Capítulo 23

11 0 0
                                    

Melanie- eu juro que passei os últimos minutos tentando me lembrar- digo, passando pela porta- minha cabeça já está doendo de tanto que eu procuro por qualquer memória- acrescento, andando de um lado pro outro na frente da sua mesa- mas não dá, eu não consigo- tento completar a frase.

Miguel- calma aí, mina- diz, levantando da cadeira- do que você tá falando?- pergunta, confuso.

Eu respiro fundo e organizo a ordem dos acontecimentos na minha cabeça antes de começar a falar.

Melanie- eu estava conversando com o Vinícius e a Eve- começo a explicar, com calma- e, de repente, eu falei um nome- digo, me lembrando de algumas horas atrás- Alex- conto.

Vejo sua testa franzir ainda mais, enquanto cruza os braços.

Miguel- quem é Alex?- pergunta, ainda mais confuso.

Melanie- eu não sei- digo, um pouco mais alto do que eu esperava- eu não faço a menor ideia de quem seja Alex, mas eu falei o nome dele- acrescento, sentindo a frustração me atingir.

Passo a mão pelo rosto e solto um longo suspiro.

Miguel- beleza- diz, atraindo o meu olhar- isso pode ser bom- comenta e eu franzo a testa.

Melanie- bom?!- pergunto, confusa.

Miguel- é- afirma- sua memória tá voltando aos poucos- diz, se aproximando de onde eu estou- e essa nova informação talvez me ajude a descobrir algo sobre o seu desaparecimento- acrescenta, encolhendo os ombros.

Eu penso rapidamente por esse ponto de vista e percebo que ele tem uma certa razão.

Melanie- é, você tá certo- concordo.

Sua expressão parece suavizar ao perceber que estou mais calma agora e percebo seus olhos me analisarem de cima abaixo.

Miguel- onde você tava?- pergunta, franzindo a testa ao ver minhas roupas sujas.

Melanie- treinando- respondo, passando as mãos na minha camiseta, tentando limpa-la- com o Vinícius- acrescento.

Vejo seu olhar de surpresa, mas ele tenta disfarçar, então cruza os braços e volta pra sua mesa.

Miguel- vocês tão se dando bem?!- diz e fico em dúvida se isso foi uma pergunta.

Melanie- sim- digo- ele é...- tento achar a palavra certa durante alguns segundos- divertido- acrescento.

O homem não fala mais nada e percebo que talvez isso seja um sinal para que eu saia.

Melanie- eu vou indo- digo, indo em direção a porta.

Miguel- espera- fala, me fazendo parar- eu te levo- sugere, vindo na minha direção.

Melanie- na verdade, ele está me esperando ali fora- digo, fazendo ele parar de se aproximar- mas obrigada- agradeço.

Tenho a impressão de que seu olhar contém um certo incômodo, mas não tenho certeza.

É muito difícil decifrar as expressões desse homem.

Eu decido me virar e passar pela porta, indo em direção ao garoto que me acompanhou até aqui.

...

Evelyn- oi- diz, atraindo a minha atenção.

Melanie- oi- digo, surpresa- pensei que não fosse voltar hoje- comento, enquanto ela se aproxima.

Evelyn- pois é- concorda- eu também pensei- acrescenta, se acomodando na cadeira à minha frente.

Eu analiso a expressão em seu rosto e percebo que há algo errado, então empurro o prato na sua direção.

Melanie- acho que tá precisando disso- comento, alcançando uma das colheres que estava em cima da mesa pra ela.

Ela assente e pega a colher da minha mão, depois começa a comer.

Evelyn- desde quando você sabe fazer brigadeiro?- pergunta, curiosa.

Melanie- sua mãe gastou um bom tempo me ensinando hoje mais cedo- explico.

Evelyn- falando nisso, onde ela tá?- pergunta, olhando ao redor.

Melanie- eu não sei- respondo- ela disse que ia ver uma amiga- acrescento, encolhendo os ombros.

Evelyn- amiga?!- fala, com os olhos estreitos- ela foi é ver homem- acrescenta, com certeza no tom de voz.

Eu acabo rindo com o seu comentário, enquanto nós seguimos comendo o doce no prato à nossa frente.

Evelyn- então- fala, atraindo meu olha- você e o Vini estão mais próximo, né?!- pergunta, sem olhar na minha direção.

Melanie- é- afirmo- ele é muito legal comigo- digo, com um pequeno sorriso no rosto.

Percebo um sorriso surgir no rosto dela, mas seu olhar ainda está fixo na mesa.

Melanie- pode me contar?- pergunto, finalmente atraindo seu olhar.

Evelyn- o que?- rebate, confusa.

Melanie- como eram as coisas- explico- antes do meu desaparecimento- acrescento.

Ela analisa atentamente meu rosto por alguns segundos, parecendo indecisa se deve ou não fazer o que eu pedi.

Evelyn- todos nós éramos inseparáveis- começa a contar- a gente se protegia, confiávamos uns nos outros com as nossas vidas e, quando um tinha algum problema, a gente sempre resolvia- diz, parecendo se lembrar- mas algumas coisas mudaram quando você desapareceu- acrescenta, mudando a expressão em seu rosto.

Melanie- como assim?- pergunto, curiosa.

Evelyn- começamos a brigar mais- responde- a gente colocava a culpa em nós mesmos e passamos um bom tempo sem muito contato- explica.

Melanie- como aconteceu?- questiona.

Evelyn- você tinha dormido na casa do Vini, como costumava fazer- responde, depois de um suspiro- mas quando ele acordou na manhã seguinte, você tinha sumido- acrescenta.

Eu levanto as sobrancelhas, mas não sei o exato motivo pra estar surpresa.

Talvez seja pelo fato de sermos tão novos e passar as noites juntos, mesmo sem saber o que acontecia nessas noites.

Ou, talvez, seja por outro fato que acabei de perceber ao ouvir as palavras dela.

Melanie- ele se sente culpado, não é?!- digo, sentindo um pequeno aperto dentro do meu peito.

Ela não me confirma se o que estou dizendo é realmente verdade, mas pela expressão em seu rosto, não preciso que faça isso.

Evelyn- alguns anos depois, a gente já não tinha esperança- continua contando- sabíamos que as chances de você estar viva eram muito pequenas- acrescenta- mas ele nunca pensou assim- diz, abrindo um pequeno sorriso no seu rosto- sempre acreditou que você voltaria e, bom, ele tava certo- completa.

Fico realmente abalada com tudo o que ela acabou de me contar e agora entendo o motivo dele agir estranho desde que descobriu quem eu sou.

Melanie- não acredito que vocês sofreram tanto por minha causa- comento, sentindo uma pequena culpa crescer dentro do meu peito.

Evelyn- você é uma de nós, Mel- diz, me encarando fixamente- é da família- acrescenta.

Eu lanço um pequeno sorriso na sua direção e desvio o olhar do seu.

Não consigo evitar os diversos pensamentos que atingem a minha mente de repente.

Tenho que descobrir por que eu não voltei antes. Preciso saber o motivo de ter ficado tanto tempo longe e eles também precisam.

Operação CegaOnde histórias criam vida. Descubra agora