18 - Lídia

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Paramos em frente à minha casa, e Malandro sentou-se perto dos meus pés. Ele permaneceu tão silencioso no caminho de volta, que constantemente conferia se ainda nos seguia. Benjamim segue para sua casa, sem olhar para trás, mas o desejo de manter contato com ele é irresistível. Sempre é assim quando o vejo, e agora, sua última declaração só incitou minha curiosidade. Não conseguirei descansar enquanto não entender o que suas palavras significam.

— Benjamim!

Ben interrompe seus passos, parando imóvel. Passa a mão pela nuca, visivelmente pensativo, talvez temendo o que direi a seguir. Ele se mantém de costas, ocultando seus pensamentos. Ainda assim, decido me arriscar.

— O que você quer dizer com pensar em mim desde sempre? — Ele respira fundo, seus ombros sobem e descem em um movimento suave. Ben balança a cabeça, ponderando, e então responde:

— Já faz tempo. — Dá de ombros. — Nem sei por que falei aquilo. Na verdade, acho que eu só pensei alto.

— Conte-me, Ben — insisto.

Ele se volta para mim e seus olhos capturam os meus, não apenas isso, eles me raptam para um lugar desconhecido, onde sinto uma vontade absurda de desbravar.

Estou encrencada!

Já estive encrencada antes, em várias ocasiões em minha vida, e detestei cada uma delas. No entanto, agora é diferente; eu desejo me sentir assim. Sinto meu corpo vibrar com a perspectiva de simplesmente não possuir controle algum.

— Eu me lembro de você, madame. — Benjamim diminui a distância entre nós. — Antes de eu ser preso. Quando você vinha à ilha quase toda semana... com a sua galera. Eu fazia uns bicos para a empreiteira do Boo. Meu pai era o paisagista da B&B.

Levo a mão à boca. Nunca havia percebido Benjamim por aqui, mas lembro-me bem de um senhor que cuidava do jardim. Sua presença discreta e silenciosa sempre arrancava grandes elogios da minha mãe.

— Lembro-me do seu pai — afirmo. — Porque a minha mãe sempre elogiava o trabalho que ele fazia aqui. Esse jardim era lugar favorito dela, e se ela o visse hoje diria que está ainda melhor. — Aponto para o jardim meticulosamente cuidado pelas mãos dele. As flores e os arbustos balançam com o vento em uma cadência de movimentos. Volto-me para Benjamim, cujo sorriso estampa sua linda boca. — Como eu nunca o vi antes?

Ele me observa atentamente e, com um gesto hesitante de cabeça, parece ponderar suas palavras. É como se ele estivesse resistindo a revelação de algo proibido, mas sua sinceridade acaba falando mais alto. Essa é a essência de Benjamim, é quem ele é

— Eu sempre estive aqui. Eu sempre ajudei nas suas festas. Mas vamos ser sinceros, madame. Pessoas do seu círculo social não enxergam pessoas como eu.

As palavras me atingem como um golpe certeiro, e embora parte de mim queira negar, eu estaria sendo uma grande mentirosa se o fizesse. Caminho até uma espreguiçadeira e me acomodo. Ele permanece imóvel, de pé, evitando meu olhar.

— Eu não falei isso para que você sentisse pena de mim, você entende? — Ele esconde as mãos nos bolsos da bermuda e solta todo o ar pela boca. — Eu falei isso porque é a verdade. Eu sempre te achei linda pra caralho, e mesmo sendo só um moleque eu sempre te olhei como um homem olha pra uma mulher, mas eu sabia que nunca seria visto.

Sua revelação ecoa alto em meu interior.

— Gostaria de dizer que sinto muito, mas falar isso agora é totalmente irrelevante. E você não merece palavras vazias. Não quero que você se sinta assim, diferente de mim. Somos dois seres humanos, feitos de carne e osso. A diferença é que eu tive a sorte de nascer em uma família rica.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora