pele

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Pela primeira vez tenho vontade de gritar, bater o pé e não me calar. De mostrar qual é a minha vontade, de seguir os meus desejos. E não me importar com os outros.

Não sou uma boneca, um objeto tenho desejos, tenho voz e vontades.
Pela primeira vez, a vontade de lutar é mais forte do que o medo de ser rejeitada.

O James não me respeitou, não me ouviu, os meus avós ficaram a olhar felizes incapazes de ver que não era isso que eu quero. Ou serei tão boa a mascarar os meus sentimentos.

As paredes do meu quarto estão novamente a fecharem-se e sinto falta de ar, só quero sair daqui.
Abro a porta do quarto e saio sem saber ao certo para onde.
Olho lá para fora, está a chover.

Quando é que começou a chover?

Nem dei por isso. O cheiro da chuva e o barulho da água a bater nos vidros e no telhado acalma um pouco a confusão que tenho dentro de mim.

Sigo andando pela casa, como um fantasma, sem ninguém para assombrar somente tendo a mim para atormentar.

Não sei porque nem como, mas quando dou por mim estou a empurrar uma das portas da biblioteca.
O meu lugar favorito, e o dele também. O lugar onde recebi pela primeira vez um presente, um castelo para chamar de meu, mas era de cartão e até ele desapareceu junto com o meu príncipe.

De repente uma sombra sentada, no chão à janela chama a minha atenção. Nem preciso de ver bem para saber quem é.

Caminho até ele, calmamente, pé ante pé, o som abafado pelo tapete antigo.
Quando chego ao seu lado ele vira o corpo, olha para mim, levanta a sua mão e começa a subir pela minha perna. Puxa-me para o seu colo e eu não resisto.

No fundo era isso que eu queria, queria seguir os meus desejos e vontades. E ele é fonte de todos os meus desejos e a origem de todas as minhas vontades.

Caio no seu colo, uma perna para cada lado da sua cintura. Sinto os seus braços a fecharem-se sobre mim, e ao contrário das paredes do meu quarto que me causaram ansiedade, o seu aperto só me acalma.

Levo as minhas mãos aos seus cabelos, são tão macios e passo os meus dedos pelas mechas e deleito-me com a sua textura.

Sinto o seu nariz sobre a pele do meu pescoço, passa a ponta pela pele e sinto a sua respiração como se tivesse a cheirar-me. Quando se sente satisfeito começa a passar a sua língua quente no mesmo local, se antes estava a cheirar agora está a saborear-me. Todo isto calmamente enquanto lá fora a chuva transforma-se em tempestade.

Quando chega perto da minha boca, pára, coloca as duas mãos sobre o meu rosto, como se tivesse a segurar-me, olha dentro dos meus olhos e eu vejo, eu vejo o meu príncipe, o meu amigo o meu Miguel.

Assalto a sua boca, com fome, tomo os seus lábios, chupo-os como se tivessem mel. Ele geme por entre as nossas bocas entreabertas. E isso me dá força para continuar. Percorro toda a sua boca com a minha língua e quando toca na sua, começa uma dança erótica, embalada com os nossos gemidos.

Mas não é o bastante, eu quero mais, quero sentir-lo perto, a sua pele.
Agarro a bainha da sua t-shirt e tiro-a, jogando-a para o lado.
Sem medo, passo os meus dedos pelos seus músculos e desenho linhas invisíveis por cima dos traços pretos das tatuagens. Quero perguntar o que significam, mas não quero falar, só quero sentir.

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora