Algea - Dolor

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Acho que tô velho demais pra isso
Apesar de ter apenas 17
Ainda sinto nojo de mim, ao me olhar
Assusto a mim mesmo, quando me ouço respirar

Repouso em um travesseiro de pedra
Respiro vidro em pó
Refluxo os litros de ácido sulfúrico que bebi
Remoendo cada erro, cada falha, cada passo

Rastejo para debaixo da minha cama
Recolho os cacos da minha alma lá
Restos de comida, sujeira e raiva
Repensando se devo varrer ou simplesmente passar o pano.

Eu só queria poder voltar no tempo
E no passado, apagar o momento que me aceitei
Eu só queria me encubar em um ovo, dentro de um armário
E ficar em silêncio, odiando minha existência em paz

Perdi a voz a muito tempo
Percebi que não me deixei ser eu
Precisava superar a mim, para suprir, para ser o sol
Por isso, errei, erro e errarei. Orfeu fez o sol levantar, não nascer.

Eu preciso tanto de todo mundo
E ainda assim, não entendo ninguém
Essas coisas me afastam do céu
É, eu sei, meu destino não é lá

Nadei até a borda, pra tentar não me afogar
Nem vi que estourei todas as boias.
Na beirada da piscina, tudo é tão calmo
Na beirada da piscina, a água é tão sem gosto

Daí que vem a dor do vazio
Da falta da doce corrente violenta de cachoeira
De uma necessidade extrema, de palavras madrugadas
Dos olhares incrédulos de estrelas muito mais belas que eu

E é isso, acabou, eu sei que esvaziamos a piscina
Então é só se secar e sair, não é?
Estranho demais, como ainda sinto meus pés molhados
Enrugando e enrigecendo, perdendo o movimento

Resta-me desmontar toda a casa e jogar terra onde tinha água.
Reconstruir tudo, sem planos, sem gamia.
Rebocar a parede de um quarto menor.
Resistir a ansiedade, de gritar pra Orfeu fazer o sol levantar e secar esse cimento molhado.

Poemas de um coração lilás Onde histórias criam vida. Descubra agora