7 - Benjamim

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— Você sabe que o serviço na casa dos Capelle acabou ontem, não é, rapaz?

Me ajeito na cadeira dura e fico quieto, talvez assim ele me ignore e me deixe esperar por mais um milagre. Afinal, eu meio que vivi desses milagres ultimamente.

— Que seja — ele resmunga.

Boo entra no escritório e eu expiro com força. Mais um dia, menos um dia, esse é o meu lema. Graças à reforma na mansão dos Capelle, ainda tenho uma grana para me manter por um tempo, o que é bom, mas não o suficiente para juntar para o que eu preciso.

A porta da empreiteira se abre de repente, mas antes que ela entre, reconheço o cheiro dela. E quando ela entra no galpão, sinto as palmas das minhas mãos suarem. Mas por que estou assim, caramba?

— Bom dia.

— Bom dia, madame — respondo, olhando em sua direção.

Ela fecha a porta e tira os óculos escuros, me dando a visão dos seus olhos pretos intensos. A madame tá linda hoje, como em todos os outros dias. Elegante, com saltos e um vestido azul claro que desenha muito bem as formas do seu corpo. Me esforço pra caralho pra não parecer um garoto ao simplesmente ficar encarando seus seios, o que já seria difícil em qualquer situação, mas na minha é quase impossível. Estou há nove anos apenas imaginando uma mulher como ela. E, às vezes, imaginando... ela. Então, o esforço que faço para ser coerente perto da madame é monumental.

Ela abre um sorriso simpático, que eu retribuo.

— Boo está?

— Sim, no escritório. — Aponto na direção dele.

— Obrigada, Benjamim.

Ela segue até lá, mas antes de bater na porta do escritório, volta a olhar para mim.

— E suas costas?

— Co... como?

— Suas costas, como estão?

— Ah, sim. — Coço a cabeça, envergonhado pela minha falta de jeito com as palavras nesse instante. — Estão bem melhores, obrigado de novo pelo gel.

— Não há de quê. Apenas use-o.

Antes que eu consiga dizer mais alguma coisa, ela bate na porta e entra na sala de Boo, deixando para trás apenas seu perfume doce.

Tento me manter calmo, esperando, como fiz por tantos dias naquele mesmo lugar, mas o fato de saber que a madame tá lá dentro me deixa inquieto. Ela nem sequer mencionou as flores que plantei, ou a que deixei na sua cozinha. Será que ela gostou? Será que não gostou? Será que veio falar sobre isso com o Boo?

Ontem, o último dia em que trabalhamos lá, eu não a encontrei na mansão o dia inteiro, não tive a oportunidade de perguntar diretamente para ela sobre as flores. E no dia em que conversamos, o Boo me deu o maior sermão. Segundo ele, eu não fui nada profissional, me arrisquei demais, e eu devo ficar bem longe da "dona Lily". Eu não discordei em nada. Ele certo, geralmente Boo sempre está.

Alguns minutos depois, a porta se abre e dona Lídia me encara. Ela faz uma careta, unindo as sobrancelhas, parecendo em dúvida. Sobre mim. E isso me deixa preocupado.

— Benjamim, por que você não está trabalhando hoje?

Boo aparece logo atrás dela e me encara infeliz, percebo que estou entre a cruz e a espada. Então decido responder com a verdade, porque não faço ideia do porquê de tudo isso. Me levanto.

— Eu não tenho um emprego fixo, madame, estou aqui aguardando um trampo aparecer, e...

— Está vendo, dona Lily? Como eu disse, estão todos ocupados. — Boo me interrompe.

Lover Beach - Um Verão de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora