Poemas de um coração lilás

A Jornada do Louco

Me vi em uma estrada, invivida, faz-se das chamas às fagulhas
Meus passos eram firmes, firmando meus pés, agulhas
Minhas extensões de mim, mentiam e se prendiam, bolhas
Me encontrei meio às fantasias, faces, papéis em folhas
Meu bater de asas era depenado e destroços de minhas cangalhas

A tiragem saiu torrencial, laminada e excruciante
A face do louco, o corpo da imperatriz e a extensão brilhante
Aos homens e mulheres, aos amigos e inimigos, festejante
A que custo? Irradiar radiação radiante, sensual e trovejante
Arcênio, cianeto, cicuta, uma mistura estonteante

Sobre meus olhos, uma camada densa de neblina
Semblante tranquilo, pestilência escarlate na retina
Sentir, sofrer, sangrar, morrer, decompor em água salina
Sem fim, sem mim, sem pentes para alisar a crina
Sem cavaleiro, um cavalo é apenas mais uma raça equina

Contei as mentiras que precisava
Colhi as ervas da manhã mais alva
Congelei o coração, desci a relva
Consorte, cortante, calorosa, nada doce, malva

Atirei pedregulhos em pássaros voando
Arrastei ao inferno anjos que estavam apenas vivendo
Assaltei as teclas de um tecladista esmaecendo
Aos céus clamei e com o que arranquei, forjei o um universo, perecendo

Rugindo como um leão, pra afastar as mentiras
Regendo meu reino, arrumando as cadeiras
Rotulando quem deve ser rotulado, esfarelando as caveiras
Rogando proteção, enfeitiçando e lançando ao universo palavras
Ressoando cada encanto do meu eu, sendo feito em culturas
Resta de mim uma última escultura

A face desta eu ainda não sei
Algum dia talvez saberei
Ao menos as faces ferrosas desgraçadas arranquei
As que restam, bem, o ferro enferruja, e eu as enferrujarei
Aos pés eu digo obrigado e honrarias, a cabeça heya e eparreia
Ao coração, a mente e ao espírito, um beijo ao futuro que semeia