11 - Benjamim

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Estou trabalhando na mansão há duas semanas. Desde a conversa com a madame, trocamos poucas palavras, e todas soaram profissionais. Ela se distanciou, e eu respeitei isso, mantendo também a minha distância.

Eu odiei quando ela sugeriu que eu saísse com outras pessoas. E odiei ainda mais quando ela disse que faria o mesmo. Mas, ao mesmo tempo, seu conselho e a agonia de ficar longe acabaram me mostrando que a madame também é afetada por mim. E sei que não deveria, mas não consegui parar de pensar nisso.

Mesmo de longe, me peguei admirando aquela mulher, enquanto ela estava na piscina ou brincava com aquele cachorro atrevido. Dona Lídia acabou adotando o safado.

Agora, o cachorro tem uma coleira com seu nome, tomou banho no pet shop e chegou ostentando uma gravata azul, se sentindo o dono do lugar. Ele dorme dentro da mansão, e não duvido que esteja dividindo a cama com ela. Sorrio só de imaginar a cena.

A madame tá toda encantada por aquele animal, e eu me sinto um pouco bosta por ter inveja de um vira-lata.

Hoje, Dona Lídia me pediu para dar uma geral na área de lazer, então tô aqui, focado em deixar a piscina limpa. Percebo quando Otávio estaciona o carro e, de relance, vejo mais dois caras descendo com ele, trazendo caixas.

Largo o aspirador e vou dar uma mão, mas paro no meio do caminho quando vejo que um dos caras é o Raul. Ele tem uma distribuidora de bebidas e é um tremendo rato, além de não ir com a minha cara; o que não é novidade nessa ilha.

— Sem confusão, hein? — Otávio alerta, ao olhar de Raul para mim. — Então, Raul, se quiser continuar com o serviço de hoje, é melhor ficar quieto.

— Desde que esse verme não chegue perto de mim nem das minhas coisas, tá tudo certo. — Raul cospe no chão, perto de mim, e vai em direção à área de lazer.

Otávio me olha, soltando o ar devagar, tentando se manter tranquilo. Ele tá se esforçando, e isso já é o bastante para mim.

— Os rapazes da organização devem chegar logo — ele me informa. — Pode orientá-los?

— A fazer o quê? — pergunto, ainda sem entender direito.

— Dona Lídia não falou com você sobre a festa de hoje? — Ele coloca a mão no quadril e me encara, estreitando os olhos por causa do sol.

Nego com a cabeça e passo o dorso da mão na testa para secar o suor. Otávio solta uma gargalhada e toca no meu ombro, ao dizer:

— Se prepare, grandão. Hoje a patroa vai dar uma festa que promete ser inesquecível.

***

Em questão de minutos, a casa que estava totalmente silenciosa, agora parece o pátio do presídio na hora do sol. Pessoas correm de um lado para o outro, tentando arrumar tudo o mais rápido possível. Ninguém quis minha ajuda, deixaram isso bem claro ao me xingarem quando Otávio não estava por perto. Tive vontade de arremessar as caixas de bebidas em alguns desses hipócritas, mas depois de olhar em volta e ver o mar batendo contra as rochas, percebi que nunca mais quero voltar a morar em uma cela. Então, cedi. E para evitar problemas, peguei uma cadeira e me sentei na entrada da minha casa.

Uma hora depois, a madame chega. O cachorro salta do carro primeiro e começa a circular pelas pernas das pessoas, como se inspecionasse o trabalho de cada um. Isso me faz rir.

Mas é a madame que me faz remexer todo por dentro. Ela radiante, usando um vestido longo amarelo, com um decote que me faz engolir em seco. Eu não tinha visto ela sair de casa essa manhã, eu só a vi ontem quando me deu as tarefas para hoje.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora