19 - Lídia

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A senhorita não vai ao Festival do Robalo?Oto pergunta, do outro lado da península. Estamos na cozinha, cada um com uma xícara de café.

E perder a chance de experimentar um montão de pratos no mínimo inusitados e assistir aos chefs se digladiarem por causa de um troféu minúsculo em formato de peixe?exclamo, sendo bastante sincera em minha empolgação.

— E por uma boa quantia em dinheiro, dona Lídia — ele lembra.

— Mas é claro, ainda tem isso! — exclamo. — Claro que eu não perderia essa chacina por nada.

Oto se engasga com o café, tosse um pouco e sorri.

A senhorita é mesmo espirituosamurmura.

Caminho com minha xícara até a entrada da cozinha, que dá para o quintal dos fundos. Benjamim está cuidando do jardim, dos crisântemos que ele havia plantado semanas antes, especialmente para mim. E me pego pensando se não foi ali mesmo que tudo começou, se não foi através daquele gesto gentil dele que nossos sentimentos floresceram.

Por que não vamos todos nós?sugiro, ainda com os olhos em Ben. E só então viro-me para encarar meu motorista e amigo. — O que você acha? Você poderia convidá-lo?

Por mim, tudo bem. — Oto está prestes a tomar um gole do café, mas para a xícara perto da boca e me oferece um sorriso sutil. — Mas acredito que, se a senhorita o convidasse, teria mais chances de ele aceitar.

Olho para meu amigo, tentando não arregalar os olhos, tentando não me entregar. Mas ele me conhece bem demais, e é provável que, para ele, desde o primeiro momento, essa situação com Benjamim esteja estampada em minha cara. Oto não deixa escapar nada. De tal modo que ele foi o único que entendeu de cara quem era o verdadeiro Edgar.

Eu prefiro que você o chameafirmo, e Oto suspira. — Você tem alguma coisa para me dizer?

Nada além do que a senhorita já sabe.

Está tão explícito assim? — pergunto, aflita.

Lily.

E aí está. Ele, me chamando apenas de Lily, é algo raro. Otávio quase nunca me chama assim; geralmente prefere se manter completamente profissional. Mas apenas em raras ocasiões, quando pretende ser apenas meu amigo e nada além disso, ele se permite me chamar da forma como eu já pedi milhares de vezes e ele sempre se recusou.

Oto deixa sua xícara sobre a península e vem até mim.

Eu vi você crescer, vi você se apaixonar várias vezes e sofrer também. E aquele rapaz...Ele olha para onde Benjamim está sentado, com as mãos na terra e Malandro fungando em seu pescoço. — Ele está muito encrencado. Vocês dois estão.

Não consigo olhar em seus olhos; suas palavras me acertam como chicotadas. No fundo, eu também penso assim, considero que tudo isso é uma baita encrenca e que não existe um final feliz. Mas então eu olho para Ben e... puff! Os pensamentos somem, e eu só penso em como foi estar com ele, em tudo que ele me fez sentir.

Lily, ele já tem problemas demais para lidar, não o jogue aos abutres.

— Nossa! Falando assim dá a entender que sou uma péssima pessoa.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora