Os Outros

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Eu pisei porta dentro, sentindo meu ser pra fora
E ao chegar já vi uma alma, parada a porta
Ela desejava que eu não estivesse ali, que fosse embora
E eu ainda tentei procurar os demônios daquela essência morta
Entendendo que talvez eu fosse o demônio que pairava no ar

Me odiei, odiei o estar, mas me vesti de linho
Morri, revivi, matei e assombrei
Mas tudo foi em vão, o fantasma ainda repetia "este não é seu ninho"
Meus pés estavam cansados de andar, então eu assobiei
Mas o espírito bufou mais forte e meu sopro foi ao definho

Barro ou Tijolo, me fiz escutar martelando
Beijos perdidos, beijei arrastado, envolvi o fantasma num abraço
Bem que eu pensei, a translúcidez me fez refém, me mantive sangrando
Boca seca, eu sussurro, meu desgosto fumaça em maço
Bom ser alguém aos olhos do céu, mas aos fantasmas vou orando

Ouvi o loiro oxigenando meus pulmões
Ostentando do hélio o respirar
Os quais me fizeram flutuar os sifões
Os tais me arrancaram a vontade de estar

Ranger os dentes, não posso mais
Rogar feitiços, não consegui
Realidade me abateu, aos meus olhos os sais
Resta-me a conclusão, o fantasma sou eu e sou quem o segui

Agora tudo faz sentido, eu fui um espírito assombrando
As vezes que flutuei, me senti desandando
As palavras que proferi e o ouvi rejeitando
As tentativas de afeto, foram todas uivando
Ah, sou familiar pra você? Um espírito normal, desmoranando
Final.

Poemas de um coração lilás Onde histórias criam vida. Descubra agora