07. Enjoos noturnos

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Era madrugada, Maria Marta mal conseguia pregar o olho de tanto enjoo que sentia até mesmo quando não estava diante de um prato de comida. Seu marido também não conseguia dormir, mas o motivo de sua insônia era outro completamente diferente, tinha haver com a última conversa que o mesmo teve com o seu primogênito há algumas semanas. Ele também estava preocupado com a gravidez de sua esposa que era de risco e com as ameaças e chantagens de sua ex amante, Maria Ísis, e como se isso isso não bastasse, ele ainda tinha de lidar com o fantasma da Cora que vivia a lhe atormentar.

Maria Marta conhecia bem o seu marido para saber que ele estava com algum problema, ela sempre soube quando ele não estava bem. E apesar das divergências passadas dos dois, que não eram poucas, sem ela ao seu lado, Zé Alfredo teria sucumbido logo ao primeiro tombo em sua jornada para se tornar o comendador. Ele apenas era orgulhoso demais para admitir isso em voz alta.

- Sei que alguma coisa tá te incomodando agora - Diz ela ainda um pouco enjoada - Então me diz logo o que é, pra que eu possa te ajudar a resolver ainda nesse ano.

- Não é nada, Maria Marta. Eu tô ótimo - Diz ele - Só tava pensando numas coisas que o Zé Pedro me contou há algumas semanas, nada demais, então vê se descansa, que eu sei que você não comeu quase nada hoje e saco vazio não para em pé.

- Ora deixe de suas coisas, pare de tentar desconversar e mudar de assunto - Estreita os seus olhos azul turquesa - O que foi que o nosso filho te contou de tão grave pra te deixar assim, encucado desse jeito?

- Não tô gostando do rumo dessa prosa, melhor a gente ir dormir que eu tô varado de sono - Fica de costas para ela - Você não vai dormir não, ô Maria Marta?

- Eu tô sem sono - Diz ela - Tô enjoada, e só de pensar em comida sinto vontade de vomitar, fora os desejos absurdos que venho tendo com comidas que antes dessa gravidez me davam asco. Ser mãe é lindo, só que a maternidade antes e depois em si, não tem nada de bela, pode acreditar.

- Percebi, ontem você até que comeu um pedacinho de buchada de bode, e olha que eu sei que você odeia esse tipo de comida - Suspira - Essa gravidez, ela não veio numa boa hora, Maria Marta. Se eu te perder de novo, e pra sempre dessa vez por causa dessa criança que você tá esperando, não sei se vou conseguir gostar dela.

- Só espero que não comece tudo de novo, jagunço.

- Como assim?

- Foi exatamente desse jeito quando o Zé Pedro nasceu, e depois quando o João Lucas veio a esse mundo - Já começa ela - Só que dos nossos filhos, o que você sempre mais desprezou foi o Zé Pedro, e eu nunca soube o porquê disso, já que ele é o nosso primogênito, até parecia que você odiava o nosso filho.

- Por causa dele, você passou dois dias inteiros dormindo logo após o parto, e tiveram de fazer uma cesariana de emergência em você - Ela não sabia disso - Eu quase te perdi pra sempre naquele dia.

- E por que você nunca me contou nada disso, hein?

Zé Pedro não parava de olhar uma foto de sua mãe com sua filha, ele sentia falta das duas, as amava mais do que tudo na vida. As amava até mais do que a sua própria vida, e se não fosse essa sua rivalidade com o seu próprio pai, talvez, somente talvez, o mesmo ainda estivesse livre ao lado das pessoas que ele mais amava em sua vida. Havia muita mágoa em seu coração, e uma grande parte dela, era destinada ao seu pai, que desde que ele se lembrava, o odiava, e sem motivo nenhum.

Quando criança e adolescente, Zé Pedro fazia de tudo para agradar o seu pai, era o primeiro da turma, tirava sempre as melhores e mais altas notas nas provas, além de ser ótimo nos esportes. Mas nada disso nunca foi o suficiente para o comendador, pois por mais excelente que o Zé Pedro fosse, para o seu pai, o mesmo só estava fazendo a obrigação dele, como seu primogênito. Com o tempo, Zé Pedro se cansou de esperar pela aprovação de seu pai, e começou apenas a fingir se importar, enquanto traçava secretamente, os seus planos de vingança contra o Comendador.

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