ele começou a tocar-me e a dizer coisas e também teve aquela vez que eu vi a Raquel a fazer sexo oral nele...- começo a falar rápido

-Espera um pouco, estás a dizer que viste alguém a pagar lhe um boquete, e já agora quem é a Raquel.- a Bianca não tem medo nem vergonha de chamar as coisas pelos nomes.

- A Raquel é a amiga dele, que veio de Londres.- explico.

- Isso é tesão reprimindo, só pode, se tivesses dado para algum garotos na escola isso não acontecia.

- Que horror, Bianca, tu sabes que não é assim que eu funciono. E não é isso que tu disseste, essa coisa te ... te... isso - nem sou capaz de dizer essa palavra sem ficar com a cara toda vermelha.

- Aí amiga, tu és demais uma garota com 17 anos que não consegue dizer sacanagem e ainda é virgem és única e especial . - ela sabe bem os meus traumas.
Com isso não quero dizer que não quero ter relações antes do casamento, mas também não quero ser como ela, a minha mãe. Só não me consigo ver a ter relações com alguém só para deixar de ser virgem ou tentar me encaixar.

Ficamos quase uma hora na conversa. Já tinha saudades das maluquice da minha amiga. Ela me fez rir o que há alguns dias não fazia. E com a sua ajuda  consegui me acalmar.

Quando cheguei á mansão já passava da hora do lanche da tarde, que normalmente eu tomava com a senhora Sílvia, por isso resolvo ir á sua procura para pedir desculpas.
Mas quando estou a sair da garagem sou agarrada pelo pescoço e lançada á parede.
Olho para a frente e vejo o Miguel ofegante, as narinas dilatadas e as pupilas não negras e grandes que mal se vê o verde jade das suas íris.
Mal tenho tempo de respirar quando sinto os seus lábios nos meus

O Miguel toma os meus lábios com raiva, tenta abrir caminho com a sua língua mas eu resisto. Tento afastar mas as minhas mãos  são presas acima na minha cabeça.

-Abre, deixa eu entrar, eu preciso de sentir o teu sabor minha ratinha- ele fala sem deixar a minha boca.

E não sei bem como nem porque eu deixo ele entrar. O beijo se torna então mais profundo e mais urgente. Sinto que ele não só está a beijar os meus lábios mas todo o meu corpo. A sua língua massaga a minha antes de percorrer toda a minha boca.
Por fim eu lambe os meus lábios, como se tentasse levar consigo o meu sabor e olha nos meus olhos.

- Melhor do que eu imaginei. O teu sabor é um vício que eu não consigo mais resistir.

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora