Prólogo

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"Abalaram nossa voz, mas se esqueceram que não estamos sós. Então eu canto pra que todo canto encanto de ser livre, de falar possa chegar, não mais calar. Essa dor é secular e em algum momento há de curar."

Pra todas as mulheres- Mariana Nolasco

Anaya Lopes

Olá, prazer, me chamo Luna. Eu serei a narradora da história para você conhecer e entender a história da vida da vingadora mais poderosa, Mayla Lopes . Mas antes de falar dela, preciso contar onde ela nasceu, assim, irei voltar em 1500 e bolinha, depois que os português decidiram explorar o Brasil com medo que a Espanha dominasse o território todo.

Em 1535, quando deu-se início a escravidão dos povos vindo dos países africanos. Em um dos primeiros navios que chegaram na Bahia, vieram neles bruxos e bruxas, que já não tinham contato com a magia a algum tempo, por medo de serem descobertos e mortos. Por isso,  não conseguiram escapar durante a viagem até o Brasil. Uma das bruxas que veio naquele navio foi Ruslan, uma jovem de 17 anos, que no Brasil deu à luz a Anaya. Uma das bruxas mais valentes e sábias que já existiu.

Anaya com seus 20 anos, em 1620, conseguiu escapar e libertar a todos que viviam escravizados na fazenda. Depois que preparou o chá que fez todos dormirem como pedras, por 24 horas, dando tempo para fugir e libertar os outros. Na época ela ainda não tinha conhecimento das suas capacidades, mas tinha descoberto o efeito que a erva causava, quando viu um capataz beber o chá da erva, achando que era bom para resfriado e dormindo 24 horas no chão de barro.

Durante a fuga, Anaya começou a conhecer melhor a si mesmo, percebeu que não era como os outros, era mais resistente nos dias que não tinham comida nem água. Dias esses que causaram muitas mortes, mas ela não ficava doente e a fraqueza não atingia tão forte no seu corpo, como nos dos outros. Foi quando se lembrou de uma conversa que teve com a sua mãe, quando ela ainda estava viva.

— Você tem que ajudá-las, elas são fracas, não são como você. - Ruslan falava com Anaya em sua língua, kikongo, enquanto só as duas estavam na cozinha do senhor de engenho.

—Mãe, eu sou fraca como elas.- A faca que Anaya cortava os legumes batia tão forte que parecia que a tábua de corta se partiria.

—Não é.- Ruslan olha ao redor e então se aproxima da filha— Eu devia ter contado a você a algum tempo, mas..- ela tomou fôlego — Somos bruxas.

— Que? E por quê estamos aqui? - ela para de cortar os legumes e fica balançando o braço direito com a faca na mão.

— Não lembro mais dos ensinamentos dos meus ancestrais, eu e muitas bruxas que assim como eu estão aqui. Muito antes de servirmos como moeda de troca e exploradas, fomos privadas de praticar magia, por medo da morte. O que nos sobra hoje é o conhecimento com as ervas para curar nossas feridas, internas e externas- Ruslan não deixou uma lágrima se quer cair, apesar de seus olhos estarem cheio delas, pois estavam expostas e era manhã, não queria demonstrar estar emotiva.

— Mãe, você acha que alguém vai nos salvar, um dia?

— Ei! Nada de conversa e falem em português, ouviram ?- A sinhá apareceu na cozinha. Depois desse dia, nenhuma das duas tocaram no assunto. Anaya achou que aquela história foi um modo de escape da realidade que sua mãe tinha inventado, então escolheu esquecer.

Sua mãe nunca a respondeu, mas agora Anaya sabia a resposta. Ela foi a bruxa que salvou todas as outras que estavam sendo escravizadas, elas , seus filhos e maridos.

Depois de anos nasceu Eldorado. Anaya achou o lugar junto com 100 mulheres, homens e crianças. Uma cidade cheia de ouro, como os espanhóis acreditavam. No entanto, não fizeram de lá o seu lar, mas decidiram permanecer por perto, apenas um rio não tão largo como a divisa. Ali era mágico e nenhum humano conseguia encontrar. Localizada na Amazônia, Eldorado era um lugar perfeito para recomeçar.

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