Final de maio, Navegantes
Saio no desembarque do aeroporto e corro até meus pais.
— Daniel, meu amor.
— Ô meu filho.
Eles me beijam.
— Bem-vindo de volta. — diz a minha mãe.
— Depois de quatro anos, enfim de volta. — diz meu pai.
Acabei de concluir o meu MBA.
— É tempo, né? Mas parece que foi tão rápido. — digo.
— Não pra mim, mocinho. — diz a minha mãe. — Isso mesmo que tenhamos ido te visitar lá.
— Aniversário de 26 longe, 27, 28, 29, e agora o de 30 de volta aqui. — diz meu pai.
— Uma hora eu precisava voltar, mesmo que não seja pra ficar. Vamos pra casa?
— Pra casa! — eles dizem pegando nas minhas mãos, saímos todos de mãos dadas do aeroporto.
Entro no carro e pego meu celular, vendo mensagens do Paolo.
Paolo: Chegou?
Essa mensagem de uns minutinhos atrás.
Daniel: Cheguei.
Paolo: Ótimo. A viagem foi tranquila?
Daniel: Ótima.
Paolo: Você sabe que tá repetindo o outono, né?
Daniel: Kkk, não? Tô sabendo só agora.
Paolo: Sabia.Recebo uma mensagem do Axel. Nesses meses que se passaram nós não perdemos contato nem por um dia.
Daniel: Vou responder o Axel.
Paolo: Ui. Vai lá.Axel: Chegou direitinho, Daniel?
Daniel: Cheguei.
Axel: Como tá o Brasil?
Daniel: Um pouco friozinho, na verdade.
Axel: Me mande uma foto do que tiver de interessante.
Daniel: Muitas praias.
Axel: Gosto.
Daniel: Que bom.
Axel: Então você não vai estar na Europa durante o seu aniversário de 30 mesmo?
Daniel: É quase certeza que não.
Axel: Ia ser o seu primeiro aniversário comigo de amigo.
Daniel: Vamos fazer assim, quando você fizer 30 em 2028, eu prometo que vou estar contigo.
Axel: Ó, eu não vou esquecer, hein.
Daniel: Agora já está prometido. E outra, eu posso ir pra Hamburgo de novo te ver.
Axel: É minha vez de ir te ver. Você vai estar de volta no verão, não é?
Daniel: Vou, provavelmente em Berlim.
Axel: Aí, menos de duas horinhas de trem.[...]
Toco a campainha da casa da Elaine.
— Daniel! — ela diz surpresa e feliz de me ver.
— Oi!
Ela me dá um abraço apertado.
— Quanto tempo, meu filho.
— É mesmo.
— Eu sabia que você voltaria um dia. Entra, querido.
Entro e ela fecha a porta.
— Desculpa aparecer de supetão. Eu queria fazer uma surpresa.
— Não, que isso, a sua visita é algo que eu rezava todos os dias pra voltar a receber. Eu amava quando você estava aqui com o Humberto.
Sorrio.
— Era tão bom, né, Elaine.
— É, pois é. Você tratava meu filho como um príncipe.
— Nada menos do que ele era. Cadê o Geraldo?
— Ah, ele foi bu... — ela se interrompe.
— O quê?
Ela sorri travessa.
— Nós também temos uma surpresa pra você. Geraldo já tá chegando.
Assinto.
— Quer um cafezinho?
— Claro.
Vou com ela até a cozinha.
— Sua mãe deve estar orgulhosa pelo seu MBA.
— É, meu pai também. Mas eu acho que foi bem importante pra mim, ter um propósito em meio a depressão.
— Realmente.
Minutos depois ouvimos o barulho de um carro encostando.
— É o Geraldo.
Fomos até a sala, e lá eu vi uma foto do Geraldo e da Elaine com o... Puta merda!
— Esse é o Pedrinho?!
Os dois entram juntos em casa.
— Daniel? — o Geraldo me vê.
O Pedrinho me olha como se visse um fantasma. Ele tá enorme, deve ter 14 anos, um adolescente, né.
— Daniel...!
Ele vem até mim, mas ao invés de me abraçar, começa a me dar tapas nos braços.
— Por quê? Por que você me abandonou? O que eu fiz pra você, Daniel?
— Ei, calma, calma.
Seguro os braços dele, então o mesmo me abraça e chora no meu peito.
— Você me abandonou...
Não aguento e choro também.
— Me desculpa, eu sinto muito por isso.
Sento no chão com ele.
— Eu não queria te deixar triste, mas eu tava sem rumo e perdido depois da morte do Bebeto.
— E como você acha que eu fiquei? Eu perdi ele e você sumiu, pronto, eu tinha perdido a minha família de novo!
— Eu sinto muito mesmo por ter te deixado sem aviso. Eu só pensei na minha dor e nem te apoiei, me desculpa mesmo, garoto. Você me perdoa?
Ele funga e seca as lágrimas.
— Perdôo. A mamãe me disse pra te escutar quando você aparecesse.
— Mamãe? — olho pra Elaine, que sorri.
— E papai. — diz o Geraldo.
— Eles me adotaram, Daniel. O sonho do Bebeto era me adotar, mas como não pôde, agora eu sou o irmãozinho dele.
— Ah, meu Deus.
Abraço ele forte.
— Ele não podia ter um irmãozinho melhor, garoto.
Paro pra ver o rosto dele.
— Tá quase crescendo barba, hein. Ah, Pedrinho, eu não parei de olhar pra foto da gente junto com o Humberto.
— Eu sempre durmo abraçado com aquela foto.
— Eu vejo tanto dele em você, Pedrinho. — diz a Elaine.
— Mamãe, é tão bom ouvir isso.
— Elaine, que coragem mais bonita. É mais do que a coragem que eu não tive pra ficar aqui.
— Daniel, como te dissemos na época, a gente entende. — diz o Geraldo.
Sorrio sem graça.
— Nós ficamos perdidos assim como você, e adotar o Pedrinho deu mais um propósito pra nossa vida.
— Eu acreditava que tinha perdido a minha família mais uma vez depois que o Humberto se foi, mas eu entrei pra família dele.
— Exatamente.
Continua...
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Perdido (Romance Gay)
RomanceDaniel é um jovem metade brasileiro e metade alemão, o mesmo perde o namorado num ato de violência na virada do ano e vai tentar a vida na Europa. Será que ele encontrará o amor novamente?