Capítulo 22

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Ele me olhava um tanto assustado e fascinado.

Já fazia quase 1 hora que eu estava ali explicando para ele todo o meu mundo. A todo momento ele me interrompia com duvidas do tipo "Você reflete no espelho?" ou "O que o alho faz em você?".

Na verdade, as únicas coisas que nos afetam são verbena, estacas no coração e o próprio sol. Mas contra ele temos a nossa 'tatuagem'. Nem crucifixos nos fazem mal, apesar de ter muitos boatos sobre isso. Outras duvidas que Austin tinha era sobre a alimentação e a hipnose.

Eu não queria me arriscar e arriscar Austin. Os outros poderiam voltar da caça que já estava demorando bastante, ou aquele cara quem eu não fazia idéia de quem era poderia aparecer novamente, então sai das proximidades da casa para conversar com ele. Fomos pela mata até encontrar um riacho. Sua correnteza estava forte por conta da chuva que há pouco tempo cessara.

- Agora você já sabe quem eu sou. – Respondi cabisbaixa chutando algumas pedras que estavam no meu caminho.

- Você só não me respondeu por que decidiu se tornar vampira – Ele perguntou me encarando. Ele tinha razão, quando ele me perguntou o porquê de eu ter me transformado, eu mudei de assunto. Não queria ter que falar sobre Joseph, mas agora seria preciso.

- Joseph – Respondi sem o olhar.

- Como? – Ele parou de andar.

- Joseph – Repeti parando também e olhando para ele.

- Quem é Joseph? – Ele perguntou

- Lembra quando eu falei que tinha namorado? – Ele assentiu – É eu tenho namorado.

- Então não era só uma desculpa para você me afastar. – Ele disse encarando o nada atrás de mim.

- Eu e Joseph nos conhecemos a um bom tempo - Continuei sem dar muita atenção ao "drama" de Austin – Me apaixonei. Descobri quem ele era. Decidi ficar com ele para sempre. – Eu disse vendo uma estranha expressão surgir no rosto dele.

- Para sempre? – Ele perguntou franzindo a testa.

- Esqueci de falar que vivemos para todo o sempre – Disse coçando a cabeça. – A gente só morre mesmo se enfiarem uma estaca em nós.

- Mas não tem um tempo exato? Tipo viver 200 anos e morrer? – Ele perguntou completamente confuso.

- Não – Respondi calmamente – Dizem que existem vampiros com mais de mil anos. – Dei de ombros – Mas não conheço nenhum.

- Você tem quantos anos? – Ele perguntou

- Eu me transformei quando tinha quase 19. – Respondi vendo interesse em seu olhar – Tenho uns 24 agora.

- E o seu namorado? – Ele perguntou seco.

- 264 anos – Respondi dando de ombros.

- Que velho – Ele disse num tom de deboche.

Apenas revirei os olhos dando um leve sorriso e voltando a andar pela trilha ao lado do riacho. Austin me acompanhou. Ele começou a fazer perguntas sobre como é se transformar. Fui respondendo até o assunto acabar e o silêncio predominar sobre nós dois. Eu ouvia a respiração de Austin e as batidas calmas de seu coração, aquilo me dava uma sensação de paz.

- Então vai ficar com ele por toda a eternidade? – Ele perguntou me deixando um pouco surpresa.

- Foi minha escolha – Respondi olhando para ele, que não desviava a atenção da trilha.

- Não tem como você mudar ela? – Ele perguntou ainda olhando para frente.

- Como assim? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

- E se você pudesse mudar sua escolha? – Ele parou e se virou para me olhar – Não ficar com ele por toda a eternidade?

- Eu me transformei justamente para ficar com ele – Respondi o encarando – Não teria porque eu desistir agora.

- Nem que se apaixonasse de novo? – Ele disse num sussurro. Aquelas palavras me queimaram por dentro. O seu olhar pairava por mim, era como se ele soubesse tudo que eu sentia.

- Eu amo Joseph – Respondi tentando não olhar em seus olhos.

- Ama mesmo? – Ele riu – Então porque nos beijamos? – Ele perguntou cruzando os braços – Porque tem tanto medo de me machucar? Não sente NADA por mim?

Fiquei em silêncio com os olhos arregalados e com um nó na garganta. Eu não sabia o que responder.

- Em? – Ele disse dando um pequeno passo na minha direção – Me diga...

Um alto som de trovão seguido de uma forte pancada de chuva interrompeu Austin. Olhei para ele e me virei para correr em direção a mata, ele veio logo atrás de mim.

Em silêncio agradeci aos céus por terem mandado aquela chuva na hora certa.

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