2 - Benjamim

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Esse é o meu décimo dia sentado nessa cadeira, e mesmo sabendo que não vou ter chance alguma, estou há quase quatro horas aqui. Imóvel. Esperando. Eu sei que não vou conseguir nada nessa ilha, eu sei disso, mas não posso ir a outro lugar, e não tenho alguém a quem recorrer. Então eu permaneço onde estou, porque também sei que, se algum milagre acontecer, esse é o lugar por onde ele virá.

Eu só quero me movimentar, fazer alguma coisa útil, juntar algum dinheiro... sobreviver. Não é pedir muito, certo?

Eu preciso disso. Preciso muito, droga.

Alguns caras passam por mim, completamente sujos de lama e com seus capacetes amarelos da B&B firmes em suas cabeças, e vão direto para o vestiário. Mais um grupo vem na minha direção, e riem ao me ver.

— Esse aí aprendeu a sentar direitinho com os caras lá de dentro — diz um deles.

Os outros voltam a rir. Seguro firme na borda da cadeira e abaixo a cabeça.

Não posso me deixar levar por esses idiotas, ou por qualquer outra pessoa. Então, mantenho a calma e respiro fundo. Não posso ser o que eles pensam que sou. Não posso voltar a ser quem eu era.

— Está bem, meninos, sejam úteis e saiam daqui. — Levanto a cabeça e vejo o Boo. — O que você está fazendo aqui de novo?

Ele me encara com os braços cruzados sobre a barriga saliente de cerveja. Ele está tão sujo de lama quanto os outros, mesmo tendo uns setenta anos e sendo o dono da construtora, Boo nunca deixou de trabalhar duro. Ele me observa com olhos cansados e depois se aproxima.

— Tô esperando — digo, pulando da cadeira.

— Rapaz, já te falei. Não posso prometer nada.

— Mas o senhor também não disse que não.

— Eu sei, mas...

— Não tenho mais o que fazer.

Boo conhece todo mundo nesta ilha e costuma ser a pessoa a quem todos recorrem quando têm um problema, qualquer que seja. Se ele não me ajudar, ninguém mais vai.

— Certo, certo. — Ele me analisa, coçando a cabeça. — Temos um problema no esgoto da companhia de água, que fica nos limites da ilha. Acho que não tem problema você trabalhar lá. Os garotos vão ficar quietos, ninguém vai saber.

Faço uma careta.

— O que é, rapaz? É nojento demais para você?

— Não é isso. Eu agradeço a chance. É só...

— É, eu sei. É uma merda das grandes. — Ele faz uma pausa e ri. — Eu não quis fazer essa piada. Mas... dê tempo ao tempo, rapaz. Logo as pessoas vão esquecer. Elas sempre esquecem.

— O senhor esqueceu? — devolvo. Boo puxa o ar, mas não deixo que responda, não sei se quero saber a resposta. — Quanto é a diária?

— Quarenta reais — ele diz. — E vai ser só por hoje. O serviço é rápido. Agora arrume-se, os garotos vão para lá em quinze minutos.

Eu disse, esse é o lugar dos milagres.

***

Estou na traseira da caminhonete, coberto de lama e merda. Passei a tarde inteira desentupindo um cano de esgoto que leva à vila principal, junto com os outros caras que estão sentados ao meu lado. O cheiro aqui dentro é repulsivo, mas combina comigo. Com o que todos sentem quando olham para mim.

A picape sacode e todos reclamam, batendo na janela do motorista. Mas quando entramos na estrada com vista para a praia, tudo melhora. O vento leva parte do mau cheiro, e a visão daquele pôr do sol alaranjado compensa o esforço. De tudo que perdi nos últimos anos, esse pôr do sol foi o que mais senti falta. Assim, passo o resto da viagem admirando a paisagem, distraído.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora