Dividida

Capítulo 5

A cidade era pequena, algumas casas desbotadas cercavam uma igreja já bem judiada pelo tempo, mais ao lado uma lanchonete, também antiga. Uma praça chamava mais a atenção. Ela ocupava o espaço de uma quadra inteira, seu gramado estava bem aparado e bancos eram espalhados pelo local, flores coloridas cercavam a praça. Parecia a única coisa mais alegre naquela cidade. Estacionamos o carro em frente à lanchonete, uma garçonete loira olhou através da porta de vidro para nós, ela estava encostada em um balcão branco, parecia cansada. Ainda dentro do carro, olhamos três garotos saírem de um pequeno mercado, ao lado da lanchonete. Carregando caixas de cerveja e rindo alto, eles entraram em uma caminhonete branca que estava estacionada alguns metros a nossa frente e em alta velocidade foram embora.

- Vocês acham que tem uma festa envolvida? – San perguntava se referindo aos garotos que acabaram de sair em alta velocidade.

- Só tem um jeito de saber – Joseph disse ligando novamente o carro, e seguindo rapidamente pelo caminho que os garotos tinham feito. Não demorou muito para que os avistássemos parando próximo a uma casa praticamente lotada, carros estacionados ao longo de toda a rua e adolescentes gritando, bebendo e rindo feito doidos. A música era alta e me perguntei onde estariam os pais do responsável por aquela festa.

- Sabia – San disse saltando para fora do carro – Meu faro para festas é ótimo.

- Já sabem o que viemos fazer aqui – Nina disse sorrindo – Bom apetite – Ela disse se virando e indo em direção a casa branca lotada. Eu e Joseph entramos logo atrás dela de mãos dadas observando todo aquele tumulto, alguns adolescentes nos encaravam e pude ouvir duas garotas cochichando sobre Joseph

"Olha aquele gato ali" – Uma garota morena de cabelos pretos e cacheados falou para uma loira baixinha ao seu lado.

"Tá com a namorada" – A loira baixinha disse revirando os olhos

Logo desviei a atenção das duas garotas quando Joseph falou comigo

- Seja discreta Lise, não queremos encrenca – Ele olhou em meus olhos

- Pode deixar – Dei um beijo rápido nele e me virei em busca da minha primeira vitima, minha garganta coçava por conta da sede. Avistei um garoto moreno claro de olhos verdes que me encarava de longe – "Perfeito" – Pensei indo em sua direção, o garoto sorriu de canto deixando um copo de bebida em cima da mesa e se virando para mim quando cheguei bem perto.

- Você vai me acompanhar sem dizer nenhuma palavra – O hipnotizei e me virei saindo para os fundos da casa, o garoto logo atrás de mim parou quando chegamos ao quintal vazio da casa, olhei em volta para garantir que não havia ninguém ali mesmo, então novamente me dirigi ao garoto.

- Você não vai gritar e vai ficar parado – Disse olhando bem no fundo dos seus olhos e me aproximando do seu pescoço, então minhas presas apareceram juntamente com olhos avermelhados, senti o garoto estremecer. O gosto do sangue era maravilhoso, fechei os olhos o sentindo descer pela minha garganta e aos poucos acalmar a coceira que há alguns minutos atrás me incomodava. Aos poucos fui parando e olhei novamente para o garoto que tinha uma expressão de completo pavor no rosto.

- Esquece tudo o que aconteceu. Você nunca me viu. Vá para casa. – Falei observando a expressão assustada do garoto mudar rapidamente. Ele voltou a ter o rosto relaxado e calmo, então se virou e foi em direção à frente da casa, passando pelos outros adolescentes e entrando em um carro prata, ele o ligou e sumiu virando a esquina.

Passei o polegar nos cantos da boca, limpando o sangue que escorria.

- Quero mais – Sussurrei baixinho indo em direção a porta dos fundos, e novamente entrando na tumultuada casa. Olhei em volta – "Quem é o próximo?" – Pensei sarcasticamente.

Andei por entre as pessoas olhando para cada uma delas, procurando uma próxima vítima, alguém que me chamasse à atenção e mais uma vez atiçasse minha sede.

Então eu congelei.

Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou, minha respiração ofegou e senti minhas mãos suarem frio. – Olhei ao redor para garantir que ninguém estava vendo meu estado, então olhei novamente para ele. –"Quem é ele?" – Pensei sentindo que meu coração sairia pela boca quando o olhar dele atravessou o meu.