Desperto com uma dor de cabeça avassaladora, como se fosse perfurada por algo afiado nas têmporas. De fato, cada parte de mim pulsa com desconforto. No entanto, não me permito lamentar. Pois, pela primeira vez em anos, a razão para o sofrimento é deliciosamente positiva.
Saí, diverti-me e estive com alguém. Estou livre! E se tudo ocorreu conforme o planejado, neste exato momento, Ed já deve ter assinado os papéis. E mesmo que não, é apenas uma questão de tempo até que ele o faça. Estivemos separados por um longo tempo, e sua assinatura é apenas a formalização do que já está concluído.
Sendo assim, não sinto nem um traço de culpa. Afinal, a noite anterior marca o começo promissor de uma nova vida. Um beijo agradável de um estranho em uma boate escura, após uma sequência de shots de tequila.
Era o que eu pensava, até que as memórias da noite inteira retornam. Até que me lembro de Benjamim.
Deus do céu! O que eu havia feito com o rapaz? Eu quase abusei dele! E eu duvido que eu tivesse parado, se não fosse por seu infinito bom caráter. Eu realmente não errei quanto a ele, mas quanto a mim, me sinto terrível.
Então, após duas aspirinas, um café forte e uma pitada de bom senso, escolho minha roupa mais decente — um vestido longo de praia, branco e leve — e decido enfrentar o que resta da minha dignidade até a casa do meu funcionário. Funcionário, Lídia! Grave isso na mente!
Respiro fundo várias vezes após bater à sua porta. Benjamim não demora a se materializar diante de mim. E sem camisa. Ele ostenta uma calça de moletom cinza pálida e seus cabelos negros e densos estão um pouco desalinhados. E eu luto para conter os pensamentos de minhas mãos explorando aquelas mechas longas. Seus olhos se apertam, cautelosos ao me avaliar, e eu sinto uma inquietação interna, que eu ignoro terminantemente.
— Madame?
Ergo o queixo, tentando manter a postura que ensaiei ao longo do caminho até aqui.
— Deixe-me entrar, Benjamim.
Ele se afasta da porta e eu deslizo suavemente por seu lado. A casa do caseiro, um refúgio singelo e acolhedor, fica aos fundos da minha cozinha, ostentando uma grandeza modesta, diminuta apenas se confrontada com ao tamanho da casa do amor. Seu charme naval é um convite aos olhos, e agora, com ele aqui, o lugar parece ter uma nova energia. O aroma de uma refeição recém-preparada invade meus sentidos, e meu estômago responde no mesmo instante. Meus olhos passeiam pela mesa arrumada antes de se fixarem em Benjamim.
— Eu o interrompi.
— Não, de jeito nenhum. A senhora gostaria de se juntar a mim, madame?
Penso um pouco, e, talvez um café da manhã não faria mal para a conversa que estamos prestes a ter. Talvez até amenize o clima.
— Gostaria, sim.
Ele se apressa à minha frente, deslizando uma cadeira com um gesto suave para que eu me acomode. Um verdadeiro cavalheiro. Gostoso e cavalheiro.
Ora, Lídia, concentre-se!
— Eu já volto. — Ele vai até seu quarto e logo retorna vestindo uma camiseta preta de algodão. O que significa que estamos os dois no mesmo pensamento.
Benjamim continua de pé, arrumando os itens do café da manhã.
— Está com uma cara ótima — declaro, apontando para a omelete.
— É simples, mas é o que sei fazer.
É mesmo? Tenho vontade de perguntar ao olhar para suas mãos grandes movendo-se sobre a mesa. Tem certeza que é só isso, Benjamim? Você parece saber fazer bem mais.
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Lover Beach - Um Verão de Amor
RomanceDas Autoras de "Não Se Afaste de Mim"... Lídia é uma empresária destemida, que deixou para trás um casamento falido, e uma família conturbada. E nessa nova fase, tudo o que deseja é se redescobrir e dar a volta por cima. É quando decide retornar à s...