— A senhorita não vai ao Festival do Robalo? — Oto pergunta, do outro lado da península. Estamos na cozinha, cada um com uma xícara de café.
— E perder a chance de experimentar um montão de pratos no mínimo inusitados e assistir aos chefs se digladiarem por causa de um troféu minúsculo em formato de peixe? — exclamo, sendo bastante sincera em minha empolgação.
— E por uma boa quantia em dinheiro, dona Lídia — ele lembra.
— Mas é claro, ainda tem isso! — exclamo. — Claro que eu não perderia essa chacina por nada.
Oto se engasga com o café, tosse um pouco e sorri.
— A senhorita é mesmo espirituosa — murmura.
Caminho com minha xícara até a entrada da cozinha, que dá para o quintal dos fundos. Benjamim está cuidando do jardim, dos crisântemos que ele havia plantado semanas antes, especialmente para mim. E me pego pensando se não foi ali mesmo que tudo começou, se não foi através daquele gesto gentil dele que nossos sentimentos floresceram.
— Por que não vamos todos nós? — sugiro, ainda com os olhos em Ben. E só então viro-me para encarar meu motorista e amigo. — O que você acha? Você poderia convidá-lo?
— Por mim, tudo bem. — Oto está prestes a tomar um gole do café, mas para a xícara perto da boca e me oferece um sorriso sutil. — Mas acredito que, se a senhorita o convidasse, teria mais chances de ele aceitar.
Olho para meu amigo, tentando não arregalar os olhos, tentando não me entregar. Mas ele me conhece bem demais, e é provável que, para ele, desde o primeiro momento, essa situação com Benjamim esteja estampada em minha cara. Oto não deixa escapar nada. De tal modo que ele foi o único que entendeu de cara quem era o verdadeiro Edgar.
— Eu prefiro que você o chame — afirmo, e Oto suspira. — Você tem alguma coisa para me dizer?
— Nada além do que a senhorita já sabe.
— Está tão explícito assim? — pergunto, aflita.
— Lily.
E aí está. Ele, me chamando apenas de Lily, é algo raro. Otávio quase nunca me chama assim; geralmente prefere se manter completamente profissional. Mas apenas em raras ocasiões, quando pretende ser apenas meu amigo e nada além disso, ele se permite me chamar da forma como eu já pedi milhares de vezes e ele sempre se recusou.
Oto deixa sua xícara sobre a península e vem até mim.
— Eu vi você crescer, vi você se apaixonar várias vezes e sofrer também. E aquele rapaz... — Ele olha para onde Benjamim está sentado, com as mãos na terra e Malandro fungando em seu pescoço. — Ele está muito encrencado. Vocês dois estão.
Não consigo olhar em seus olhos; suas palavras me acertam como chicotadas. No fundo, eu também penso assim, considero que tudo isso é uma baita encrenca e que não existe um final feliz. Mas então eu olho para Ben e... puff! Os pensamentos somem, e eu só penso em como foi estar com ele, em tudo que ele me fez sentir.
— Lily, ele já tem problemas demais para lidar, não o jogue aos abutres.
— Nossa! Falando assim dá a entender que sou uma péssima pessoa.
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Lover Beach - Um Verão de Amor
RomanceDas Autoras de "Não Se Afaste de Mim"... Lídia é uma empresária destemida, que deixou para trás um casamento falido, e uma família conturbada. E nessa nova fase, tudo o que deseja é se redescobrir e dar a volta por cima. É quando decide retornar à s...