1 - Lídia

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Uma onda de calor sobe pelo meu corpo, e a sensação de traição é quase palpável. Nunca imaginei que seria traída dessa forma pelo homem que jurou ser meu parceiro. Apesar dos desafios dos últimos anos, a ideia de que ele pudesse cometer um ato tão traiçoeiro nunca me passou pela cabeça.

— Fantástico! — papai exclama, girando no escritório com um entusiasmo que atrai os olhares de todos. — Edgar, você superou todas as expectativas, meu filho! — Ele o envolve em um abraço caloroso, depositando um beijo afetuoso no topo de sua cabeça.

— Foram dias de tempestade — papai diz, limpando a garganta. — Mas vencemos, somos pioneiros na exportação para Dubai. Uma conquista histórica!

Desfaço o cruzar de braços, exausta de ser apenas uma espectadora, e me aproximo deles, que celebram um triunfo que só foi possível porque sacrifiquei mais do que deveria, até mesmo a essência do que é viver.

— É gratificante ver o senhor tão contente — falo, embora com uma ponta de amargura. — Preferiria ter compartilhado essa notícia eu mesma...

— Ah, querida — papai me corta, com um sorriso que não alcança os olhos. — Você teve uma sorte imensa com esse homem, e eu estou genuinamente feliz por tudo! Agora posso me aposentar em paz, sabendo que a empresa está em boas mãos.

Sinto um vazio no peito ao ouvir essas palavras, mas antes que possa digeri-las, papai anuncia.

— Sim, é verdade, Edgar assumirá a Vinícola Capelle no próximo ano!

Perco o equilíbrio no salto, quase caindo. Os funcionários aplaudem e felicitam o homem que, em breve, deixará de ser meu marido. Olho para meu pai e depois para Edgar, que ao menos tem a decência de parecer tão surpreso quanto eu. Ele começa a falar, mas é interrompido por papai, que se volta para mim.

— Não é maravilhoso?

— Eu... mas eu me dediquei tanto... — tento expressar minha indignação, mas as palavras me falham.

— Sim, você se dedicou bastante, demais eu diria, e agora é o momento de confiar na gestão do Edgar — diz papai, com um brilho de entusiasmo nos olhos. — Isso te dará a liberdade para se voltar às alegrias da vida pessoal, aos filhos que virão, ao lar... você se desdobrou em demasia. Será um novo capítulo, um bem para ambos. Vocês verão.

Enquanto ele prossegue, sinto um misto de incredulidade e revelação. Será que ele não percebe o que construí aqui? Ou seria essa uma maneira sutil de diminuir minhas conquistas, passando as rédeas para alguém menos merecedor?

Me aproximo, mantendo a voz firme, porém baixa:

— Renunciei a tanto para que nossa vinícola alcançasse esse patamar. Minha dedicação foi o alicerce de nossos maiores triunfos. Poderia ter sido apenas a herdeira que aguarda sua parte de braços cruzados, mas escolhi liderar, estar à frente de cada decisão, e é assim que sou recompensada?

Lanço um olhar furtivo a Ed, que suspira e arqueia uma sobrancelha, demonstrando impaciência. Seu olhar de compaixão me irrita ainda mais. Entre todas as suas atitudes, a forma como ele me subestima, como se minhas palavras fossem menores, é o que mais alimenta meu desprezo.

— Valorizo seu empenho — papai contina, ecoando a condescendência de Ed. — Mas não cabe a você ditar como ou para quem passarei o comando da empresa. Além do mais, estou te concedendo uma graça. Em breve, o desejo pela maternidade falará alto em você, querida, e você ansiará por tempo. Portanto, veja isso como um presente.

— Nunca pedir por presentes, e a ideia de que, por ser mulher, meus sonhos se limitam à maternidade é um absurdo. Mesmo que desejasse ser mãe, poderia ter uma prole e ainda assim dirigir este lugar com mais competência do que vocês dois juntos! — Rebato, apontando para meu pai e Ed.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora