Eu sou de um lugar onde não se pode falar
Sou virgem até onde seus olhos possam olhar
Onde pra ser puro, cê tem que ter o areté duro
E desculpa se não se encaixar, não tô acostumado a ter gíria pra rimar
É de costume um palavreado formal, compreende-tu?
E aí de querer tirar um puto do bolso que não seja pro mal
Porque todo mundo vai te julgar, se teu namorado na rua beijar
Mas são eles que de noite pagam prostituta, chega em casa, toma banho e reabroxa sua cicuta
Só que a pureza tá no que não se vê, sacou?
Me verem amando é imoralidade, bater uma pra trans no sigilo, pra eles é normalidade
E relaxa, não precisa ser conexo, a gente sabe que tu não aguenta um único argumento complexo
Já que pra te botar no chão, não precisa nem de muita ação
Só te meter uma bela e simples questão: Porque tu bate pras mina e na tua grande podridão, vê elas em situação de prostituição, só pensa em trazer pra elas mais desgraça e destruição?
Mais ainda, quer chamar o pronome errado de forma proposital, mas num quarto escuro, não se arrepende de saciar sua vontade carnal
E tá bom, não quer mais que eu fale dessa questão?
O que acha de um pouco mais de pressão?
Eu posso falar talvez, sobre tua suja-branquitude e rispidez
Tu, que depois de matar e estuprar, vai em terreiro, pro santo preto quebrar
E é claro, cê não tem culpa do mal, a culpa é do que tu vê como anormal
Cê traiu? É pomba gira querendo te atentar. Cê matou? É tranca rua na mente a burbuiar. Cê estuprou? É o Exu que te forçou a imoralizar.
Mas pensa bem, o que qualquer dessas entidades ia querer destruir alguém, que sozinho já faz isso muito bem?
Porque tu não precisa ser atentado, tá na sua essência ser um sujo depravado
E não venha desdenhar de mim não, não sou do axé mas essas são palavras de compadecencia as nossas religião
Nossas, não por uma convivência pura, mas porque macumba também é cultura
Cultura da favela, cultura de descendência, não ser da religião, não te força a sua própria decadência
E não é sobre qual culto tu vai estar, mas sobre saber o limite do teu falar
Respeito é bom, todo mundo merece, tô dando ele agora
Abrindo minha boca, pra abrir tua ótica, já que diferente da política, minha lógica é laica.
Mas não é meu lugar de fala, tenho certeza que muita gente aqui tem mais o que cantar, rimar e até desbravar sobre suas religião
Vou voltar pro meu ponto de revolução
Chegar no ponto podre que causa todo esse mal
O sistema que te joga no chão, te chuta e te transforma em capital
É nessa que te mando a real
Sou sem terra, sou a unidade popular, sou cada letra digitada numa tela de celular
Eu milito, suplico, debruço minha rima pra falar
Capitalismo falhou, falha e falhará
Nem pensa que vou ficar de frase pronta não
Aqui é cria da vida, estudado, faço transfiguração
Movimento as massas, minha voz é meu coração
Sou comuna mesmo, cala a boca e reclama não
Sou quem vai calar tua boca falando de mais valia
Te socar no argumento, com base em sociologia
Arrebatar sua ignorância e histeria
Te mostrar mais que tu sabe, mas que ainda não te cabe
Sindicaliza tua cabeça, te trazer a liberdade
Porque tu vive em terra fértil caralho, reforma agrária é algo mais que necessário
Pisar na bosta e fica com nojo?
Engraçado pois isso é um prazer sem fim
Já que pra mim bosta é os nazi-fascista e é gratificante ver eles assim
Debaixo da sola, dentro de ruínas, tremendo de ódio e de medo de mim
Sou comuna pelo povo, pela força sindical
Grito alto, voz ativa: que se foda os capitalista
Ativista, por que mais vale uma vida, que tanta distorcida e indigna moral
Vale mais que pedra brilhante e chamativa, que dinheiro ou qualquer bem banal
Ta ganhando grana boa? Parabéns, tá em situação amena
Para aí de trabalhar, vai viver de que? Vai mendigar?
Nesse caso tu desiste, tá? Pobreza não te alimenta
Mas quanto mais pobre tem, mais o rico se sustenta
Teu trabalho gera lucro, mas em escala ele é macro
Se tu ousar reclamar, não vai te faltar o papo: Vai pra rua, vai embora, num enche a porra do meu saco.
Tu acha que tu é muita coisa? Experimenta ficar doente
Cê não tem plano de vida? Então o SUS que te sustente
Mas o SUS é uma bosta, né não? É mais fácil ficar rico, do que arranjar um coração
Ah, facilitou então. É só tu ficar rico, não era fácil mermão?
Putz, lembrei de uma coisa aqui
Saúde não é prioridade, pobre morto gera renda
Tu é só mais um produto, a diferença é que tu tem vida
Mais trabalho, mais despesa, morre então, tá esperando o que? Sou coveiro não
Não tem mais terra garrida, é mar de sangue de genocida
Presentinho de milhões em? Babado os diamantes nos seus botões
Eita, desculpa, foi mal, não quis falar que nem bixa, vou me polir do anormal
Lixo, lixa, luxo, não consigo, sou das mana, sou um grito de rapina
Sou do bem, sou da rua, sou cria de bruxa nua
Conheço a dança das mãos, que não é pra bixa mança
Sou do vogue, sou do close, não tem quem a mim revogue
Tô falando por mim mesmo, mas também, por mais de cem.
Gritando pra tua cabeça, mas talvez, não seja ouvido por ninguém.
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Poemas de um coração lilás
PuisiNeste livro busco trazer minhas poesias feitas até hoje, quando me enxergo plenamente, em reflexão aos antigos textos que já criei (pois aqui terão alguns poucos textos também, fora da estrutura de poema). Este livro conta uma trajetória, uma histór...