Filha Da Outra

Almoço.

Entro na cozinha e vejo a minha avó a mexer em algo no fogão.
Tiro da geladeira a tigela de fruta e começo na comer e sento-me em cima do balcão com as pernas a balançar.

- Filha, não vai te sentar á mesa? - pergunta a minha avó sem se virar.

- Não, vou só comer a minha fruta e vou á cidade.- o que quero é fugir do Miguel. Não sei se a coragem que me tomou ontem ainda é suficiente.

- Mas foste ainda ontem á cidade?- o que a avó diz é verdade mas não lhe posso responder com sinceridade.

-  Arrependi-me de não ter comprado um livro que vi na livraria.- mais uma mentira. Depois do regresso do Miguel a mentira é algo comum. Nunca gostei de mentir mas a verdade é que está, agora, saí da minha boca com uma facilidade assustadora.
Minto para a minha avó, para a D. Sílvia, o James, para o Miguel e sobretudo para mim própria.

Salto do meu lugar dou um beijo na testa da avó atiro para o ar um "adoro-te" e vou embora o mais rapidamente possível. Não quero testar a minha sorte e dar de caras com o Miguel.

Mas eu sabia que sorte era algo que não tinha e quando estou já
em cima da minha bicicleta  pronta para arrancar olho para a frente e vejo o Miguel e a Raquel.
Os dois bem juntos a entrar no carro dele. O Miguel com o braço em cima dos ombros dela e um sorriso nos lábios.

Estúpida.

É o que sou. Eu a pensar que a nossa conversa tinha o afectado minimamente. E ele mais uma vez a provar que não sente nada. Que para ele eu não sou nada .

Afasto as lágrimas que começam a picar os meus olhos e começo a pedalar.
Só quero ir para bem longe dele. E esquecer o que sinto.

Estúpida.
Estúpido coração.

Quando chego á porta da livraria é que reparo que tenho as faces molhadas.
Afinal não tive forças para engolir as lágrimas.

Patética

Por isso em vez de entrar vou em direção ao parque e sento no banco.

- Sempre queres vir ter comigo linda? - a voz da Bianca se faz ouvir no outro lado da linha. Ela atendeu ao segundo toque.

- Eu devia sim, mas não! - fungo para o celular.

- Então garota? O que aconteceu?- a sua voz só faz com que as comportas dos meus olhos se abrem ainda mais e as lágrimas começam a cair em cascata.

- Eu enfrentei o Miguel! E descobri que estou apaixonada por ele.- digo aquilo que á dias, semanas andava a negar e a esconder de mim própria.

- Mas também me apercebi que tenho de matar este sentimento, que ele não é saudável.- falo entre soluços e escuto um suspiro da minha amiga.

- Querida, ainda bem que já descobriste, assim já sabes o que tem de enfrentar. Mas Mariana eu sei que tens forças para isso. Tu és mais do que achas que és.

- Mas tem mais!- já que estou a falar tudo mais vale contar mesmo tudo.

- Eu e o Miguel, nós...- quero contar mas tenho vergonha.