Operação Cega

Capítulo 22

Caminho pela rua, sentindo o sol deixar todo o meu corpo quente em questão de segundos.

Observo as pessoas ao redor, parecendo cansadas e acredito que o final de semana estar acabando seja o motivo.

Vejo algumas crianças jogando futebol e um pequeno sorriso surge no meu rosto ao vê-los rindo muito.

Sou pega de surpresa ao sentir um impacto de um corpo contra o meu.

Melanie- ah, desculpa- digo, olhando pra pessoa à minha frente.

Não consigo disfarçar a expressão em meu rosto, então, meus olhos arregalados e minha boca levemente aberta demonstram minha total surpresa.

Letícia- olha por onde anda- fala, atraindo o meu olhar.

Analiso o seu rosto com alguns hematomas a mais do que eu me lembro de ter deixado e percebo que, diferente de suas amigas, ainda tem seu cabelo comprido e saudável.

Vinícius- aí, Mel- escuto sua voz e olho sua direção- tudo bem?- pergunta, chegando até onde eu estou.

Sem responder a sua pergunta, eu volto meu olhar para as garotas, mas percebo que já não estão mais aqui.

Observo as três seguirem o seu caminho enquanto conversam entre si.

Melanie- o que foi que aconteceu com elas?- pergunto, voltando a encara-lo.

O garoto loiro solta um suspiro e cruza os braços.

Vinícius- elas sabiam as consequências- diz, encolhendo os ombros.

Levanto as sobrancelhas ao ouvir sua resposta e não demoro para entender exatamente o que quis dizer.

Melanie- ele fez isso?!- pergunto, mesmo não precisando de uma confirmação- é isso que iria acontecer comigo?- acrescento.

Vinícius- é assim que vivemos por aqui- fala, depois de mais um suspiro- você só não se lembra- acrescenta, me deixando sem palavras.

Então, fico em silêncio, desistindo de falar sobre esse assunto já que, aparentemente, isso é normal por aqui.

Vinícius- onde você tá indo?- pergunta, me analisando de cima abaixo.

Melanie- ah, eu vou treinar um pouco- respondo- sabe, pra tentar me lembrar de alguma coisa- explico.

Vinícius- ah, claro- fala, assentindo.

Melanie- e você?- decido perguntar, tentando evitar o silêncio desconfortável mais uma vez- está trabalhando?- acrescento.

Vinícius- na verdade, meu turno acabou a dez minutos- responde.

Eu assinto, sem saber o que dizer, mas ele não deixa o silêncio se instalar por muito tempo.

Vinícius- bom, eu vou indo- fala, se afastando- até mais, Mel- se despede, virando as costas pra mim.

Melanie- espera- digo, vendo-o parar e olhar na minha direção- você quer ir comigo?- pergunto.

Vejo a expressão de surpresa surgir no seu rosto e um pequeno sorriso ao mesmo tempo.

Melanie- quer dizer, se não estiver muito cansado- digo, percebendo que ele trabalhou a noite toda.

Vinícius- tá tranquilo- fala, se aproximando novamente.

Então, resolvo retomar o caminho que estava fazendo antes, enquanto ele caminha ao meu lado.

...

Sinto o cansaço tomar conta do meu corpo, enquanto desvio de todas as suas tentativas de me acertar.

É mais difícil manter a respiração regulada quando tenho um oponente real.

Mantenho o ritmo de desviar dos seus golpes e tentar acertá-lo logo em seguida, mas ele também é bom nisso.

Por um segundo, meus olhos encaram mais uma vez a pequena letra que marca a pele abaixo do seu pescoço e esse momento de distração é o suficiente pra ele me prender entre seus braços.

Vinícius- nunca baixe a guarda- diz, prendendo meus pulsos com as suas mãos.

Melanie- eu sei- digo, levemente irritada- me distraí por um segundo- tento explicar.

Vinícius- se distraiu?!- diz, apoiando sua cabeça no meu ombro- com o que?- pergunta, sussurrando no meu ouvido.

Eu sinto meu coração acelerar mais um pouco, mas tento ignorar essa sensação.

Penso em como posso sair dessa situação e uma ideia passa pela minha mente.

Então, eu encosto meu corpo um pouco mais no seu e, por estarmos sem camisa, sinto o quão quente sua pele está.

Viro a minha cabeça na sua direção, mantendo pouca distância entre nossos rostos e encaro seus olhos.

Melanie- quer mesmo saber?!- pergunto, sussurrando levemente.

Vejo a surpresa em seus olhos e, quando suas mãos suavizam o aperto em meus pulsos, aproveito para derruba-lo.

Em poucos segundos, estamos no chão e eu coloco meu braço contra seu pescoço.

Melanie- você perdeu- digo, com um tom de vitória na voz.

Vinícius- você jogou sujo- rebate, tentando esconder o seu sorriso.

Melanie- não seja um péssimo perdedor- falo, sorrindo.

Ele balança a cabeça negativamente e agora consigo ver seu sorriso aumentar.

Demoro pouco tempo pra perceber que já posso sair de cima dele e me levantar, então é isso que eu faço logo em seguida.

Passo as mãos pela minha calça, percebendo que está mais suja do que eu pensava.

Tento regular a minha respiração, enquanto sinto o cansaço dominar meu corpo e olho pro garoto à minha frente.

Fico confusa ao perceber que as batidas do meu coração continuam aceleradas, mas continuo tentando regulariza-las.

Evelyn- eai, gente linda- escuto sua voz e olho na sua direção- nossa, vocês tão imundos- comenta, assim que para à nossa frente.

Vinícius- valeu, Eve- fala, pegando a sua camisa e arma do chão.

Evelyn- eai, já perdeu pra ela?- pergunta, olhando pro garoto parado à minha frente.

Eu acabo rindo e olho na direção dele também.

Vinícius- eu peguei leve- fala, com um pequeno sorriso no rosto.

Observo a expressão de deboche no rosto da garota e acabo rindo de novo.

Melanie- qual é, Alex?!- digo, rindo ainda- não vai aceitar a derrota?- pergunto, cruzando os braços.

Assim que meus olhos encaram seus rostos mais uma vez, percebo as expressões sérias e surpresas me encarando de volta.

Poucos segundos depois, percebo o que acabei de falar e desfaço meu sorriso aos poucos.

Desvio meu olhar pro chão e continuo paralisada enquanto minha mente procura desesperadamente alguma lembrança.

Evelyn- Mel- me chama depois de alguns segundos.

Eu olho na sua direção, ainda completamente confusa e percebo a dúvida no seu rosto.

Então, antes que qualquer um dois consiga me fazer a pergunta que nós três estamos pensando agora, eu mesma a faço.

Melanie- quem é Alex?!- digo, confusa.