Capítulo 17

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Estávamos parados em frente a um velho bar. Ele não era nada convidativo, mas naquele momento talvez fosse o melhor lugar para conseguirmos uma presa fácil.

- Primeiro as damas – San dizia indicando os velhos degraus que davam acesso a porta de entrada do precário estabelecimento.

- Covarde – Eu disse passando por ele e dando um leve empurrão em seu ombro. Ele riu e logo veio atrás de mim. A porta de madeira do bar era velha e o vidro já riscado davam um ar de abandono ao lugar, apenas uma placa de "Aberto" verde, pendurada pelo lado de dentro da porta indicava que algo funcionava ali. Empurrei a porta e pude ouvir um sininho tocar, as pessoas que ali estavam nem sequer tiraram a atenção de suas bebidas ou de suas entediantes conversas para olharem quem havia chegado. San e eu entramos já em busca de uma vitima, desviando algumas mesas nos direcionamos até o balcão de bebidas.

- O que vai ser para o casal hoje? – Um homem careca de bigode preto nos perguntou enquanto jogava no ombro um pano de prato amarelado. Eu e San nos olhamos, mas decidimos não corrigir o erro "casal" do barman, aquilo não importava agora.

- Dois whiskys, por favor – San disse se debruçando sobre a mesa para olhar as opções – Com bastante gelo, e do melhor que você tiver. – Eu já havia me sentado em uma das banquetas em frente ao balcão e observava em um canto do bar dois jovens trocando caricias.

- Olha... – Cutuquei o braço de San que se acomodava em uma banqueta ao meu lado. – Aqueles dois ali. – Indiquei com a cabeça o casal.

- Parecem apetitosos – San cochichou quando o barman se aproximou com dois copos de whisky – Obrigada, esse é por conta da casa – San dizia hipnotizando o homem que assentiu e foi atender um senhor que havia chegado. Peguei o copo de whisky e beberiquei para sentir o quão forte ele era. Eu nunca fui muito de beber, enquanto humana raramente sentia o gosto de álcool em minha boca, apenas demonstrei interesse a esses "prazeres" da vida depois que me tornei quem sou hoje.

- Eles? – San perguntava enquanto eu depositava o copo em cima da bancada.

- Sem duvidas – Eu respondi olhando o casal. A garota loira ria freneticamente de uma piada boba que o garoto também loiro havia acabado de contar.

- Parecem apaixonados né? – San disse se referindo ao casal que agora mais uma vez trocavam caricias.

 - Amores adolescentes são sempre assim – Eu respondi passando o dedo indicador pelas bordas do copo e observando o liquido se mexer juntamente com o gelo. Olhei para San que me fitava intensamente, no fundo eu sabia que ele ainda sentia algo por mim. Desviei o olhar e voltei à atenção ao casal que agora se levantava e ia em direção a porta de saída. – É a nossa chance. – Eu disse virando de uma vez só o restante da bebida em minha boca e me levantando, San fez o mesmo. Saímos do bar procurando pelo casal que agora virava a esquina.

Em menos de 1 segundo eles já estavam em nossas mãos saciando nossa sede.

(...)

Adentramos os portões da casa rindo de coisas sem sentido.E eu quase esqueci que estar com San era isso.Rir de coisas sem sentido, e aproveitar cada instante. É isso que os amigos fazem, e por causa de Joseph quase deixei tudo ir por água abaixo.

Ainda rindo subimos as escadas em direção a porta de entrada para a casa que estava toda escura. Eu não fazia idéia de que horas poderiam ser, mas eu sabia que já estava bem tarde. San abriu cuidadosamente a porta para não fazer barulho, e entramos em silêncio. Ao trancar silencioso da porta, uma forte luz vinda da sala revelou Joseph sentado em um dos sofás fitando eu e San com olhos reprovativos.

- Onde estavam até agora? – Joseph perguntou seco, o ciúme estava estampado em seu rosto. Eu olhei para San que o encarava friamente, ele estava prestes a dizer algo.

- San, suba. – Eu disse antes que suas palavras pudessem sair.

- Não – Ele respondeu sem tirar os olhos de Joseph.

- San – Segurei seu braço – Por favor, suba. – Indiquei as escadas e lancei a ele um olhar de suplica. Ele me olhou e suspirou, virou e subiu as escadas sem olhar para trás.

Agora éramos eu e Joseph.

- Ciúmes de novo Joseph? – Perguntei ironicamente cruzando os braços.

- Você sabe que eu não gosto de você e San juntos – Ele me olhou sem expressão alguma – Principalmente há essa hora. Onde estavam? – Ele repetiu friamente a pergunta.

- Eu não te devo satisfações – Respondi quase tão fria quanto ele. – Pensei que você fosse meu namorado, não meu tio Lúcio – Ele silenciou com a minha resposta. Meu tio Lúcio ficou com a minha guarda depois que meus pais morreram. Ele era muito rigoroso e não aceitava que eu chegasse em casa depois das 21:00, na verdade, ele nem deixava eu sair. Era da escola para casa, da casa para a biblioteca e novamente para casa. As coisas só mudaram depois que dei permissão para que Joseph o hipnotizasse.

- Eu não quis te impor limites – Ele disse se aproximando.

- E nem vai – Respondi dando alguns passos para trás. – Santtory e eu somos amigos e você sabe disso.

- Mas ele não te quer apenas como amiga – Joseph aumentou o tom de voz, seus olhos começaram a ficar vermelhos.

- Se EU... - Disse dando uma certa ênfase no 'EU' - Quisesse ele como algo além de meu amigo, teria escolhido ele ao em vez de você á seis anos atrás. – Joseph suspirou fechando os olhos para se acalmar e levando as mãos a cabeça.

- Me desculpe Lise – Ele disse abrindo os olhos e revelando novamente o verde de sempre. – É que você sabe...

- Olha Joseph – Eu disse o interrompendo – Eu já estou me cansando – Vi espanto em seu olhar.

- Do que você está falando? – Joseph agora correu até mim segurando meus braços.

- De você – Respondi tirando suas mãos de mim e me virando para sair da sala.

- Não – Ele mais uma vez me segurou – Não Lise, por favor, não diga isso. – Ele segurou meu rosto tentando me beijar. Eu desviei seu beijo e empurrei seu peito para longe de mim.

- Me deixa Joseph – Minha voz saiu firme e me virei indo em direção a porta que a pouco havia usado para adentrar a casa.Sai batendo-a com força e ouvindo Joseph quebrar coisas na sala, nem sequer olhei para trás. Não queria pensar em como eu havia o deixado e nem qual seria nesse momento o estado da sala.

Sai pelos altos portões e segui andando pela vazia e escura estrada, eu precisava me acalmar.

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