Capítulo 8

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Depois de pegar o carregador que vim buscar, decido beber um copo de água, tentando diminuir o suor que escorre pelas minhas costas.

O dia não estava tão ensolarado quando saímos, mas se tornou uma dificuldade enorme caminhar pelas ruas sem deixar o sol quente me afetar.

Sentindo o alívio da água gelada pela minha garganta, eu lavo o copo que usei e deixo o mesmo no escorredor ao meu lado.

De repente, escuto batidas na porta da frente e acabo franzindo a testa, porque as pessoas que vem aqui não costumam bater na porta.

Saio da cozinha quando escuto mais batidas impacientes ecoando pela casa toda e chego na porta o mais rápido possível.

Abro a porta e me surpreendo ao ver um rosto desconhecido na minha frente.

XXXX- oi- digo, sorrindo levemente.

Ele apenas me encara de volta e isso acaba me assustando um pouco, mas tento não demonstrar.

XXXX- posso ajudar em alguma coisa?- pergunto, estranhando sua expressão.

XXX- ah, desculpa- fala, balançando a cabeça levemente- não queria te assustar- acrescenta.

XXXX- tudo bem- falo, mas continuo com um certo receio.

Um clima desconfortável se instala entre nós dois e ele não demora muito pra perceber.

XXX- meu nome é Vinícius- se apresenta- eu vim buscar uma encomenda pro MD- explica e eu franzo a testa.

XXXX- pra quem?- questiono, confusa.

Vinícius- pro chefe- responde, mas continuo sem entender- ele disse que a Eve recebeu- fala.

XXXX- bom, eu não sei nada sobre encomenda- digo- mas se você quiser entrar e ver se acha alguma coisa- ofereço, dando um passo pro lado.

Vinícius- valeu- diz, sorrindo.

Ele entra e passa por mim, então eu o sigo, mas mantenho a porta aberta.

Vejo seus olhos analisarem cada canto da sala ao nosso redor, procurando por algo específico.

XXXX- você sabe o que está procurando?- pergunto, cruzando os braços.

Vinícius- não- responde, depois de alguns segundos em silêncio- na verdade, não- acrescenta, rindo levemente.

Acabo rindo também, atraindo seu olhar e percebendo a intensidade com que seus olhos me encaram.

Ainda não entendo muito bem o que ele está procurando em meu rosto, mas sei que, se eu deixar ele continuar me analisando, isso pode levar um bom tempo.

Eu olho ao redor, tentando achar o que ele precisa e acabar com esse clima estranho o mais rápido possível.

Meus olhos fixam em uma pequena cestinha na mesa embaixo da televisão enorme.

Me aproximo da mesma, sentindo o olhar do homem me acompanhar a cada movimento.

Quando chego perto o suficiente, percebo que a cestinha está cheia com papéis de vários tamanhos.

Pego um envelope que está no topo da pilha de papéis e analiso o mesmo.

XXXX- qual o nome do homem que te pediu pra vir?- pergunto, voltando a encará-lo.

Vinícius- é o chefe- responde, ainda me deixando confusa.

XXXX- bom, vê se não é isso que ele quer- falo, me aproximando dele novamente.

Alcanço o envelope pra ele, que pega o mesmo da minha mão e encara o papel à sua frente.

Vinícius- é isso- diz, assentindo.

Ele levanta sua cabeça novamente e me encara, com um pequeno sorriso no rosto.

Vinícius- valeu- diz e eu acabo sorrindo levemente também.

XXXX- que bom que pude ajudar- digo, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Ele acompanha meu rápido movimento com os olhos, começando a me deixar nervosa por estar me encarando dessa maneira desde que abri aquela porta.

Vinícius- ah, bom, eu vou indo- diz, balançando a cabeça- obrigado mais uma vez- acrescenta, sorrindo.

Eu assinto, depois observo enquanto ele se aproxima da porta de entrada e passa pela mesma.

Solto um suspiro, sentindo o clima tenso e estranho ir embora com ele.

Fico confusa sobre o jeito que ele me analisou a cada segundo, parecendo interessado em cada coisa que eu fazia.

Balanço a cabeça, deixando de lado os pensamentos que invadiram minha mente nos últimos segundos e vou em direção à cozinha.

Pego o carregador e volto pra sala, saindo pela porta da frente logo em seguida.

*Miguel narrando*

Fecho o notebook à minha frente e respiro fundo, cansado depois de algumas horas sentado aqui.

Ouço a porta da sala abrir e olho na direção da mesma.

Miguel- e ai, cara- falo, vendo ele se aproximar.

Assim que ele para na minha frente, me entrega o envelope que estava segurando.

Vejo a expressão no seu rosto e percebo que tem algo de errado.

Miguel- o que foi?- pergunto, curioso.

Vinícius- acabei de vir da casa da sua mãe- responde- a mina que tava lá, é a mesma que encontramos na entrada do morro, não é?!- pergunta.

Miguel- é- afirmo.

Ele respira fundo e passa a mão pelo cabelo, parecendo nervoso.

Miguel- por que tá assim?- pergunto, impaciente.

Vinícius- ela é muito parecida com a Mel- responde, voltando a me encarar.

Percebo a dor no seu olhar ao falar dela e a dúvida se devo contar pra ele o que descobri, toma conta da minha mente.

Vinícius- quando eu a vi aquele dia, não percebi- fala- mas os olhos dela...- tenta falar, mas não consegue completar a frase.

Sei que não é fácil pra ele lembrar e, muito menos, falar sobre ela. E por isso, decido que esse não é o melhor momento pra contar a verdade.

Miguel- você devia ir pra casa- sugiro, vendo seu olhar confuso me encarar- tira o resto do dia de folga e bota a cabeça no lugar- acrescento, cruzando os braços.

Vinícius- eu tô bem- fala, se recompondo- vou voltar ao trabalho- acrescenta, decidido.

Eu permaneço em silêncio e o observo se afastar de onde estou, indo em direção à porta.

Miguel- aí, Lima- chamo e ele para de andar, me encarando por cima do ombro- não deixa isso te atormentar, cara- falo, observando cada reação sua.

Depois de poucos segundos parado, ele finalmente passa pela porta, fechando-a logo em seguida.

Eu solto um suspiro e passo a mão pelo rosto, apoiando meus cotovelos na mesa.

Sei que ele não superou e que pensa nisso todos os dias desde que aconteceu, mesmo que tenha muito tempo.

Não conseguir ajuda-lo, me deixa frustrado e irritado ao mesmo tempo, mas sei que não posso simplesmente obrigá-lo a esquecer.

Pego o envelope à minha frente e rasgo o papel frágil com o meu nome escrito bem na frente.

Observo o segundo papel que encontro dentro do envelope, lendo cada palavra com atenção.

Assim que meus olhos passam por uma frase específica, acabo deixando o papel escorregar pelos meus dedos.

Coloco a mão na boca, enquanto tento processar as informações escritas na folha à minha frente e, ao mesmo tempo, sem acreditar no que acabei de ler.

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