3 - Lídia

41 6 0
                                    


— Não me recordava que a balsa só fazia a travessia para a ilha aos sábados — confesso a Otávio, enquanto ele manobra pela estreita estrada que se afasta das docas. — Minha vinda foi um impulso, sem muitos planos.

— A senhorita teve sorte então.

— Talvez o universo conspirasse para que eu estivesse aqui — digo em tom de brincadeira.

— Sem dúvida, senhorita — ele concorda, lançando-me um olhar pelo retrovisor. — Tanto o universo quanto a ilha.

— O que o faz dizer isso, Oto?

— A senhorita sempre trouxe vida a este lugar com sua alegria.

Um sorriso me escapa ao recordar as incontáveis festas de verão que promovia no casarão da família, agora meu.

— É muito lisonjeiro de sua parte dizer isso, Oto, mas... desta vez, vim em busca de reflexão, para apreciar minha própria companhia. E, claro, desfrutar das delícias da casa do amor — suspiro, saudosa. — Como sinto falta do meu lar! E os funcionários, como vão? Espero que Rosário ainda prepare aqueles bolinhos de robalo que tanto adoro.

Otávio hesita antes de responder, um silêncio que me alerta que algo não está como deveria.

— Então... a senhorita realmente não sabe? — Oto indaga, com uma sombra de preocupação dançando em seus olhos.

— O que houve, Oto? — questiono, mantendo a impaciência sob controle.

— A casa do amor, veja bem, não é mais a mesma. Desde a sua ausência, as coisas tomaram um rumo inesperado.

— Impossível! Meu marido ficou responsável por... — interrompo meu pensamento, deixando a frase inacabada.

É óbvio agora! Meu marido. Será que após os eventos recentes eu ainda poderia depositar minha confiança nele? Quando foi que ele mereceu minha confiança, afinal? Busco na memória o instante em que, aos vinte e oito anos, me permiti ser ofuscada ao ponto de unir minha vida à de um aprendiz de coaching.

Desvio o olhar, afastando as reflexões amargas.

— Quem mais continuou?

— Somente eu, senhorita — Oto responde, sua voz tingida de tristeza. — Suponha que me tornei o caseiro, o limpador... e, após anos, o motorista novamente.

Inspiro profundamente, pressionando a mão contra os lábios, enquanto contenho, mais uma vez, a fúria que meu marido desperta, mesmo distante milhas e milhas. Que inferno!

— Me perdoe por isso, Oto. Prometo que as coisas vão melhorar — murmuro quase inaudível. E não sei se falo para ele ou para mim mesma.

Otávio, no entanto, parece entender.

— A senhorita não tem que prometer nada, dona Lídia. Sua presença aqui já é o suficiente para me alegrar.

Um sorriso brota em meus lábios com sua gentileza. Otávio sempre foi um homem doce, gentil e extremamente leal. Agora, sinto-me completamente desleal a ele e a todos que deixei para trás após meu casamento. Minha fuga, para ser mais precisa.

Eu deveria ter vindo para cá para descansar, para me esconder dos sentimentos turbulentos causados pela confusão com Ed, mas eles me perseguem, não importa para onde eu vá.

Otávio então toma a estrada principal, que serpenteia ao redor de uma imponente rocha cinzenta, e do outro lado, tudo o que se vê é a praia, agora envolta pela noite, e uma parte da vila ao longe, com suas pequenas casas brilhando como estrelas. Vistas daqui, elas parecem flutuar umas sobre as outras. Este lugar é um verdadeiro encanto.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora