Capítulo 33

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Assim que chegamos ao circuito, encontramos Fábio na entrada. Ele me cumprimenta e me diz para esperar meu pai na reta dos boxes. Explico a Gustavo como chegar lá e ele brinca comigo, dando aceleradas que me fazem gritar e me segurar nele.
Ao chegarmos aos boxes, ninguém está lá. Descemos da moto e fico olhando para ela. É linda.
— Quer que eu te ensine a usar?
Sua pergunta me surpreende e eu reajo como uma criança.
— Hummm, não sei.
— Tem medo?
— Nããããão.
— Então qual é o problema?
O sol bate direto no meu rosto e eu pisco um olho para enxergar Gustavo melhor.
— Tenho medo de cair e de estragá-la.
— Não vou te deixar cair — responde com segurança.
Isso me faz sorrir. Esse é Gustavo, um homem seguro.
Por fim, incentivada por ele, subo na moto. Olho ao redor e vejo que meu pai ainda não apareceu. Durante alguns minutos, Gustavo me explica que as marchas estão no pé esquerdo, depois me indica como acelerar, como usar a embreagem e como frear. Em seguida arranca com a moto.
— Uau, que barulho incrível!
— As Ducati todas têm esse som assim, menina. Forte e rouco. Agora vem, engata a primeira e...
Faço o que ele me pede e a moto morre.
Com um sorriso carinhoso, ele arranca outra vez.
— Isso é como um carro, querida. Se você soltar a embreagem depressa, o carro morre. Engate a primeira, solte devagarzinho e acelere.
Me chamou de “querida” duas vezes em menos de duas horas. Uau!
Volto a engatar a primeira, solto devagarzinho e, droga!, a moto morre de novo.
— Não se preocupe. — Ri, aproximando-se de mim.
Repete tudo e desta vez eu me concentro. Engato a primeira, solto devagarzinho a embreagem e acelero. A moto começa a andar e ele aplaude enquanto dou gritinhos. De repente eu freio e a moto dá um tranco. Gustavo grita e vem correndo.
— Se você frear só com o freio dianteiro, pode cair.
— Ok.
Repetimos o processo vinte vezes e cada vez eu me saio pior. Freio pior e não me conformo. A cara de Gustavo é impagável.
— Vamos, desça da moto.
— Nããããão... Quero aprender!
— Outro dia continuamos com as aulas — insiste.
— Ah, por favor, Gustavo... não seja desmancha-prazeres.
Seus olhos não sorriem. Está tenso.
— Chega, Ana. Não quero que você quebre a cabeça.
Mas eu já tomei gosto pela coisa e agora quero continuar.
— Só mais uma vez, por favor. Só mais uma.
Gustavo olha para mim, muito sério, mas acaba cedendo.
— Só uma vez, e depois você desce, combinado?
— Ebaaaa! Então engato a primeira e... — Ao ver seu rosto tenso, pergunto: — Vem cá, por que você está tão preocupado?
— Ana... tenho medo que você se machuque.
— Você fica angustiado quando não sabe o que vai acontecer?
— Fico.
— Por quê?
Sem entender minhas perguntas e com a testa franzida, responde:
— Porque preciso saber que você está bem e que não vai te acontecer nada.
Arranco de novo. Engato a primeira, solto a embreagem e acelero com cuidado. A moto vai devagarzinho e Gustavo está ao lado.
— Gustavo!
— Que foi?
— Fique sabendo que a angústia que você acaba de sentir nem se compara com a que senti por sua causa nessas duas semanas. E, agora, olha só isso!
Engato a segunda, acelero e a moto se movimenta. Ponho a terceira... quarta e saio diretamente ao circuito. Pelo retrovisor eu o vejo boquiaberto e então sorrio. Estou empolgada por dirigir uma moto outra vez. É algo de que sempre gostei e que me proporciona liberdade. Enquanto faço as curvas do circuito de Sete Quedas, penso em Gustavo. Em sua cara de preocupação. E volto a sorrir. Eu o imagino nos boxes, sozinho e desconcertado. Acelero.
Saio da pista e entro nos boxes. Está sentado num degrau. Quando me vê, levanta-se. Sua expressão é dura. Iceman está de volta. Mas, feliz por tê-lo feito sofrer por alguns minutos, chego até ele e freio bruscamente sem desligar o motor. Tiro o capacete e, no melhor estilo As panteras, olho para ele.
— Vem cá, Gustavo, você achava mesmo que a filha de um mecânico não sabia dirigir uma moto?
Gustavo se aproxima de mim. Parece prestes a me dizer alguma coisa não muito amigável, até que me segura pelo pescoço e me beija com verdadeira paixão. Ainda em cima da moto, eu o agarro e devoro até que escuto a voz do meu pai.
— Eu já sabia que a mulher que estava correndo na pista era minha moreninha.
Rapidamente me separo de Gustavo. Pisco para ele, o que o faz sorrir, e me viro na direção do meu pai.
— Pai, esse aqui é um amigo meu. Gustavo Mioto.
Meu pai sorri e o examina de alto a baixo. Sei que ele sabe que esse é o homem que não sai da minha cabeça. Gustavo dá um passo à frente e apertam as mãos com força.
— Prazer em conhecê-lo, senhor Castela.
— Me chame de Rodrigo, rapaz, ou terei que te chamar por esse sobrenome esquisito que você tem.
Ambos sorriem e sei que foram com a cara um do outro. Depois, Gustavo olha para mim e se dirige ao meu pai:
— Rodrigo, o senhor tem uma filha meio mentirosa. Tinha me dito que não sabia dirigir moto e, depois de me fazer ensinar a ela como usar a embreagem, saiu disparada como uma flecha.
— Você disse isso a ele, sua sem-vergonha? — meu pai brinca.
Confirmo com a cabeça, achando graça.
— Gustavo, minha moreninha foi campeã de motocross de Sete  Quedas por vários anos e, hoje em dia, continua ganhando prêmios.
— Sério?
— Aham — eu digo, divertindo-me.
Durante um tempo, Gustavo e meu pai ficam fazendo graça e eu entro na brincadeira. Estou diante dos dois homens que mais amo na vida e isso me faz feliz. Alguns instantes depois, meu pai começa a andar e volta em nossa direção.
— Me acompanhem, crianças.
Quando vou seguir meu pai, Gustavo me agarra pela cintura e me puxa para si.
— Moreninha, você é uma caixinha de surpresas.
Pisco para ele e finjo lhe dar um soco na barriga que o faz rir.
— Cuidado com o olho, porque também fui campeã regional de caratê.
Eu o escuto assobiar, surpreso, quando meu pai diz ao entrar num boxe:
— Olha o que preparei pra você.
Bem na minha frente está a moto com a qual ganhei esses prêmios de motocross. Limpa e reluzente. Uma Ducati Vox Mx 530 de 2007. Emocionada, ando até lá e subo nela. O celular do meu pai começa a tocar e ele sai do boxe para atender. Arranco com a moto e seu som áspero ecoa ao nosso redor. Depois olho para Gustavo e digo enquanto ele dá risada:
— Já te disse que adoro o barulho forte e rouco das Ducati?


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Continua........☆

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