Capítulo 31

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Dois dias depois, Vetuche não voltou a aparecer, embora me mande mensagens perguntando como estou e me convidando para almoçar ou jantar. Recuso os convites. Não quero vê-lo. Saber que ficou espionando minha vida e a de Gustavo me deixa furiosa. O que deu nos homens?
No quinto dia, quando acordo, abro um sorriso. Meu quarto continua como sempre. Papai faz questão de manter tudo igual a antes e, quando o escuto bater na minha porta e entrar em seguida, abro mais um sorriso.
— Bom dia, moreninha.
Adoro esse tom carinhoso e andaluz que ele usa quando fala comigo. Sento na cama e dou bom-dia. Como sempre, papai me leva o café da manhã na cama e traz o seu também. É um momento nosso, em que colocamos o papo em dia. Algo que os dois gostamos.
— O que você vai fazer hoje?
Tomo um gole do delicioso café antes de responder:
— Marquei com Maryana. Quero conhecer o sobrinho dela.
Meu pai concorda e dá uma mordida na torrada.
— Ele é uma graça. Deram o nome de Pepe, como o avô Pepelu. Você vai ver como é bonitinho. Aliás, Vetuche ligou. Queria falar com você e disse que voltaria a ligar mais tarde. Não gosto de ouvir isso, mas tento não alterar a expressão do meu rosto. Não quero que meu pai tire conclusões erradas. Mas ele não é bobo.
— Você e Vetuche brigaram?
— Não.
— Então por que ele não tem vindo aqui como sempre?
Seus olhos me atravessam. Sei que espera que eu diga a verdade.
— Olha, pai. Sejamos sinceros, pois já estamos bem crescidinhos: Vetuche quer de mim algo que eu não quero dele. E, apesar de ser um ótimo amigo, nunca haverá nada além disso entre a gente porque hoje em dia eu penso em outra pessoa. Você entende, né, pai?
Meu pai responde que sim. Dá outra mordida na torrada e a engole antes de mudar de assunto.
— Sabe quando sua irmã vem?
— Não me disse nada, pai.
— É que eu telefono e ela tem estado sempre com pressa. Mas dá pra perceber que está feliz. Você sabe o motivo? — Isso me faz sorrir. Se meu pai soubesse...
— Já te disse, pai, não faço a menor ideia! Mas com certeza virão os três passar uns dias contigo. Você sabe que a Antonella... se não visita seu vovô, fica arrasada.
Meu pai sorri e suspira.
— Ah, minha Antonella...! Que vontade que eu tenho de ver essa menina levada. — Logo olha para mim e acrescenta: — Sobre Vetuche, a partir de agora fico de bico calado, mas, filha, você por acaso continua com aquele rapaz com quem te vi na última vez que estive em Madri?
Caio na gargalhada.
— Olha, minha querida — continua, antes que eu possa responder —, sei que na capital todos vocês são muito modernos. Mas, caramba, você não faz ideia do quanto esse cara me desagradou quando vi que ele tinha um brinco na sobrancelha e outro no nariz.
— Pode ficar tranquilo, pai... não é ele que ocupa meus pensamentos.
— Que bom, moreninha. Aquele lá parecia mais burro que uma porta.
Seu comentário me faz soltar uma gargalhada, e meu pai ri comigo. Por um bom tempo, curtimos nosso café da manhã, até que ele olha as horas.
— Tenho que ir à oficina.
— Tá bem, pai. Te vejo à tarde.
— Dá uma passada no circuito. Vou estar por lá.
— No circuito? Pra quê?
Ele sorri e, sem me revelar nada, vai se levantando da cama.
— Passa lá por volta das cinco. Tenho uma surpresinha pra você.
Meu pai e seus segredinhos. Mas rapidamente cai a ficha e eu sei a que ele se refere. Aceito o convite. Meu pai sai e eu continuo me entupindo de torradas.

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Continua.......☆

O próximo capítulo........


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