punição.

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O que faço nesta merda de almoço. Só estou aqui porque a minha mãe pediu.

Devia ter cheirado uma última linha, antes de vir.- penso mas rapidamente me censuro.

Quando cheguei vi logo algo que me fez desejar ter ficado naquele quarto de hotel agarrado a uma garrafa de whisky.
James estava a beijar a minha princesa. Ele estava a tocar nela e ela estava a deixar, assim como disse. Senti o meu coração a ser dilacerado.

Fica sabendo que eu vou aceitar sair com o James e se ele quiser mais eu vou aceitares

Ela o escolheu, assim como disse.
Ainda por cima tenho que ver e calar, o filho da mãe a tocar nela a chamar a sua atenção.
Sei bem o que esta porra de almoço significa. Antes mesmo de sair do carro o meu pai telefonou-me e contou o plano da mãe e do James.
E o filho da égua ainda fala da Raquel como se a puta fosse alguma coisa minha. Como se ele não a tivesse fodido também.
Quer pagar de bom menino. Mas o James não é nenhum santo ele gosta tanto foder, beber e cheirar como eu. Cansamos de organizar orgias, de fumar maconha e causar problemas. E se eu sou sujo ele também é.
Este verme, amigo da onça vai me tirar a minha princesa.

A minha mãe entra na sala seguida pela Madalena e pelo José, ela está tão feliz, a sua menina está prestes a ser pedida em compromisso, como se está merda fosse um conto de fadas. Está mais para um filme de terror.
Mas ela não sabe, ela não sabe o que eu sinto pela Mariana. A minha mãe pensa que o sentimento que eu tinha em criança se transformou em amizade e amor fraterno.
A D. Sílvia ainda me perguntou se eu ainda sentia aquelas coisas estranhas quando estava ao pé da Mariana, mas eu disse que não, que ela era mais uma espécie de irmã.
Só o meu pai é que sabe, ele sabe a dimensão dos meus sentimentos e o tormento que isso me causa.

Levo mais uma vez o copo a boca, o líquido já nem me faz cócegas nas garganta. 

Mariana queres namorar comigo?

Quatro palavras são o suficiente para me causar a maior dor que eu já senti. Não fico para ouvir a resposta, já sei qual será.


Se ele quiser mais eu vou aceitar

E eu sou o único culpado por isso. Porque aquilo que sinto por ela está amaldiçoado. Está fadado ao fracasso.

Entro no meu carro, cego e surdo ao chamados do meu pai. Não quero saber de nada de ninguém só quero deixar de sentir.
Sigo para os subúrbios, para o bar a onde normalmente vou comprar o produto, sei que lá ninguém me vai achar e a onde sei que posso alimentar os meus demônios.

Mal entro no antro, o cheiro a maconha, álcool e suor me atingem. Sento-me num canto não tenho que esperar muito, uma garota vem até mim.

- O que vai ser garotão?- ela impina os peitos na minha direção, o seu tops mal os cobre e os shorts são tão curtos e justos que não deixam nada para a imaginação.

Podias vir aqui e chupar o meu pau e depois deixavas-me foder o teu cu.

Era isso que o velho Miguel diria e não tenho dúvidas que acabaria por fazer. Eu era um puto mesmo, fazia de tudo para a tirar da cabeça, até mesmo foder com esta puta oferecida. Mas o Miguel de hoje, o que está magoado respondo somente que quer um copo de cachaça.
Ela ainda olha para mim na esperança que eu lhe peça que se ajoelhe mas vira as costas e sai rebolando.

Um a seguir ao outro eu vou bebendo o líquido que me queima a garganta. Já perdi a hora, mas não quero saber. Só  quero deixar de pensar que naquele momento ele está a tocar nela, a beijá-la que vai provar o seu sabor,  saber o quanto a sua pele é macia e ouvir os seus gemidos.

- Ei playboy já está na hora de ires embora.- a garota fala do balcão.

- Não, ainda está cedo, acho que vou ficar mais um bocado!- repondo ao olhar para o relógio de pulso.  Isso foi a última coisa que me recordo.

Quando acordo, estou deitado em cima de sacos de lixo no beco atrás do bar. Pela escuridão que está, deve ser tarde. Sinto um cheiro azedo e vejo que sou eu, a camisa está vomitada.
Tento levantar-me mas uma dor de cabeça fulminante dificulta os meus movimentos. Já não sinto os efeitos do álcool mas a dor ainda está lá.
Sigo para o meu carro, entro nele e dó partida.

_________

A água quente queima-me a pele deixando marcas vermelhas mas não me importo, eu mereço esta dor. Eu quero essa dor, eu aceito-a como amiga.

Somente uma dor física para aplacar a dor que sinto na alma, no coração.

Eu mereço

Ela tinha razão, o que sinto pela Mariana é forte demais, já o era quando éramos somente crianças e nem sabíamos o que era.

Um sentimento assim se alimenta da nossa alma, não deixa nada. Queima, abrasa, úlcera todo à sua passagem.

Sinto lágrimas a descer pelo meu rosto. O seu sal amarga na minha boca, e eu desejo que fosse veneno.

Eu mereço

Eu já tentei de todo, eu tentei ficar bêbedo para assim esquecer. Eu fiquei chapado para assim não sentir. Mas mesmo assim ela acaba sempre para encontrar o meu pensamento.

- Miguel, filho!- ouço o meu pai chamar

- Miguel, há quanto tempo estás aí debaixo?- não respondo, porque não sei.

Ele desliga o registo e sinto uma toalha a cobrir os meus ombros.

- Diz-me meu filho, o que se passa?- ele obrigada-me a levantar o olhar.

- É a Mariana, não é? Esse namoro com o James?- o meu pai sabe, ele estava lá quando a bruxa me amaldiçoava. Ele sabia que tudo, por isso me enviou para fora. Para longe dela. Para a proteger e para me proteger.
O que ele não podia adivinhar era que a minha obsessão era mais forte que o seu desejo de proteção.
Ninguém soube que eu coloquei os meus amigos para a seguir. Que ameacei todos para ninguém se aproximar dela. Que mesmo em outro país eu a seguia, que eu ansiava por ela e que a desejava.

Olho para os olhos do meu pai, iguais aos meus.

- Porque que é que doe tanto pai? Faz que passe, que deixe de doer. Não quero amar assim. Ela tinha razão, eu vou enlouquecer. - brinco desesperado. O meu abraça-me.

- A Diana só quis entrar na cabeça de uma criança e destruir o que sentiam um pelo outro. Ela é podre e sempre fui. A Mariana não tem culpa, era uma criança pura, assim como tu eras. Ela só viu que o amor entre os dois era grande demais e aproveitou um momento em que estavas vulnerável para te manipular.

- Eu a perdi. Eu perdi a minha princesa. Ela odeia-me. - choro no ombro do meu pai como um menino

Filha Da OutraOnde histórias criam vida. Descubra agora