Quase um mês se passou, essa semana os arruaceiros que mataram o Bebeto foram pro presídio, todos foram indiciados a 30 anos de prisão. Eu chorei de raiva e ainda mais triste, porquê isso não vai trazer meu menino de volta.
No trabalho as coisas apertaram, por várias vezes eu precisei ir chorar no banheiro, e eu sinto uma dor emocional estonteante o tempo todo. Eu nem consigo sair na rua, todos os lugares me lembram de momentos que tive com o meu Bebeto, e eu simplesmente desabo.
— Mãe! — entro em casa e abraço ela rapidamente, chorando alto no ombro dela. — Não dá, mais. N-não dá.
— Meu amor, calma. Se acalma, por favor.
Me acalmo aos poucos.
— Tudo me lembra dele, mãe.
— Eu sei, meu anjo, eu sei. — ela limpa minhas lágrimas, mas ela mesma está com os olhos cheios de água.
— Não vou aguentar ficar aqui, eu não tenho capacidade.
— O que você quer fazer?
— Eu vou pra Alemanha.
— Assim?
— Eu preciso, mãe. Eu tô definhando.
— Você emagreceu também.
Minha barriga ronca e eu sinto uma coisa ruim.
— Hm!
— Daniel, eu vou fazer uma coisa pra você comer.
— Não, eu não...
— Você quase desmaiou agora. Não discute, filho.
Mais tarde eu fui falar com a Elaine e o Geraldo.
— Agora vocês estariam noivos, né, Daniel? — a Elaine diz com um sorriso triste.
— Se ele aceitasse, sim.
— Daniel, era capaz dele tomar uma coça se não aceitasse. — diz o Geraldo e eu dou um risinho.
— Sem dúvida que ele teria aceitado. — diz a Elaine.
— Elaine, Geraldo... Eu vou embora.
— Hã?
— Eu vou pra Alemanha, não consigo ficar aqui com todas as lembranças do Bebeto, elas estão em todo lugar daqui até Balneário. Por favor, não me entendam mal, mas eu realmente não vou conseguir.
— Tá tudo bem, Daniel.
— A gente entende, filho.
— Obrigado por avisar, querido. A gente ama você.
— Você foi a melhor coisa que aconteceu pro nosso garoto, a gente fazia muito gosto no relacionamento de vocês.
As lágrimas descem e eu limpo.
— Obrigado pelo carinho que vocês sempre tiveram comigo. Mas olha, a gente não precisa perder contato, vocês são meus segundos pais.
Eles me abraçam.
— Nós fazemos questão de nos despedirmos de você no aeroporto.
— Tá bom.
Depois de lá fui no hotel falar com a Fatinha.
— Oi, Daniel. No que eu posso ajudar?
— Fatinha, eu vim pra me demitir.
Ela faz uma expressão triste.
— Eu tava com medo que você dissesse isso.
Ela pega nas minhas mãos
— Você tá passando por uma situação difícil, eu entendo.
— Sim, é muito difícil. Todo lugar me lembra do Bebeto.
— Deixa eu te dar um abraço?
Assinto e levanto, então ela levanta e me dá um abraço apertado.
— E agora, como vai ser a sua vida?
— Eu não sei. Mas onde eu sei, na Alemanha, ou qualquer lugar da Europa.
— Poliglota como você, né...
Sorrio.
— Eu te desejo toda a felicidade do mundo, Daniel, você é um menino de ouro. Você é iluminado, garoto.
— Esses quase sete anos que eu trabalhei aqui foram iluminados.
— E, olha, não esquece da gente, tá?
— Com certeza.
De volta em casa, sento no sofá e abro meu computador.
— Tenho que comprar as passagens.
— Você tem que devolver seu apartamento pro senhorio. — diz minha mãe.
— Isso é o de menos.
Ela senta do meu lado.
— Você vai ficar em Berlim? — ela pergunta quando eu coloco o nome da cidade no site.
— Acho que não, mas vou passar um tempinho com a tia Heidi e o tio Herbert.
— Eles certamente vão adorar te receber. Mas, depois você vai pra onde?
— Eu não sei, mãe. Eu só quero ficar longe daqui.
— Tô preocupada de você ficar sozinho...
Continuo a busca pelas passagens.
— Em três semanas. — olho pra minha mãe.
— Tá bom, né... Assim você tem tempo de empacotar suas coisas e tirar do seu apartamento, além de entregar a chave.
Assinto.
— Pode deixar que eu pago a passagem pra você, filho.
— Obrigado.
[...]
Tá quase no dia da minha viagem, resolvi vir até o cemitério ver a lápide do Humberto.
— Meu amor, eu, uh... Eu vim me despedir de você.
Sento na frente da lápide.
— Eu não sou capaz de ficar aqui com todas as lembranças da gente, é tão doloroso... Eu prefiro lembrar de tudo e de você com mais paz. Claro que isso vai demorar um tempo, mas é melhor longe daqui.
Choro um pouco.
— Queria tanto casar com você, Bebeto, não consigo aceitar que não vou poder. Eu não consigo respirar sem você, mas eu preciso.
Passo a mão na foto dele.
— Eu vou te levar no meu coração, pra sempre, amor.
Continua...
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Perdido (Romance Gay)
RomanceDaniel é um jovem metade brasileiro e metade alemão, o mesmo perde o namorado num ato de violência na virada do ano e vai tentar a vida na Europa. Será que ele encontrará o amor novamente?