4 - Benjamim

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A empreiteira está um caos só. Todo mundo correndo para as caminhonetes, carregando equipamentos, enquanto gritam uns com os outros pedindo pressa. Parece que vai acontecer algo grande.

Minha barriga ronca, não comi quase nada hoje, mas parece que a fome vai ter que esperar. Preciso garantir um lugar em... seja lá o que estiverem prestes a começar.

— Vamos, pessoal! A dona pediu urgência! — Um dos homens grita.

Ajusto meu boné, virando a aba para trás e me preparo para ir até o escritório do Boo, mas antes que eu consiga dar o primeiro passo, ele surge apressado, carregando um saco de cimento. Corro até ele e ajudo com o peso, jogando sobre meu ombro.

— O que tá rolando?

— O casarão dos Capelle vai ser reaberto.

— Ah. — Engulo em seco, lembrando bem dos verões em que os Capelle vinham para a ilha, especialmente de um deles. — E tava fechado?

— Sim, desde o casamento da filha do Sr. Capelle.

Não sabia disso. E de muitas outras coisas, claro. Faz sentido, eu tinha só dezoito anos quando fui tirado daqui direto pra prisão. Hoje, aos vinte e sete, parece que uma vida inteira aconteceu sem mim.

— Eles tinham vinhedos, né?

Despejo o saco de cimento na caçamba de uma das caminhonetes.

— Ainda têm. Os maiores. Melhor a gente se apressar, se você quiser ter a chance de ganhar uma garrafa de vinho hoje.

— Eu vou?

— Não quer?

— Não! Quer dizer, claro que quero, mas o senhor não vai ter problemas em me levar até aquela casa? — Limpo o suor da testa com a palma da mão.

— Eles não devem se lembrar de nada, faz anos que aquela família não pisa nessa praia esquecida. Eles têm mais com o que se preocupar, garoto.

— Se o senhor tá dizendo... — Pulo para dentro do carro.

Não tenho ideia de como esse dia vai terminar, mas sei que agora, nesse momento, tenho um trabalho. Ou pelo menos a ideia de um, e é nisso que vou me apegar.

***

O casarão parece um pouco diferente do que me lembrava. Continua lindo, o mais bonito da ilha, de verdade, mas agora parece meio perdido entre as ervas daninhas. Até o chafariz está tomado pelo lodo. Não sabia que os Capelle tinham deixado esse lugar, todos eles pareciam adorar aqui. Especialmente ela.

— Dona Lídia!

— É "Lily" para você, Boo.

Boo passa por mim, dando trombando no meu ombro, e eu dou um passo à frente, mas fico em silêncio observando os dois. Dona Lídia dá um abraço rápido em Boo, e eles começam a discutir o que precisa ser feito na casa. Enquanto isso, ajudo os outros a descarregar os materiais das caminhonetes, olhando na direção deles de vez em quando.

Ela está ainda mais bonita do que na última vez que a vi, há nove anos. Com mais curvas no corpo, os lábios mais cheios e cabelos mais longos, mas a cor preta, intensa pra caralho, permanece a mesma. Pra mim, ela sempre foi como Cleópatra, sua beleza era de viciar qualquer um, na minha visão de moleque. Parece que continuo o mesmo, no fim das contas.

Mas, ao contrário de mim, ela tá mais madura, não só na aparência, mas também no jeito como se comporta. Mais reservada e segura. É como se estivesse carregando o mundo nos ombros, só que ela faz isso com uma elegância que falta no resto de nós. Talvez essa seja a única diferença entre a nova e a antiga Lídia, aquela que eu conheci anos atrás. A Lídia de antes não ligava pra nada, enquanto a de agora parece querer manter tudo sob controle.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora