Eu sei que o Miguel é bonito, aliás lindo. Para a Mariana criança, o Miguel menino era o seu príncipe, mesmo com as calças rotas nos joelhos e com nódoas de bolo na t-shirt. Com o seu cabelo castanho dourado que tapava os seus olhos verdes jade e com o seu olhar carinhoso e quente sempre que olhava para mim.
Mas para a Mariana com dezassete anos, o Miguel que estava à minha frente, era deslumbrante. Definitivamente já não era um menino, nem parecia com os rapazes que eu convívia na escola, era um homem com uma aura de perigo que me atraia mais do que devia e do eu que gostaria.
O smoking preto abraça as suas coxas grossas e emoldura os seus ombros. A camisa branca não escondia uma sombra que teimava aparecer no seu peito e que me indicava que talvez fosse uma tatuagem. E embora os seus cabelos ainda caíssem sobre os olhos estes já não são carinhosos ou calorosos.
-Miguel sabes se o teu pai já chegou? Aquele homem é sempre a mesma coisa peço que chegue cedo uma vez e olha que horas são! - a senhora Sílvia fala mais para si do que para o filho.
- Acho que chegou agora mesmo, encontrei-o quando estava a descer as escadas.
-Vou ver se o apresso!- dá um beijo na bochecha do filho e aperta o meu ombro carinhosamente.
-Oh, James, Raquel estão lindos! - diz a D. Sílvia ao sair do salão e encontrar os amigos do filho.
Olho em sua direção e realmente a Raquel está linda, o vestido vermelho abraça o seu corpo perfeitamente e a racha no lado direito mostra a sua longa perna torneada. Está vestida como uma mulher enquanto que eu estou vestida como uma menina. E a confiança que estava a sentir no início da noite morreu.
Aproveito o momento em que o Miguel se vira para os amigos e saio em direção á cozinha mas antes ainda vejo a Raquel atirar se ao pescoço do Miguel e roubar um beijo. Não sei porque é que isso me magoou.
Pelo resto da noite eu tento ficar fora da vista do trio de amigos, mas não é fácil
A todo o momento a D. Sílvia chama a minha atenção, ora para me apresentar a alguém ora para pedir para eu tocar alguma peça.
No entanto, consigo sair um pouco do salão para apanhar ar e usar o banheiro.
Ao regressar á festa sinto alguém a apertar o meu braço e a puxar me para um corredor próximo. Sei que não é o Miguel porque não sinto o seu perfume nem o meu corpo dá sinal.- Little hare, estavas a esconder-te? - James encurrala-me entre o seu corpo e a parede. Não gosto da sua aproximação. A sua presença dá-me medo. E começo a tremer.
- Não é preciso tremer, minha little hare, não te vou comer! - agarra uma madeixa do meu cabelo que se solta do apanhado.
-Sabes que eu e o Miguel dividimos tudo, não é?- fala ao pé do meu ouvido. Eu tento a todo o custo desviar o meu rosto.
- Mas acho que ele não quer dividir a sua ratinha! Apesar de poder te oferecer mais! - só quero desaparecer. O seu toque causando náuseas.
- James por favor, deixa-me ir, devem estar á minha procura! - apelo com medo na voz.
- Mas eu só quero falar contigo! - tocar o meu rosto com as pontas e desliza pelo meu pescoço.
- Eu não quero falar contigo, deixa-me ir!- ganho coragem e tento empurrar o seu peito. Mas ele é muito maior do que eu.
-James o que se passa, precisas de alguma coisa- a voz do Miguel se faz ouvir alta e em bom som.
Aproveito a distração do rapaz á minha frente e fujo.
Contudo ao passar pelo Miguel, este agarra o meu braço.- Quero-te no meu quarto quando está palhaçada acabar. Cadela no cio. És igual á puta da tua mãe.
___
Como me ordenou, estou à porta do seu quarto. As suas palavras ainda martelavam na minha cabeça e como cobarde as segui como uma boa cadela que sou.
Bato timidamente à porta, não quero que ninguém me veja, já é tarde, muito tarde, o corredor está silencioso e escuro, os meus passos foram abafados pelo tapete e nem as tábuas da escada deram sinal da minha passagem. Cheguei aqui como um fantasma, uma alma penada ou mesmo uma rata, como ele gosta tanto de me chamar.Entro devagar dentro da divisão, como no meu sonho a janela está aberta, a brisa mexe com as cortinas criando sombras no chão de madeira.
-A ratinha apareceu, estava a pensar que talvez tivesses que te ir buscar ao teu buraco! - olho para o canto, ainda não o tinha visto, ele está encoberto pelas sombras. Ao falar levanta-se e eu posso ver que está sem camisa e que realmente era uma tatuagem que eu deslumbrei. Na verdade ele tem várias, nunca pensei que ele as tivesse, mas também ele usa sempre camisas de manga comprida dobrada até aos cotovelos,nunca mais do que isso.
Olho para o seu peito e ombros, a maior tatuagem cobre o seu ombro esquerdo, consigo ver que é uma espécie de trapaceira com espinhos que se emaranha pelo ombro, omoplata, costas e chega ao peito. Tem outra sobre o peitoral direito mas não consigo ver bem o que é, mas parece uma serei de números ou letras. E outras mais espalhadas pelo abdômen.-Estás a gostas do que vês, rata?- pergunta e caminhada até ao meu encontro.
Desvio o olhar para os meus pés descalços, e penso que talvez tivesses sido boa ideia ter calçado uns chinelos.-Responde, ou o gato comeu a língua?- agarra o meu queixo e levanta-me a cara.
-Não... não estava a ver nada!- tento falar, mas a minha voz sai como um sussurro.
- O que estás a falar com o James? O que querias dele?.
-Nada, ele estava a perguntar a onde era o banheiro mais perto?- minto e ele sabe que estou a mentir.
- Tresandas a mentira, rata. Mas fica sabendo que com ele não fodes, ele não toca em ti.- o aperto dos seus dedos na minha face fica mais forte.
- Não era isso! - tento argumentar, mas ele nunca vai acreditar em mim.
-Vais começar a dormir aqui no meu quarto!
O meu coração para não consigo respirar. Não, não, quero ver gritar. Ele não pode fazer isso.
- O que vou dizer aos meus avós e aos teus pais? - apelo
- Achas que quero saber! Quero que passes a dormir aqui, a onde te posso controlar. E a onde sei que não podes foder com ninguém, sua putinha reles! - mais facadas em formas de palavras. Eu começo a acreditar que sou mesmo isso.
Lágrimas começas a cair.- Lágrimas de crocodilo, ou melhor de rata, não me comovem!
- Vais dormir aqui no meu quarto, ao pés da minha cama. No chão como a cadela que és. - empurra-me e eu caío ao chão.
-Miguel, por favor, eu juro que não quero nada com o James eu nunca tive nada com ninguém.- confesso a chorar.
- Eu não acredito em ti. Cadela. A maçã nunca cai longe da árvore. Está no teu sangue. Podes enganar a minha mãe mas a mim não.
Não sei a onde nasceu aquele ódio, eu sei que no início não era assim. Eu choro por mim mas choro sobretudo de saudades do meu príncipe perdido, do meu amigo querido. Começo a acreditar que ele realmente morreu.
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Filha Da Outra
Roman d'amourEu não pedi para nascer. Não pedi para ter a mãe que tive Nem pedi para ser deixada para trás. Ser filha da outra, da quase amante é ser marcada. Mas ser a filha da outra e ser deixada para crescer na mesma casa da família que a sua mãe quase destr...