Capítulo 7

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Bianca Sanroman

—Bianca?

Limpo uma lágrima solitária virando me para Rita que estava parada na porta.

—Sim?

—O juiz Martim ligou, avisou que hoje será seu jantar de noivado com a família do seu noivo.

Noivo! Que loucura.
Eu acreditando que tinha me livrado de um, na mesma noite arranjei outro.

Ontem depois da conversa com o Capo um homem me trouxe para casa, pelo menos ele foi muito gentil comigo. Seu nome era Roger.

Desde que cheguei não consegui pregar o olho, e tirar aquela cena da minha cabeça. Meu pai será morto hoje, em praça pública como um traidor.

Chega a ser engraçado a reviravolta em menos de 24 horas.

—Você irá?

—Aonde?- encarei seus olhos que abaixaram um pouco.

Claro, vê-lo morrer ela quis dizer.

—Não! Vou ficar em casar, tentar descansar um pouco.

Me virei de lado, deitada na cama. Observava o céu pela janela, quando ouço passos se aproximando.

—Bianca, olha- sinto o colchão afundar e me viro tendo a visão de Rita tensa.- Eu sabia oque ele fazia, mas, não podia evitar.

Fechei os olhos sentindo a dor em meu peito. Aquela sensação de sufocamento parecia que ia me matar lentamente toda vez que ele me visitava pela noite.

Por um lado, é bom saber que ele nunca mais me tocará!

—Não precisa se culpar, já acabou.- me levanto secando as lágrimas.

—Eu ouvia seus gritos, os socos, os lamentos.. e nunca fiz nada por medo. Medo que ele fizesse o mesmo comigo.

—Rita..

—Escute!- ela se levantou parecendo reunir forças.- Eu vi você crescer, vi você se tornar uma mulher e vi as consequências que isso trouxe a você.-suas mãos foram de encontro as minhas dando um aperto leve.- Fico feliz que agora estará protegida, eu não conheço muito dos Vitteri, mas sei que eles cuidam dos seus. Você será como eles, será forte como eles.

Ainda parece loucura na minha cabeça, a ideia de ser a nova primeira dama. Eu não tenho nenhum preparo, claro que recebi muitas aulas de conduta, leis. Mas nunca imaginei que me casaria com o Capo.

—Espero que sim.- sorri fraco me soltando.

Entrei no banheiro ficando a frente do espelho. Eu estava horrível! Meus olhos transpareciam todo o inferno que tem sido a minha vida todos esses anos. E eu não tenho esperança de que casando, essa dor suma.

Não tive nem a opção de escolher o meu noivo. É muito menos tive um pedido adequado, como muitas mulheres sonham.
E oque mais me preocupa, como serei uma primeira dama digna, se nem um filho eu posso gerar?

Essa máfia cairia em ruínas se dependesse de mim.

Pare de pensar dessa forma Bianca, veja como uma nova oportunidade de viver!-implorou meu subconsciente que ha tempos não escutava.- De um ponto final nessa maldita história, e se erga para uma melhor.

Me encaro uma última vez no espelho, me achando louca pela ideia que se passou em minha cabeça.

Eu não teria estômago, mas precisava ver.

—Rita!- sai do banheiro atrás da mesma que se assustou pelos meus gritos.

—Oque houve?

—Me leve até lá, eu quero vê-lo pela última vez.

...

Muitas pessoas cochichavam, ainda não entendendo por que o Capo ordenou que todos presenciassem um homicídio em público.

Há anos não havia uma morte tão vergonhosa como essa. Pelos livros que li, e pelo que minhas professoras falavam, a morte em praça pública era a forma de mostrar a famiglia que o mau estava sendo exonerado, trazendo paz a todos novamente.

Olhares me seguiam, surpresos e curiosos. Acredito que a notícia do casamento esteja correndo solto, ainda mais com o pai da noiva sendo morto na frente de todos por traição.

Fico em uma parte separada, onde os juízes e o Capô ficariam para ver o corpo de meu pai ser queimado.

O tronco já estava posto junto as madeiras que seriam queimadas.

Engulo em seco não conseguindo imaginar a cena.

Que ideia estúpida de vir até aqui. Eu não conseguiria.

Logo os juízes aparecem, se surpreendendo com a minha presença.

—Achei que ficaria em casa.- Martim se aproximou.- Seria melhor.

—E-eu precisava ver.- disse convicta.

—Terá pesadelos com isso criança.- outro juiz falou.

Tenho pesadelos com coisas piores.

—Deixe que ela veja.- me arrepio ao ouvir a voz dele.

Jonathan apareceu ao meu lado vestindo um terno azul escuro de três peças, junto a um óculos escuro no rosto.

Me virei para frente quando vejo homens levando o meu pai, nu, até o tronco o amarrando lá.

—Vocês..

—Sim, e o fiz engolir.- respondeu Juan Pablo quando apontei para sua genitália que continha um curativo muito mau feito.

Então eles sabem?

Encarei Jonathan esperando alguma reação, mas o mesmo nem ao menos me encarou.

Ele deve me achar uma suja! Todos devem.

Segurei o choro voltando a encarar Túlio, que parecia fraco demais para encarar alguém, mas mesmo assim o cretino levantou o rosto dando de cara comigo. Seu sorriso nojento abriu em minha direção me deixando enojada.

—Túlio Viara Sanroman foi condenado à morte por traição, uma coisa que nunca será perdoada por nós.-o Capo começou com o discurso chamando a atenção de todos- Um homem que deveria proteger a sua famiglia mas que resolveu dá-la em troca de um livramento pessoal. Não é esse tipo de honra que preservamos. A máfia em primeiro lugar!

—A máfia em primeiro lugar!- gritaram todos.

—Taquem fogo no traidor!- gritou e um arrepio percorreu a minha pele.

Um homem aparece com uma tocha acesa, sendo posta nos galhos que estavam nos pés de Túlio. O fogo começou pelos pés, subindo rapidamente pelo corpo. Seus gritos angustiados eram músicas para o homem ao meu lado.

Não contive o choro, vendo aquela cena. Não era um choro de tristeza, mas sim de alívio. Achei que ficaria mal, mas a cada parte queimada daquele homem, era um suspiro aliviado que saia de mim. Não precisava mais me preocupar em acordar bem cedo pela manhã, e fazer o café da manhã como ele gostava, não precisava me preocupar de fazer algo errado e ser espancada até ficar desacordada, não precisava me preocupar de deixar a porta aberta quando chegava a noite, e ele vinha me visitar em meu quarto. Tudo estava sendo queimado ali, junto com ele. O meu inferno felizmente tinha finalmente chego ao fim.

Só se escutava o som das chamas que cobriram meu pai por inteiro. Ele não gritava, acredito que já tenha partido.

Fiquei ali parada enquanto as pessoas se retiram aos poucos, ainda aterrorizadas pela
cena que presenciaram.

Eu não conseguia sentir nada.

Sinto um olhar pesar em mim, me fazendo olhar para o autor.

Jonathan me encara sem esboçar nenhuma expressão. Ele me encarava esperando que eu falasse algo, mas não havia a nada a ser dito.

—Te levarei para casa Bianca.- Martim chamou nossa atenção ao parar ao meu lado.

—Certo.-vire me para Jonathan que conversava com o irmão.

Eu me despeço ou me faço de invisível?

—Vamos?- insistiu Martim. Acenei saindo com ele.

O Rei do crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora