Troco só minha camisa social branca por um moletom verde limão, coloco meu vans old school e pego as chaves de casa antes de tranca-la. Entro no elevador apreensiva, guardo o celular no bolso do moletom canguru, desço no térreo e cumprimento o porteiro. Saio e sinto o vendo gelado na ponta do nariz, seu carro esta parado do outro lado da calçada, eu dou uma corridinha atravessando e ele abre a porta pra mim por dentro do carro.
- Precisava mesmo vir essa hora? - eu digo quando me sento no banco de couro.
- Você me fez fazer isso. - ele me olha parecendo confuso. - Porque isso tudo Lê? Cadê a transparência que combinamos? - ele diz e eu pego o celular, abrindo na galeria e mostrando a foto.
- Ta transparente agora? - ele pega o celular e fecha os olhos. - Porque pra mim pareceu bem escuro.
- Eu posso explicar, eu juro. - ele diz me devolvendo o celular.
- Eu vim aqui pra isso, vai, me conta. - digo ríspida.
- O meu pai é viciado. - eu faço um olhar de desentendida. - Ele é viciado em jogos, e você sabe oque essas pessoas fazem né? Elas se endividam. - ele fala gesticulando, parece nervoso. - Ele vendeu o bar, vendeu nossa casa... - parece doloroso quando ele diz e eu resisto a vontade de abraça-lo. - Ele estava devendo muito Lê. - ele olha pra mim com os olhos cheios de água.
- E essa mulher tem dinheiro? - pergunto calma.
- Essa mulher era minha melhor amiga, e o pai dela é sim muito rico. Ela sabia de tudo oque eu estava passando, e se ofereceu pra casar comigo com comunhão total de bens, pra que eu tivesse um percentual da empresa do seu pai. - ele diz olhando bem em meus olhos. - A gente se divorciou em poucos meses, ela não gostava do pai dela, porque o pai dela não aceitava ela.
- Como assim?
- Anadélia é lésbica, agora ela é casada com Ana Laura, e mora no Rio. Quando nos divorciamos, eu peguei bastante grana, e eu quitei a dívida do meu pai. - ele termina e eu fico calada. - Por favor acredita em mim. - ele diz baixo e eu suspiro cansada.
- Eu acredito em você. - digo e ele vem me abraçar, eu o abraço porque sei que é disso que ele precisa, mais quando ele tenta me beijar, eu viro o meu rosto. - Mas não significa que eu esteja bem com isso tudo João, tínhamos combinado de sermos transparentes. - ele faz uma cara de dor, já sabe oque esta por vir. - Mas eu não confio mais em você. Confiança tem que ser merecida, e eu perdi ela depois disso.
Antes que ele possa processar oque eu disse e antes que a lágrima escorra do meu rosto, abro a porta do carro e atravesso minha rua, que agora esta molhada pela garoa.
Entro na portaria e corro para o elevador, chegando em casa eu desabo, choro com vontade e ponho pra fora oque estava guardado. Meu peito dói, principalmente porque eu sei que foi decisão dele, única e exclusivamente dele, esconder isso de mim.
Tiro a roupa que estou e ponho meu pijama de seda, ainda com lágrimas descendo em meu rosto eu o lavo novamente, e passo meu ácido Mandélico. Me deito na minha cama e me agarro a minha colcha quentinha, pego meu celular e ponho no "Não Pertube", enfio ele embaixo do travesseiro e eu adormeço assim, com lágrima na bochecha e dor no peito.
Acordo com meu despertador ás 9 da manhã. Sinto meu rosto pesado quando levanto do travesseiro para desligar a música chata tocando. Desligo e bato a cabeça de volto no travesseiro, suspiro forte e mentalizo frases positivas pra começar meu dia melhor do que minha noite terminou.
Levanto e já arrumo a minha cama, bebo água da minha garrafinha que esta na mesinha do lado da minha cama, termino de beber e vou direto para o chuveiro. Não lavo o meu cabelo pois já lavei ele ontem a noite, só capricho no sabonete, óleo e esfoliante corporal.
Visto uma caça wide leg jeans clara e meu top alça canelado branco, vou até o banheiro e tiro a toupa do cabelo, o penteando em seguida, observo os meus olhos inchados de ter dormido chorando e bufo com raiva, passo hidratante e protetor facial, pegando um óculos enorme pra esconder o inchaço. Calço meu scarpin branco, coloco minha jaqueta jeans que termina no cós da calça e já passo o perfume. Ponho meu celular, gloss, canivete e chave do carro, colocando na bolsa.
Antes de sair, pego o envelope com os documentos da minha mãe, hoje vou finalizar a compra da casa que ela vai morar quando vier pra cá. Graças a deus com a venda do seu carro e da moto conseguimos dar uma entrada boa para que o financiamento não ficasse caro, ela vai morar aqui no Alto mesmo, preferiu já que minha irmã já esta matriculada para o Colégio São Paulo o ano que vem.
Hoje é dia 18 de Dezembro, segunda-feira e ela vai vir dia 27 em uma quarta-feira. Preferiram vir após o natal já que esta semana minha irmã ainda tem aula, e assim ela consegue se despedir da família dela no feriado. Toda a matricula da minha irmã foi feita comigo ainda lá na Paraíba, assim como a matrícula dela no basquete e na natação, quero proporcionar a adolescência que eu não pude ter.
Já minha mãe conseguiu um emprego no colégio Carmo pra dar aula de Geografia, o salário vai ser bom mais ela vai prestar o concurso público pra ver se consegue algum contrato.
Quando chego ao estacionamento, avisto meu carro e abro ele com a chave. Quando estou bem na porta do motorista meu celular toca, e eu atendo ele enquanto entro e me acomodo.
- Oi amiga, bom dia. - eu digo quando atendo.
- Oi amiga, desculpa ligar cedo. - diz Sarah do outro lado.
- Cedo? São 9 da manhã. - ponho a bolsa no passageiro e a chave na enguinição.
- Você sabe que é madrugada pra mim antes das 11 amiga. - ela diz e eu rio. - Enfim queria ver oque você vai fazer hoje, eu tô meio que no tédio aqui em casa. Minha mãe foi trabalhar e meu padrasto também, e eu não tenho nada hoje. - ela diz e eu conecto ela ao rádio do carro usando o Bluetooth.
- Amiga eu vou só na imobiliária finalizar as papeladas da casa da minha mãe, depois vou treinar, almoçar e acho que a tarde vou no clube na sauna. Você pode vir comigo se quiser. - digo dando partida com o carro, saindo da garagem.
- Show, ta ótimo, bom que treinamos juntas.
- Isso.
- Vou arrumar minhas coisas então. Já tomou café? - ela pergunta e eu começo a subir a rampa para sair com o carro.
- Ainda não. Tem ai?
- Pra você sempre tem amiga, você toma aqui. - ela diz e eu concordo.
- Tô saindo já amiga.
- Ta bem, bjo até jajá. - ela diz e desliga a ligação.
Ponho o bico do carro pra fora enquanto eu coloco Cacife Clandestino pra tocar, é ai que eu escuto uma freiada forte e feio o meu carro olhando pro lado, uma moto preta esta parada bem em cima da minha porta do motorista.
Eu abaixo o vidro rápido, o erro foi meu porque eu não olhei.
- Meu Deus me desculpa, eu esta distraída. - digo me lamentando e tirando óculos pra ver melhor.
- Nossa, poderia ter sido grave moça. - diz o motoqueiro afastando a moto do meu carro e eu abro a porta pra descer e ver se esta tudo bem.
- Machucou ela? - eu pergunto e ele começa a rir.
- Machucou ela? kkkk. Ela podia ter TE machucado. - ele diz e pela primeira vez olha pro meu rosto, ele levanta a viseira e é ai que eu vejo seu rosto.
- Letícia?
- João Victor?
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gostosinho né, cidade pequena gente, conhece todo mundo, muito nome repetido, é assim mesmo.
voteeem muito e comentem, bjoo
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De Volta Pra Casa - O Reencontro
RomanceA jovem Marcela acaba de voltar para a sua cidade natal pós terminar sua graduação e seu noivado em outro estado. Muitos desafios surgiram, reencontrar sua família e amigos, isso se ainda forem amigos... E também reever seus antigos amores, oque aca...