8 - Lídia

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Permaneço na varanda, a brisa marinha dançando com meus cabelos enquanto admiro o mar e a mesa de café da manhã que acabei de arrumar. Acomodo-me na cadeira, servindo-me com prazer, deixando de lado as frutas em favor do suco de melancia e do pão fresco com geleia de morango, cujo aroma se espalha pelo ar. Olho para tudo o que fiz com admiração. Faz muito tempo que eu não paro para fazer uma mesa como essa. Uma prática perdida na rotina automática que me consumia.

Por tanto tempo, movi-me sem pausa, automaticamente, sem saborear os momentos que a vida oferecia. Nos últimos três anos, viajei por inúmeros lugares, mas raramente vivi verdadeiramente.

Observo Oto partindo no carro, acenando em resposta ao meu gesto. Ele parece mais sereno hoje, uma mudança bem-vinda após a surpresa de ontem, quando soube quem seria nosso novo caseiro. Digamos que meu motorista teve um ataque de nervos ao ouvir a notícia.

— Com o perdão da palavra, mas a senhorita enlouqueceu? Esse rapaz... a senhorita não faz ideia de quem contratou.

Seu comportamento me surpreendeu completamente, afinal, sua elegância e sutileza na hora de demonstrar desaprovação passaram bastante longe. Pela primeira vez eu o via tão exacerbado.

— Calma, Oto. Você está muito tenso, meu amigo.

— Mas eu preciso que a senhorita compreenda.

— Oto, eu entendo. — Toquei em seu braço.

— Exatamente! — Fez uma pausa, confuso. — Espere, o quê? Como assim "entende"?

— Boo me contou. Eu sei sobre o Benjamim. Eu entendo.

— Oh! Ah! É... então... a senhorita sabe. — O choque brilhava em seus olhos.

— Sim, eu sei.

Ora, o que pode ser tão terrível em um homem que cumpriu sua pena? Ele não pagou à sociedade por seu erro? As prisões não existem justamente para isso? Pelo que observei, Benjamim se mostra um homem refeito, e Boo deposita nele uma confiança inabalável. Isso não deveria ser suficiente?

— E mesmo assim...

— É, eu acredito que ele merece uma segunda chance — eu disse. — Contudo, Oto, não peço para que goste dele, mas Benjamim é meu funcionário agora. Você compreende?

Ele concordou com um aceno, mas o ceticismo em seu olhar era evidente. No fundo, eu ansiava que minhas próprias dúvidas se dissipassem, pois precisava acreditar que havia tomado a decisão certa.

A confirmação, no entanto, veio mais tarde, quando fomos ao encontro de Benjamim na garagem que ele chamava de lar. Ao entrar no seu espaço, sob os protestos de Oto e Benjamim, a realidade da sua miséria me atingiu em cheio.

O local estava em ordem, é verdade, mas tudo cheirava a mofo e... tristeza. O colchão da cama era tão fino que delineava o formato do pallet que o sustentava. Ele revelou que vivia assim há um mês e que, não fosse pela oportunidade de trabalho na casa do amor, provavelmente passaria o resto de sua condicional naquele estado.

Benjamim trouxe consigo apenas uma mochila e, ao questionar sobre o paradeiro de seus pertences, ele me encarou com uma vulnerabilidade que me desarmou, deu de ombros e disse que tudo o que possuía estava ali, naquela mochila. Naquele instante, tive a certeza de que contratar Benjamim fora a decisão correta. E com isso, reafirmei minha crença de que raramente me engano quando confio em meus instintos.

A Vinícola Capelle que o diga. Meu casamento também é um exemplo de lapso, de quando permiti que opiniões alheias guiassem minhas escolhas.

Benjamim desapareceu desde a noite passada. Imagino-o na adega, entregue à primeira tarefa que lhe confiei ao chegarmos, ou talvez esteja aproveitando o conforto de sua nova casa. Conhecendo seu antigo lar, não poderia culpá-lo por tal escolha.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora