Nú, com o chuveiro ligado
Intestino revirado, na privada sentado
Nariz entupido, olhos marejados
Garganta arranhando, lábio inferior descascado
Uma mosca pousando no meu dedo do pé
É, é o cheiro da inércia que você sente
Mastigue bem, talvez eu seja indigestoVou levantar da privada
Alcançar o papel e me limpar
Ir andando até a rua, nú, gritarOs vizinhos não vão entender nada
Um mistério total vai ser
Ver gotas caindo no meio da rua
Intenso cheiro fétido de algo a necrosar
Reluzindo nada do poste, reduzindo a nada a sorteSerá que meu destino é correr pelado?
Elucidar todos, com meu cheiro de sofá mofadoEnsaio como vai ser, quando eu precisar sorrir ou comer
Uma bola? Não. Uma porca.Granhindo e rangendo, tentando fazer girar
Rolado em bosta, comendo ração
Irritado com tudo, cheirando atenção
Trepando com cada cano da tubulação
Arrotando muita grana pra um charlatão
Recebendo um elogio, um beijo, um alívio.Agora, a roda voltará a girar
Qualquer um vai poder me ver, vestido de algo costurado em fiar
Uma linha não tão boa, boa só até onde o dinheiro pode chegar
Isso que é vida, mofar e gritar, até pro meu lugar na roda voltar...
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Poemas de um coração lilás
PoesíaNeste livro busco trazer minhas poesias feitas até hoje, quando me enxergo plenamente, em reflexão aos antigos textos que já criei (pois aqui terão alguns poucos textos também, fora da estrutura de poema). Este livro conta uma trajetória, uma histór...