Blood Mind | Black Clover

O que um dia se foi

A única garota do esquadrão ia em passos largos até o escritório do capitão Jack junto ao seu colega de quarto, que tentava dar algum apoio moral para que a garota não desistisse de falar com o mesmo. Ao chegarem na porta, ela bateu sutilmente e recebeu a permissão para entrar.

— O que fazem aqui tão cedo? — Jack os olhava um pouco divertido.

Ambos se olharam e Sekke lhe deu um olhar encorajador.

— Pra começar, eu queria pedir desculpas por ontem. — ela dizia sem encarar o capitão.

— Desculpas não vão te fazer melhorar. — ele respondeu com certa hostilidade.

— Nem sempre foi assim. — ela o fitou, ignorando o comentário — Quando eu entrei pro esquadrão da minha irmã eu podia controlar minha magia, mas...

Ela hesitava, ganhando a curiosidade de seu superior.

— Quando meu irmão gêmeo saiu do esquadrão por não achar que estava sendo valorizado, eu perdi o controle. — Rob abaixou o olhar — Funcionávamos como uma balança, ele também perdia o controle da magia longe de mim.

Alguns minutos de um sufocante silêncio tomaram o local, apenas as batidas do coração da garota eram ouvidos.

— Eu não sei o que espera que eu faça com essa informação. — Jack respondeu ríspido, sorrindo debochado — Está aqui para ser treinada, independente do seu passado.

Rob apenas fechou os olhos e suspirou. A fama de Jack de ser um homem frio não eram meros boatos.

— Tudo bem. — ela mordeu sutilmente o lábio inferior, se sentia pior depois de ter relatado isso — Estou saindo.

Ela se vira e sai calmamente do escritório, de cabeça baixa. Foi seguida por Sekke até o lado de fora, onde se sentaram na grama.

— Sinto muito, eu te encorajei a falar. — ele também se sentia mal pela situação.

— Vou encontrar o Ross e vou conseguir controlar novamente isso. — ela mantinha uma fagulha de esperança — Independente do que o capitão achar.

— Arriscado, mas inteligente. — ele sorriu, se levantando — Vamos sair de noite? Acho que não temos nada importante.

— Não vou sair com você, vai ficar paquerando cada garota que passar na nossa frente. — a garota sorriu, arrancando um sorrisinho do outro.

— Quem sabe? Eu posso me comportar na sua presença. — ele a ajudou a levantar — Mas agora precisamos treinar.

Ela assentiu, se distanciando dele.

— Se eu perder o controle, é só ferir minha nuca, é meio que um ponto fraco. — ela disse um pouco mais alto pela distância, começando a subir as mangas da camisa — Está preparado pra tomar outra surra?

— Acho que posso superar ser derrotado por você. — ele piscou para ela, que riu.

— Prefiro caras mais velhos. — ela disse ao abrir o grimório e fazer um corte em seu braço.

Naquela manhã e tarde, Rob não usou nem metade de seu potencial para não perder o controle. Ela conseguiu, de certo modo, manter sua sede de sangue controlada. Da janela, Jack observava seus subordinados treinando, dando um sorrisinho ao ver o esforço de ambos, mas não estava nem perto de estar satisfeito com os resultados.

•••

— Vamos, você disse que iria! — Sekke puxava a outra pelo braço, tentando fazer com que ela se levantasse da cama.

— Mudei de ideia, quero dormir. — Rob estava exausta de tanto treinar.

— A comida é por minha conta. — ele finalmente viu a amiga se levantar — Sua safada interesseira!

— Eu preciso repôr as energias. — ela sorriu, buscando um vestido no armário.

Sekke sorriu e saiu do quarto para ela se trocar. Algum tempo depois, ela saiu do quarto com um vestido até os joelhos, um pouco justo ao seu corpo e na cor salmão junto com sandálias. O loiro a esperava na sala e corou ao vê-la arrumada e sem a máscara.

— Caramba, tá uma gatinha. — sorriu ladino, ganhando um soco na cabeça de leve.

— Você não faz o meu tipo, nem adianta. — alguns outros garotos do esquadrão acabaram rindo da cena.

— E qual é o seu tipo? — eles saíram da base, subindo na vassoura de Sekke.

Rob corou quando sua mente foi diretamente para Jack, mas esvaiu os pensamentos com um aceno de cabeça.

— Não sei, nunca parei pra pensar nisso. — deu de ombros, apreciando a vista de cima.

Eles trocaram mais algumas palavras antes de chegarem a um vilarejo movimentado. Após comerem e beberem em um dos bares, os dois soldados resolveram voltar para sua base antes que o capitão viesse pessoalmente até eles e assinasse suas sentenças de morte.

O quartel general estava silencioso, fazendo ambos entrarem com cuidado e irem até o quarto, onde Rob pegou seu pijama e foi andando silenciosamente para o banheiro no fim do corredor, colocando o blusão que ia até as coxas e um short por baixo.

O que ela não esperava, é que não estaria sozinha em seu retorno.

Jack estava de braços cruzados e uma cara nada boa apoiado na parede quando a mesma saiu do banheiro.

— Boa noite, capitão. — ela arregalou os olhos quando o viu ao sair do banheiro.

— Posso saber quem permitiu a saída de vocês? — ele se aproximou o bastante para que os olhos afiados encarassem até a alma de Rob.

— Não culpe o Sekke, ele só queria me animar. — apesar do medo, a garota não recuou.

— Não me interessa. — ele sorriu maldoso — Você até podia fazer o que quisesse no esquadrão da sua irmã, mas aqui você está no meu comando, entendeu?

Ele estava tão próximo que Rob podia sentir o hálito quente tocando seu rosto. A luz da lua entrava pela janela e deixavam aqueles olhos âmbar ainda mais brilhantes.

— Sim, senhor. — ela respondeu firme — Não irá mais acontecer.

— Acha que eu acredito em uma garotinha mimada como você? — seu deboche era nítido em sua voz — Mal consegue controlar a magia sem o irmão, imagine obedecer a uma simples ordem.

Isso a irritou o bastante para fazer algo no qual se arrependeria. Rob pegou Jack pelo manto e o puxou para si, o trazendo para mais perto.

— Eu sou uma mulher feita, tenho vinte e cinco anos e você, como capitão, deveria saber que a magia está ligada a emoções também. — seu tom era frio, pode-se dizer que mais que o dele — Mesmo que seja meu capitão, não permitirei que me ofenda dessa forma.

— Você não passa de um inseto. — ele sorriu largo, se soltando dela.

— Não subestime os insetos. — a garota disse por fim, se virando para voltar para o quarto.

Ele acabou soltando um risinho, afinal, sua própria frase havia sido usada contra si. Jack não foi atrás dela, apenas se contentou em ir para o quarto e tentar absorver o que havia acabado de acontecer.