5 - Lídia

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A pintura da casa está quase concluída, voltou a jorrar água limpa e cristalina da fonte, e ervas daninhas agora é apenas um nome engraçado no nosso vocábulo. As pias foram desobstruídas e os canos reparados, e o jardim atrás da casa se revela um lugar perfeito para futuras tardes de descanso. Ainda há muito por fazer, e o prazo aperta, mas se algo restar para além de amanhã, terá que esperar, pois Boo tem outros a quem servir, não apenas a mim.

Neste instante, os sonhos que tinha ao vir para esta ilha ainda não se materializaram, mas mantenho-me firme na convicção de ter feito a escolha certa. Não é só pela mansão que eu vim, mas pelas promessas de Lover Beach, cujas belezas pretendo explorar muito em breve. E a ausência de contato com Ed, meu pai e os dissimulados que os apoiam na empresa, já aliviou parte do peso em minha cabeça. Quem imaginaria que conviver com peões de obra seria tão mais reconfortante?

Nas últimas noites, meu refúgio foi a casa da piscina, ansiando pelo retorno ao meu quarto, à minha suíte com a piscina de vidro e sua vista privilegiada do amanhecer e da praia dos amantes. Aguardo com expectativa o momento de desfrutar desse meu recanto favorito. Afinal, vim em busca de paz, e é essa paz que ainda espero encontrar.

— Eu vou mandar a lista, dona. Mas você sabe, são poucas pessoas disponíveis aqui, por isso seu pai trazia a maioria dos funcionários com ele.

— Eu preciso ao menos de um caseiro, Boo — insisto.

— Tudo bem. Vou pensar em alguns nomes, mas não prometo muita coisa, dona.

— Só me prometa que são boas pessoas, eu confio no seu julgamento, é suficiente. Só não quero deixar minha casa minguar outra vez. — Boo concorda e se afasta gritando ordens para seus homens.

Levo uma mão à cabeça e massageio a testa com as pontas dos dedos. O céu da ilha, livre de nuvens, parece ter um sol para cada ser, pois o calor de hoje é quase insuportável. Deixo o jardim frontal e me dirijo à varanda dos fundos, com vista para o mar, em busca de uma brisa refrescante. Sinto cada gota de suor do meu corpo evaporar. Desde cedo, observo os rapazes trabalhando no casarão e só agora percebo que talvez não tenha me alimentado direito. Ou talvez seja o manto de estresse que me envolve, anunciando uma tempestade.

Sentado no gramado, um dos homens de Boo cuida das flores com paciência e delicadeza. Penso em cumprimentá-lo, mas hesito ao ouvi-lo murmurar algo. Ao me aproximar, um sorriso brota em meus lábios ao perceber que ele conversa com as plantas. Em outro momento, poderia achar isso engraçado ou até insano, mas a ternura em suas palavras desperta em mim uma inveja das flores que as recebe.

— Você é tão... essencialmente forte — sussurra ele. — Você carrega tanta coisa aí dentro, mas ainda assim consegue ser delicada. Sua força é o que existe de mais lindo no mundo, eu queria ser assim — diz, baixinho. Enquanto toca em uma flor amarela muito bonita, com várias pétalas miúdas.

— Elas devem estar encantadas com você — digo, e o homem se assusta, levantando-se rapidamente. — Eu mesma estou.

Nossos olhares se cruzam e o reconhecimento é imediato. O homem que não pode usar camisas. Benjamim, como Boo o chamou naquele dia.

Seus olhos são de um azul profundo, cabelos negros e densos, e uma barba por fazer, que desce até o pescoço, dando-lhe um ar selvagem. Há nele um jeito indiscutível de "mau-elemento", como meu pai diria. Mantém os ombros recuados e os braços afastados do corpo, numa postura de quem está sempre pronto para o que vier. Isso me fascina.

Benjamim permanece sem camisa, a pele marcada pelo sol, as tatuagens em seus braços volumosos contando histórias que o sol não pode apagar. Ele me encara, franzindo o cenho contra o brilho do sol, e apesar de sua aura de encrenqueiro, me encontro achando sua careta encantadora.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora