Capítulo 55

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Viver sem Gustavo está difícil para mim. Difícil e insuportável. Me acostumei a vê-lo circular pelo escritório e pela minha casa, e estar sozinha me desestabiliza.
Antes de ir embora, ele quis contar à minha chefe a verdade sobre nossa relação, mas eu o proibi. Odeio fofocas e, por mais que eu saiba que elas serão inevitáveis quando todo mundo ficar sabendo, prefiro adiar esse momento.
No mesmo dia em que embarca para a Alemanha, me liga umas vinte vezes. Precisa falar comigo e me lembra de pensar na sua proposta de eu me mudar para a Alemanha. Ele precisa de mim e precisa logo.
No dia da cirurgia, Jussara me liga para informar que tudo correu bem, mas que o humor de Gustavo está péssimo. Ele não é um bom doente. Os dias passam e comento com Jussara sobre a possibilidade de eu ir à Alemanha. Ela consulta Gustavo e sua resposta é não.
Gustavo rejeita a ideia. Não quer que eu o veja nesse estado. Tento convencê-la, mas ela me lembra que já me alertou que seu filho não é um bom doente e que, num momento assim, é melhor não contrariá-lo.
Desesperada, ligo para o meu pai e lhe conto o que está acontecendo. Ele tenta me acalmar e me manda ir para a cama descansar.
No dia seguinte, quando chego do trabalho, encontro meu pai e minha irmã me esperando em casa. Em meio a lágrimas e soluços, explico a eles o que está acontecendo com Gustavo. Vejo a tristeza em seus olhos. Percebo como eles se entreolham sem saber o que me dizer. Mas, como sempre, não me deixam na mão. Tentam me colocar para cima e afirmam que Gustavo é um homem forte e que, independentemente do que acontecer, ele voltará para mim.
Quero acreditar nisso. Preciso acreditar nisso.
De madrugada, eu e meu pai conversamos. Comento com ele a possibilidade de eu ir para a Alemanha morar com Gustavo e José Rafael, e ele parece aceitar a ideia. Entende a situação e me incentiva a viver ao lado da pessoa que eu amo e que me ama. Papai é a pessoa mais compreensiva do mundo e, apesar da dor que sente por saber que vou ficar longe dele, acredita no amor e na necessidade de viver o momento.
Uma semana depois, meu pai volta a Sete Quedas. Precisa tomar conta de sua oficina, mas minha irmã está sempre comigo. É maravilhosa. Gosto dela do fundo do meu coração e, apesar de às vezes me encher o saco, é a melhor irmã do mundo.

De: Gustavo Mioto
Data: 17 de outubro de 2012 20:38
Para: Ana Flávia Castela
Assunto: Estou com saudades
Odeio o tratamento e a minha irmã. Ela me deixa muito irritado. Quanto a José Rafael, não sei o que fazer com ele.
Estou com saudades de você.
Te amo.
Gustavo


De: Ana Flávia Castela
Data: 17 de outubro de 2012 20:50
Para: Gustavo Mioto
Assunto: Re: Estou com saudades.
Você irritado?
Sério?
Não acredito... impossível!
Um homem como você não sabe o que é isso.
Sobre José Rafael, dê tempo ao tempo. Ele ainda é muito novo.
Te amo... te amo... te amo...
Ana


De: Ana Flávia Castela
Data: 18 de outubro de 2012 23:12
Para: Gustavo Mioto
Assunto: Oieeeeeee
Oi, aqui é sua namorada!!!
Como você está hoje, meu querido?
Espero que um pouquinho melhor. Ah, vai, abre um sorriso, que tenho certeza de que você está com a cara fechada. E tá booooom, já entendi a indireta de que você não quer que eu vá te ver. Vou ter de me aguentar.
Aqui em Madri já está começando a fazer frio. Hoje no escritório foi um dia louco e só há pouquinho cheguei em casa. Estou com tanto trabalho que mal tenho tempo de respirar.
Espero que José Rafael esteja mais fácil de lidar.
Beijos, querido, que passe uma boa noite. Te amo. Me responde amanhã?
Sua moreninha


De: Gustavo Mioto
Data: 19 de outubro de 2012 08:19
Para: Ana Flávia Castela
Assunto: Olá
Odeio que você trabalhe tanto.
Isso são horas de chegar em casa? Quando eu voltar a Madri, vou ter uma conversa muito séria com a idiota da sua chefe.
Te amo, moreninha.
Gustavo


De: Ana Flávia Castela
Data: 19 de outubro de 2012 20:21
Para: Gustavo Mioto
Assunto: Não se mete no meu trabalho
Como eu já escrevi na linha de assunto, não se mete no meu trabalho! O fato de eu ser sua namorada não te dá o direito de se envolver nas minhas questões de trabalho.
E a propósito... Eu te amo mais!
Ana Flávia


De: Gustavo Mioto
Data: 19 de outubro de 2012 22:16
Para: Ana Flávia Castela
Assunto: Sou seu chefe
Não volte a me dizer pra não me meter no seu trabalho. SOU SEU CHEFE. E, quanto a quem ama mais o outro, logo, logo eu vou te provar!
Gustavo


De: Ana Flávia Castela
Data: 19 de outubro de 2012 22:19
Para: Gustavo Mioto
Assunto: Hummmmmmm
E, vem cá, por que você não me liga em vez de me escrever? Não tem vontade de ouvir minha voz? Estou morrendo de vontade de te ouvir, nem que sejam seus resmungos. Anda... seja bonzinho e me liga, CHEFE.
E, sobre aquele assunto de quem ama mais... me prove!
Ana


Aperto “enviar” e espero... espero e espero e, como diz aquela música de antigamente “e eu desesperando”!
Não liga. Nem me escreve. Nada.
Às onze da noite, decido preparar alguma coisa para jantar. Não estou com muita fome, então faço uma omelete, mas acho que ficou tão sem graça no prato que resolvo acrescentar um ingrediente secreto que a Antonella adora: confetes! Omelete com confetes!
Ótimo jantar!
Pego o prato e o levo até a mesinha junto com uma Coca. Ligo a tevê e, para variar, aparece um programa desses sobre a vida de celebridades. Assisto por alguns minutos e acabo trocando. Quando chego ao canal Divinity, vejo que está passando Brothers & Sisters e deixo ali, porque gosto muito dessa série. Abro a Coca, tomo um gole e a campainha toca.
Acho estranho e olho as horas. São 23h21. Me levanto, espio pelo olho mágico e logo grito “Gustavo!”. Abro a porta e, sem dizer nada, me lanço em seus braços.
— Eiiiii, cuidadooooooooooo!
Mas que se dane o cuidado!
Gustavo está bem na minha frente. Não posso acreditar!
Eu o encho de beijos, e ele ri e me ergue em seus braços. Quando me põe no chão, estou sem ar e explodindo de tanta felicidade.
— Oi.
— Oi, querida.
Volta a me abraçar e eu fecho os olhos. Ainda não consigo acreditar que ele está aqui. Na minha casa. Na minha sala. Nos meus braços.
Quando consigo me separar um pouquinho dele e vejo sua cara cansada e seus olhos avermelhados, logo me arrependo da minha empolgação.
— Ai, querido...! Como eu sou bruta, desculpa!
Gustavo sorri e chega mais perto de mim.
— Não precisa pedir desculpas. É isso que eu precisava de você: sua naturalidade.
Seguro sua cabeça entre minhas mãos com ternura.
— Como você está?
— Bem... muito melhor agora que estou contigo.
— E José Rafael?
Sua expressão se contrai.
— Está bem, eu o deixei bem. Vamos ver quanto tempo vai durar assim.
Sorrio. Não imagino Gustavo lidando com um menino de 9 anos.
— Por que você não me disse que vinha?
— Era surpresa. Além disso, você não me escreveu há alguns minutos, me pedindo pra te ligar nem que fosse pra você ouvir meus resmungos? Pois aqui estou eu, em carne e osso.
Nós dois rimos.
— Que tal me convidar pra entrar na sua casa?
Fecho a porta, retiro seu pesado sobretudo azul e o levo até o sofá. Ao me sentar na sua frente, reparo que ele está mais magro, mas sua aparência geral é boa. Sinto vontade de apertá-lo, mas me dou conta de que não é o momento de fazer isso. Não quero que se canse.
— Quer beber alguma coisa?
— Um pouco de água.
Rapidamente me levanto, encho uma jarra de água e vou até a mesa. Quando me sento a seu lado, ele me olha e aponta o prato.
— O que é isso?
— Meu jantar, quer?
— E o que tem aí exatamente?
Achando graça da forma como ele olha o prato, respondo:
— Omelete com confetes.
— Omelete com confetes?
Eu rio. Ele deve pensar que perdi o juízo.
— Quando tomo conta da minha sobrinha Antonella, às vezes ela não quer jantar. E descobri há algum tempo que, se eu coloco confetes em vez de batatas fritas ou arroz, ela come a omelete. E hoje, como eu não estava muito a fim de cozinhar, decidi imitá-la. Fim da história.
— Meu Deus, menina — murmura, sorrindo —, eu estava morrendo de saudades de você!
— Eu também... eu também...
Gustavo me olha e eu não consigo deixar de olhá-lo também.
— Por que não me abraça?
— Não quero te apertar demais.
— Vem cá. Estou bem, sua boba... muito bem.
Me faz sentar no seu colo e começa a encher meu pescoço de beijos.
— Me aperta e me beija. Você é meu melhor remédio!
Minutos depois, nus sobre o sofá, Gustavo demonstra todo o desejo que sente por mim e o tanto que sentia minha falta. Com sua sofreguidão habitual, fazemos amor duas vezes.

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Continua......☆

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