Capítulo 41 - Do seu velho pai

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Jack Sinclair

Fico sem reação. Revejo o vídeo umas cem vezes mais. Focando nela. Notei coisas que não tinha prestado atenção antes. Em como suas barrigas eram tão reais. Da tristeza no olhar de Ane. Em seu cabelo mais longo... Uma pontada de dor atinge meu peito.

Lentamente devolvo o celular pra Marcela.

- Era a mamãe! Era a mamãe! – gritava Emily.

Escuto ao fundo Jorge me chamando. Praticamente corro em direção ao meu quarto. Minha respiração ofegante. Meu coração estava a mil. E uma única frase me vinha a mente: O que foi que eu fiz...

[...]

Não sei quanto tempo fiquei sentado em minha cama com os cotovelos encostados em meus joelhos. Coçava minha cabeça enquanto pensava. O que vou fazer?

- Jack. Abra essa porta. – escutava a voz de Jorge abafada atrás da porta.

O ignorava. De propósito.

- Eu vou arrombar essa merda, Jack! Abre logo! Precisamos conversar...

- Vai terminar comigo Jorge? – pergunto irônico.

- Ok... – escuto algo se chocando, uma, duas, três vezes contra a porta, até que ela se abre com Jorge vermelho.

- Obrigado por estragar minha porta...

' - Preciso conversar com você...

- Aé? – me levanto. – Conversar sobre o que? De como você estava certo? De que ela tem 99% de chances de estar grávida. – Jorge levanta a mão para falar algo. – Não. Eu sei que ela está grávida. Não minta pra mim...

Ele parecia cansado – Sim, ela está grávida. E te garanto que é seu...

Fico um pouco tonto. Sento novamente. – O que vou fazer Jorge?

Ele me entrega o envelope que me entregou mais cedo. – Primeiro de tudo... Leia esta carta. Depois me chame...

Ele sai do quarto e tenta fechar a porta. Quando seus passos estão na escada eu abro o envelope. Não estava tão velho, mas também não tão novo.

De dentro retiro umas três folhas de sulfite. Engulo em seco quando identifico a assinatura de meu pai.

Começo a ler.

Olá filho. Um enfermeiro me ajudou a escrever isso porque já estou nos meus momentos finais... Antes de começar a explicar algumas coisas quero pedir desculpas. Fui um pai horrível. Queria poder voltar ao tempo e ficar todos os momentos de sua infância contigo. Mas logo penso, se eu tivesse ficado com você e não tivesse te maltratado como fiz, você seria esse homem que está lendo isso hoje? Respondo-lhe: eu acho que não. Você não seria esse grande homem que é hoje, não seria essa pessoa forte e destemida. Se eu tivesse lhe educado você se tornaria uma sósia de mim mesmo, e não quero isso.

Não há razões explicáveis pelas coisas que lhe fiz. Pensava que assim seria para o seu bem, mas com muita certeza e agora eu vejo o quanto estava enganado. Acabei fazendo você ser uma criança com medo, insegura de si próprio e medo de amar os outros.

Você deve estar se perguntando se já amei alguém. Essa resposta é o que vai ser tratado logo, logo. Mas sim, amei duas grandes mulheres em toda a minha vida. A segunda era sua mãe. Pode parecer que não, mas eu a amei, e muito. Tinha ciúmes dela. Muito mesmo...

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