Capítulo 29

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Fui amarrada e jogada ao lado de Joseph, eu mal conseguia abrir os olhos.

- Lise... – Joseph sussurrou meu nome – Como você está? – Ele perguntou preocupado.

- Confusa, perdida, fraca... – Olhei para ele – O que ele fez com vocês? – Perguntei olhando alguns cortes que não se cicatrizaram em seu rosto.

- Logo depois que você saiu, escutamos alguns estrondos dentro da casa, as luzes piscavam sem parar, então este homem apareceu. Tentamos atacá-lo, mas ele fez algo que nos paralisou. Quando acordamos estávamos aqui, e estes machucados não cicatrizam-se, não entendo o por que. – Ele disse com a voz fraca.

- Estamos quase sem forças – Suspirei – Não conseguimos curar nossas feridas se estamos fracos.

- Silêncio... – Allébis gritou aproximando-se – Venha. – Ele disse virando-se para a escuridão de uma das entradas que havia na caverna e de lá surgiu uma sombra.

Austin.

Seus olhos vieram de encontro aos meus. Eram os mesmo olhos vazios e tristes que encontraram os meus na noite em que nos vimos pela primeira vez.

- Aqui está ela – Allébis disse sorridente – Consegui. Tenho você, tenho ela, e logo terei minha família de volta.

Austin parou ao lado de Allébis e assentiu com a cabeça.

Como pude ser tão ingênua, tão idiota? Fui enganada. Austin me enganou. Achei que ele era apenas um garoto comum, mas não, era um bruxo. E um bruxo do lado negro, do lado do mal. Meu coração que um dia palpitará por ele, agora sente raiva e nojo. Abaixei a cabeça, as lagrimas correram pelo meu rosto, senti uma dor profunda tomar meu peito. Levantei os olhos para Austin e ele me olhava, a expressão em seu rosto era neutra. Os olhos negros me encaravam, apenas abaixei novamente a cabeça e continuei a choramingar.

- Os outros integrantes do clã Knost já foram convocados e estão a caminho. Está noite, teremos a família completa de volta. – Allébis disse batendo no ombro de Austin sorridente.

- Sim papai. – Austin disse abaixando a cabeça e voltando para a escuridão.

(...)

Meus olhos ainda pesados abriram-se vagarosamente. Senti um delicioso sabor invadir minha boca.

Sangue.

Olhei rapidamente para o que me alimentava e percebi Joseph em minha frente com um pacote de sangue. Ele estava solto e os machucados em seu rosto haviam sumido. Continuei a beber o sangue que nunca tinha parecido tão saboroso.

- Onde conseguiu? – Sussurrei enquanto arrebentava as cordas que me prendiam.

- Não faço idéia, apenas achei alguns pacotes ao meu lado à hora que acordei. – Ele disse baixinho.

- Psiu – Ouvimos – Venham – Nina sussurrou fazendo um sinal para nós.

- Venha – Joseph me ajudou a levantar – Vamos embora daqui. – Ele soltou um sorriso doce e confiante, eu podia acreditar firmemente em suas palavras.

Saímos em disparada para fora da caverna. Pude sentir o ar frio da noite bater em meu rosto, o que eu mais queria era ir embora dali.

Mas uma força nos puxou de volta.

- Onde vocês pensam que vão? – Allébis disse.

- Nos deixe em paz – San gritou pulando em cima de Allébis.

- Nãããoo – Nina gritou e em um piscar de olhos San estava caído no chão. Com a cabeça separada do corpo.

- Seu desgraçado – Gritei indo em sua direção mas Joseph me segurou.

- Calma morceguinha – Ele gargalhou. – Quem me atacou foi ele, eu apenas me defendi. – Com sua magia, Allébis nos arrastou novamente para fora da caverna, agora para um lugar específico. Próximo a um penhasco. Uma grande fogueira iluminava o local. Algumas pessoas cercavam o lugar. Homens, mulheres e crianças. Todos aguardavam pelo momento em que eu daria meu sangue para a pedra ser aberta.

- Aqui está, família... Elise Feel. – Ele disse aproximando-se de todos. As pessoas que ali estavam começaram a rir e a aplaudir – Silencio. Devemos manter respeito neste momento tão importante.

- Você disse que os soltaria se eu desse meu sangue – Gritei o interrompendo – Honre sua palavra.

Allébis virou-se para mim e revirou os olhos.

- Está certo, cumprirei minha palavra – Ele assentiu – Mas só depois do ritual ser feito. Não quero que ninguém atrapalhe esse momento – Ele gargalhou acompanhado dos demais bruxos que estavam no local.

Allébis aproximou-se da fogueira ainda arrastando eu, Joseph e Nina. Todos os bruxos deram as mãos e formaram um circulo ao nosso redor. Então ele nos jogou bruscamente no chão e começou a dizer palavras em alguma linguagem estranha, os demais bruxos o acompanharam. Olhei ao redor e pude perceber ao lado da fogueira a pedra.

- Como eles trouxeram a pedra? – Sussurrei para Joseph e Nina.

- Não faço a mínima idéia – Nina disse tentando recompor-se – Pensei que a pedra era protegida. – Então me lembrei que a guardiã da pedra havia sido morta. Pobre Verônica, não merecia o destino que teve. Joseph pegou na minha mão, então eu o olhei. Entre os cabelos bagunçados e o rosto sujo de terra surgiu um leve sorriso.

- Eu te amo Lise – Ele sussurrou para mim. Um sorriso surgiu em meu rosto e uma lembrança invadiu minha mente, quando ele disse que me amava pela primeira vez. Meu coração batia tão forte que eu o sentia e sem pensar duas vezes o beijei. E era isso que eu faria agora, aproximei-me de Joseph e o beijei de uma maneira que talvez eu nunca o tenha beijado antes.

- Eu também te amo – Sussurrei entre os beijos. Como pude um segundo sequer duvidar do que eu sentia por Joseph? Ele era o amor da minha vida.

- Chegou a hora Elise Feel. – Allébis interrompeu o beijo segurando meu braço e me arrastando para perto da fogueira.

Joseph gritou enquanto eu me perguntava se seria esse meu fim.


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