Capítulo 23

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- Onde estamos mesmo? – Austin perguntou andando logo atrás de mim. A chuva caia mais fraca e o dia já havia amanhecido, alguns poucos raios de sol passavam por entre as nuvens e logo sumiam novamente.

- É por aqui. – Respondi firme. Eu sempre tive um senso de direção muito bom, mas eu não tinha certeza se era aquele o caminho que nos levaria de volta para casa. Todos os anos meu tio me enviava á um acampamento de férias que se localizava nas redondezas da cidade, e nos 6 anos que estive lá, ganhei seguidamente o primeiro lugar em localização em matas.

- Tem certeza? – Ele perguntou andando rapidamente para ficar ao meu lado. – Você mal conhece a cidade.

- Conheço sim. – Respondi revirando os olhos. Não, eu não conhecia, mas ele não precisava saber.

- Vocês vampiros tem tipo um sensor de localização? – Ele perguntou franzindo a testa.

- Não – Respondi parando e olhando pra ele com cara de deboche. – Ótima audição, super velocidade e força sobre-humana. – Cruzei os braços – Mas um "GPS"... – Fiz aspas com os dedos –... Na cabeça, não.

- Nossa... – Ele sussurrou baixinho – Deve ser incrível ser um vampiro.

- Você só mata pessoas inocentes por fome. – Respondi o encarando – Fora isso, é sim.

- Você não me matou. – Ele disse cruzando os braços também.

- Depois de um tempo a gente aprende a manter o controle. – Falei dando de ombros.

- Vocês só se alimentam de pessoas? – Ele perguntou curioso.

- Você não devia assistir crepúsculo – Respondi virando-me para continuar procurando a saída da mata – Esse filme passa algo muito errado sobre vampiros.

- Isso quer dizer que vocês não se alimentam de animais? – Ele perguntou voltando a andar atrás de mim.

- Não – Respondi sem olhar para trás – O sangue dos animais é muito fraco em comparação ao dos humanos. Dois litros de sangue humano equivalem a... – fiz uma pausa para pensar - Todo o sangue de uns 10 cavalos adultos, ou uns 60 coelhinhos. – Dei uma leve olhada para trás. Ele parecia pensar sobre o que eu havia acabado de lhe contar.

- Por que não usa sua super velocidade para encontrar a saída daqui? – Ele perguntou depois de alguns segundos em silêncio.

- E você quer que eu te pegue no colo e corra pela mata? – Ironizei soltando uma leve gargalhada.

- Não – Ele respondeu sério, mas logo deixou escapar um sorriso – Vai procurar que eu te espero aqui. – Fiquei em silêncio pensando na sua proposta.

- Tá certo – Disse por fim – Mas fique exatamente aqui. – Falei autoritária. Eu não queria deixar ele sozinho por conta dos outros vampiros que poderiam sentir seu cheiro, ou daquele cara que ainda não tive tempo para pensar quem, ou o que era.

- Está bem – Ele disse erguendo os braços em sinal de redenção e logo se sentando no chão.

Dei mais uma ultima olhada nele e me virei para a mata. Sai em disparada por entre as árvores, apenas sentindo alguns galhos roçarem em meu corpo. Não demorou muito para eu avistar árvores conhecidas e notar que já estava no quintal de casa. Olhei mais a frente em busca da pedra e lá estava ela, pensei em Verônica e se aquele não seria o horário no qual ela estaria ali, mas a mata estava silenciosa, então deduzi que estivesse vazia.

Virei-me novamente para buscar Austin, mas com um forte empurrão senti meu corpo sendo pressionado contra uma árvore.

- Lise – Joseph me segurava com força – Onde você estava? Eu estava preocupado.

- Eu? – Parei para pensar na resposta – Estava aqui. – Respondi olhando em seu rosto na esperança dele acreditar. – O que houve? – Perguntei logo em seguida notando certa aflição em seu rosto.

- Lilian – Ele abaixou um pouco o tom de voz e olhou para o chão. – Alguém a atacou, e... – Ele ficou em silêncio.

- E...? – Perguntei arregalando os olhos esperando a resposta.

- E ela não está nada bem – Ele respondeu por fim.

- Mas o que aconteceu? Quem a atacou? – Perguntei gesticulando com os braços um tanto nervosa.

- Não sabemos, apenas vimos um homem de sobretudo preto que logo desapareceu. – Ele disse segurando meu braço para tentar me acalmar.

Naquele momento minhas pernas amoleceram e eu ofeguei.

Era o mesmo homem que havia me atacado.

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