20 - Benjamim

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Eu estava indeciso sobre ir ao festival. Sabia que minha presença não seria bem-vista, e a tensão entre Lídia e eu desde a última noite era visível, qualquer otário enxergaria. Parecia que cada passo positivo que dávamos juntos logo se desfazia em algum desentendimento. Não queria causar a porra de uma cena constrangedora na festa, ser o centro das atenções negativas ou alvo de insultos.

Mas foi só vê-la partindo com Otávio, que eu percebi que não podia mais deixar as coisas da forma como estavam, e algo em mim mudou. Ela tava toda linda, deslumbrante, e eu desejei estar por perto. Os minutos se arrastaram e com eles veio a compreensão de que eu poderia enfrentar qualquer olhar de desaprovação ou palavra de merda, desde que pudesse estar ao lado dela, conversando ou pelo menos observando seu sorriso ou seu jeito de andar. Eu havia prometido não recuar, e ir ao festival era a prova de que manteria minha palavra.

Porra, eu já tinha mesmo perdido tudo na vida, e de repente Lídia me enxergou. Não qualquer mulher, A LÍDIA! Qualquer esforço era pouco para ficar com ela, e se houvesse uma chance de ela me querer, eu não desperdiçaria sentindo pena de mim mesmo.

Nós dois caminhamos lado a lado pela praia, o som das ondas se chocando contra a areia é o único ruído no silêncio da noite. Deixamos o festival para trás, junto com a multidão e a música alta. Malandro corre à nossa frente, brincando com a espuma do mar. Lídia segura seu cosmopolitan em um copo descartável, e eu, com minha garrafa d'água ainda fechada, sinto o peso da sobriedade nas minhas mãos.

— Quer? — ela pergunta, erguendo o copo em minha direção.

— Não, valeu.

— Você não bebe? Não gosta de álcool?

— Não é questão de gostar. Se eu beber, posso violar minha condicional. E isso não vale a pena.

— Entendi, faz sentido — ela diz com um aceno de cabeça. — Mas sabe que eu jamais diria algo, não é? Se quiser só relaxar um pouco... — Ela faz uma careta e balança a cabeça, como se estivesse repreendendo a si mesma por ter oferecido. — Desculpa, isso foi irresponsável da minha parte. Estou sendo uma péssima influência.

Ela torce o lábio num gesto de autocrítica e balança a cabeça, como se quisesse afastar o próprio pensamento, e eu deixo uma risada escapar.

— Eu fui preso, fiz parte de uma gangue e você que é uma péssima influência?

— Eu deveria estar te ajudando, e não sendo uma facilitadora. Certo?

— De facilitadora você não tem nada, Lídia — devolvo com um sorriso torto. — Mas não se sinta na obrigação de me ajudar, apesar de eu ser grato por tentar fazer isso.

Ela para de sorrir e desvia os passos até uma rocha lisa perto do paredão que sustenta o calçadão, que fica a bons metros acima de nós. Seu olhar se perde no horizonte. Sigo a madame e observo cada movimento seu enquanto ela se acomoda sobre a rocha, a luz da lua desenhando sombras suaves em seu rosto. Me ajeito ao seu lado, desabotoando dois botões da camisa numa tentativa de encontrar alívio para o calor. Lídia prende os cabelos apressadamente, seus dedos tremendo levemente, revelando sua inquietação, ou talvez seja o efeito da bebida se iniciando. Malandro nos lança um olhar curioso antes de se decidir pelas ondas do mar como sua distração.

Tem algo me incomodando, martelando minha cabeça, quase explodindo desde ontem quando as coisas pareciam começar a dar certo entre nós. Quando ficou claro para mim que Lídia parece traumatizada com o seu ex-marido, e com o fim agitado do seu casamento.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora