6 - Lídia

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Despertei antes mesmo do nascer do sol, antecipando a chegada dos trabalhadores. São cinco da manhã e já me encontro de pé, imersa em uma ansiedade matinal duplamente justificada. Hoje marca o fim das reformas na mansão, e embora eu admire o resultado — e o mar de homens musculosos andando de um lado para o outro —, anseio por uma pausa. Além disso, a expectativa de compartilhar um café com Oto no coração da cidade, onde a vida pulsa, me anima.

Escolho um short de malha adornado com cajus, uma camiseta branca e um quimono com a mesma estampa do short, solto os cabelos e arremato com óculos aviador. Aqui, posso desfilar tanto produzida quanto ao natural, sem atrair olhares curiosos ou julgamentos sobre minha maquiagem, ou a falta dela.

Oto me espera, concentrado em seu celular, e ao buscar o meu, sou assaltada pela memória do que lhe fiz naquele primeiro dia. Agora, com um pouco mais de sanidade, a lembrança me causa choque, e Oto, percebendo minha inquietação, lança-me um olhar preocupado.

— A senhorita está bem?

Hesito antes de responder, percebendo apenas agora a extensão do meu ato impulsivo.

— Acabei de lembrar que lancei meu celular contra as rochas. Uma decisão nada sábia, é claro, que além de prejudicar o meio ambiente, me deixa sem comunicação. — O olhar compreensivo de Oto só intensifica minha frustração. — Eu sei, devo parecer uma mulher à beira de um colapso, e nada pode desculpar minha infantilidade.

— Não, senhorita, isso só prova que você tem sentimentos. Entendo perfeitamente, a senhorita estava em carne viva quando chegou aqui, e ainda está. Não há vergonha nenhuma nisso.

Ele realmente me enxerga, o que é ainda mais impressionante. Ninguém nunca vê, não quem eu realmente sou. A Lídia, a empresária refinada e impecável, é quem todos reconhecem. Mas a Lídia verdadeira, vulnerável e insegura, que aprendeu a esconder suas emoções... essa, acho que ninguém nunca viu. Exceto Oto. E ele ficou três anos sem me ver pessoalmente, mas mesmo assim...

Esboço um sorriso tímido e me apresso em direção à porta, lutando contra a vontade de chorar, porque chorar não é uma opção para mim. Jamais.

***

Caminhamos pelas ruas vibrantes da cidade, onde a noite nunca dorme e a vida pulsa forte no coração da ilha. O centro fervilha de atividade; pescadores gritam com suas redes repletas, e um deles exibe um robalo enorme, que brilha como ouro sob a luz do sol, arrancando olhares de admiração dos transeuntes.

— Olha só, o Cisco fisgou um gigante! — exclama uma criança, chamando as outras para verem a cena.

A prosperidade trazida por uma longa noite de pesca refletida nos rostos satisfeitos dos pescadores.

Nas ruelas estreitas, ladeadas por paralelepípedos, as barraquinhas de souvenires, vestimentas e ervas locais já estão a todo vapor, prometendo encantos e segredos aos visitantes.

Entretanto, é a chegada de uma frota de caminhonetes que captura minha atenção; reconheço os trabalhadores da construtora, que se dirigem à minha residência. Meu olhar percorre cada rosto até que encontro o dele. Benjamim, com sua camisa de proteção UV negra e mangas longas, e o eterno boné virado para trás, está casualmente magnífico. Ele está tão despretensiosamente lindo, que eu abro um sorriso involuntário, e totalmente idiota.

Mas isso não passa de carência. Isso sim! Já faz um bom tempo que não sinto o calor de uma atenção masculina, e o gesto dele ontem foi tão... doce, que inevitavelmente me fez vê-lo sob uma nova luz.

Baixo o olhar, censurando-me por um breve momento, mas não resisto e o elevo novamente, droga, é como se houvesse um imã entre nós. Preciso me libertar desses devaneios. As caminhonetes desaparecem ao longe e sinto um alívio me invadir.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora