A semana começa com força total e tento processar tudo o que Gustavo me contou.
Sobre Thaynara? Não me interessa. Não me importa. Sei que ele não quer nada com ela, realmente acredito nisso, embora eu não tenha querido me aprofundar no assunto do pai. Agora entendo por que nunca fala dele.
Quanto ao sobrinho, eu compreendo, mas a história me inquieta. Se algo acontecesse com minha irmã e meu cunhado, não tenho a menor dúvida de que Antonella ficaria comigo. Eu cuidaria dela por nada no mundo ia querer vê-la sofrer.
Morar na Alemanha nunca me passou pela cabeça. Mas, por Gustavo, eu iria. Prefiro viver com ele a viver amargurada sem ele. Isso está claro para mim, se bem que preciso pensar um pouco melhor. Ir embora significaria ver menos meu pai, minha irmã e minha sobrinha, e isso seria difícil para mim. Muito difícil.
Mas o que me desequilibra emocionalmente é a sua doença. Procuro na internet toda a informação sobre glaucoma e entendo o medo e a preocupação de Gustavo. Choro na minha casa quando ele não está por perto. Só então eu me permito chorar. Tenho que ser forte. Ele deixou claro o medo que sente da doença, e não quero que perceba que eu também estou com medo. Pensar em Gustavo cego me parte o coração. Gustavo, um homem tão forte, tão dominador, tão cheio de vida... Como pode ficar cego?
Começo a ter pesadelos. Já são quatro noites seguidas em que acordo sobressaltada entre seus braços e ele me abraça e se arrepende por ter me contado tudo. Meu apetite desaparece e, ainda que eu tente sorrir, o sorriso fica no meio do caminho. Quase não cantarolo mais, nem danço direito, só consigo pensar nele. Só quero saber que ele está bem para que eu também fique bem. Mas uma noite, enquanto nós dois lemos estirados no sofá do meu apartamento, vejo em seus olhos a raiva e a dor pela insegurança que me passou, e me dou conta de que tenho que fazer alguma coisa.
Meu comportamento tem de ser outro.
Preciso que ele veja que voltei a ser a Ana maluquinha que ele conheceu, então resolvo reprimir meu medo, a insegurança e as lágrimas e começo aos poucos a ser o que eu era. Ele respira aliviado e parece grato pela minha mudança.
A partir de então, Gustavo começa a viajar mais à Alemanha. Seu sobrinho precisa dele e ele precisa de mim tanto quanto eu preciso dele. Duas semanas depois, quando o despertador toca numa segunda-feira às sete e meia, Gustavo já está de pé. Chega perto de mim, me beija com carinho e aceito tudo com prazer. Me nego a irmos juntos ao escritório. As pessoas fariam fofoca e eu não quero isso. No fim das contas, Gustavo telefona para Tomás, que o pega na porta da minha casa. Eu vou no meu próprio carro.
Na cantina do nono andar, tomo um café na companhia de Luan quando vejo Gustavo aparecer com minha chefe e outros dois chefes. Pela maneira como ele me olha, entendo que se incomoda de me ver com meu colega. Mas não me levanto. Luan é meu amigo, e Gustavo precisa aceitar isso.
Quando voltamos às nossas salas, sinto que ele me observa da sua. Cada vez que meu olhar cruza com o dele, meu corpo arde.
Sei o que ele pensa...
Sei o que ele quer...
Sei o que ele deseja...
Mas nós dois devemos manter a compostura e esperar a noite, quando então poderemos curtir nosso momento de intimidade.
Ao meio-dia, Gustavo sai de sua sala. Sua cara é indescritível. O que será que houve com ele?
Eu o sigo com o olhar, dissimuladamente, enquanto ele caminha pelo andar e de repente vejo que vai direto falar com uma jovem loura perto dos elevadores. Dão dois beijinhos na bochecha e ela lhe acaricia o rosto. Será que é Thaynara?
Por alguns minutos conversam e depois vão embora. Uma hora depois, Gustavo volta ainda com a mesma expressão e eu gostaria que ele me chamasse. Espero quinze minutos e, como ele não me chama, decido entrar por conta própria. Gustavo está falando ao telefone. Quando me vê entrar, despede-se do seu interlocutor antes de desligar.
— Agora não posso, mãe. Te ligo daqui a pouco.
Assim que desliga, olha para mim.
— Deseja algo, senhorita Castela?
— Nem minha chefe nem Luan estão por aqui — explico. — O que aconteceu?
— Nada. Por que teria que ter acontecido alguma coisa?
— Gustavo... te vi sair com uma jovem loura e...
— E o quê?
Sua voz é de aborrecimento.
Esse tom irritado que ele usa me deixa chateada, então, sem dizer mais nada, dou meia volta e saio da sala. Antes de chegar à minha mesa, meu telefone interno toca e é Gustavo me pedindo para voltar. Volto e fecho a porta.
— Ana... o que você veio perguntar realmente?
— Acho que combinamos que haveria sinceridade entre nós dois e tenho a sensação de que hoje você não está cumprindo o combinado.
Gustavo faz um gesto concordando. Entende o que digo.
— Entre no arquivo.
— Lá vem você com essa história de arquivo!
— Ana... é o único lugar onde temos privacidade.
— Bem, você é que gosta de resolver tudo no arquivo.
Sem me deixar falar mais nada, me pega pelo braço e fecha a porta de acesso à sala da minha chefe.
— Ana... te juro que você não tem que se preocupar com essa mulher.
— Ok... Mas quem é ela?
Sorri e sussurra:
— Me dá um beijo e eu te digo quem é.
— Nem pensar. Você conta e depois eu te beijo.
— Ana...
— Gustavo...
Sem perder um segundo, me agarra, me atrai para si e me beija. Então, quando parece que vai responder à minha pergunta, ouço Luan bater na porta da sala. Rapidamente, Gustavo me olha.
— Você não tem com que ficar preocupada. Hoje tenho muito trabalho e não posso me atrasar, mas no fim do dia conversamos na sua casa, combinado, querida?
Combinado, claro. Ele me dá um beijo rápido e sai em direção à sua sala. Abro com cuidado as portas do arquivo e saio pela sala da minha chefe.
Depois do almoço, volto à minha mesa e no corredor topo com Gustavo. Ele está conversando com o chefe da administração e, ao me ver, apenas me cumprimenta com cordialidade. Sorrio sem jeito quando cruzo com ele e ando até minha mesa. Ao chegar, pego uns documentos e me enfio no arquivo. Mas me surpreendo ao ver minha chefe com várias gavetas do arquivo abertas.
— Estou procurando os dados do último trimestre de Alicante e Valência...
— Quer que eu procure?
— Não... eu vou achar.
Dou meia-volta para sair e vejo Gustavo parado na porta do arquivo. Me seguiu até ali.
— Boa tarde, senhor Mioto — sussurro quando passo a seu lado. Minha chefe, ao me escutar, ergue os olhos e vê Gustavo apoiado na porta.
— Me dá um minutinho, Gustavo, e já te entrego o que você pediu.
Ele faz um movimento concordando e, enquanto deixo uns documentos em cima da mesa da minha chefe, ele me observa. Sorrio ao vê-lo tão nervoso e tenso. Então, antes de sair da sala, me detenho, ponho a mão na maçaneta da porta e levanto a parte de trás da saia para lhe mostrar minha calcinha. Isso me faz rir, sobretudo quando me viro e vejo sua cara de surpresa.
Achando graça do que acabo de fazer, saio da sala e me sento à minha mesa. Meu celular apita. Uma mensagem de Gustavo: “Vou te fazer pagar muito caro pelo que acaba de fazer. Depravada!”
Sem me mover, olho de relance e vejo Gustavo sentado à sua mesa. Por alguns segundos, nós nos olhamos e eu me dou conta de que, de onde ele está, pode ver minhas pernas. Dou uma checada em volta e, como não há ninguém, eu as abro e digito no celular: “A depravada deseja teu castigo.”
Volto a olhar para Gustavo e vejo que se mexe nervoso em sua cadeira. Quando minha chefe sai do arquivo, fecho logo as pernas. E, com um risinho bobo nos lábios, continuo trabalhando.___________________________________
Continua.......☆
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Peça-me o que quiser, miotela ✔️
FanfictionPara todas as pessoas a quem a paixão enamora e o amor apaixona. Conta a história da secretária espanhola Ana Flávia Castela e seu chefe, o alemão Gustavo Mioto, também conhecido como Iceman - um homem muito sério e com os olhos castanhos mais inten...