Cécile sonhara com o fantasma durante toda a noite e agora estava sonhando acordada.
Tinha algo de diferente nele. Uma lealdade e devoção, exalava grande confiança, e isso era algo raro, tão raro que era possível notar de longe.
Cécile foi até seu consultório e fechou a porta. Deixou sua bolsa e casaco pendurados no suporte e, quando se aproximou de sua mesa, não pôde evitar de sorrir.
Sobre a madeira havia uma rosa vermelha de uma cor viva e radiante e um envelope marcado com tinta vermelha.
Ela o abriu e leu:
Obrigado pelo belo jantar digno da melhor ala hospitalar.
Gostaria de provar hoje o melhor jantar de acordo com um fantasma?
Responda em voz alta e eu ouvirei.
Se aceitar, aguarde em sua sala às 19h e irei buscá-la.
Assinado,
F. da O.
Cécile riu.
Como assim, "responda em voz alta"? Ele é engraçado.
Riu consigo mesma mais uma vez e então respirou fundo antes de proferir um "sim" em voz alta.
Nada aconteceu, então ela deu de ombros.
Bom, se ele disse que ouviria, então deve ter ouvido, de alguma forma.
Encostado em uma das paredes, Érik sorriu ao ouvir o sim proferido por aquela voz animada.
Cécile começou a ligar seu computador quando ouviu uma batida na porta.
- Entre.
Piérre entrou em completo desespero.
- O que houve? - Cécile correu até ele.
- Um dos grampos do grampeador elétrico pegou no meu dedo. - Ele ergueu o dedo ensanguentado para Cécile e fez uma careta de dor quando ela encostou na pele machucada.
- Sente-se na maca, eu vou precisar tirar o grampo.
Piérre obedeceu. Observava a sala com olhos de impaciência, pois a dor vinha em ondas que o atingiam com força. Viu Cécile colocando uma seringa, bandagem e suturas em uma bandeja sobre sua mesa, ao lado de uma rosa vermelha fresca.
Cécile foi até ele e desinfetou o machucado e aplicou uma anestesia. Em seguida, conseguiu tirar o grampo preso na pele. Rapidamente, Cécile deu um ponto no local e passou uma pomada para ajudar na cicatrização.
Piérre a observava com olhos de gratidão.
- Isso foi um recorde.
Cécile riu.
- Faço sutura mais rápido que uma troca de pneu em um pit stop.
- Estou realmente sem palavras. - Piérre riu. - Obrigado, Cécile. E nem me venha com dias de descanso. O palco precisa ficar pronto.
- Você quem sabe. - Ela respondeu.
- Bom, foi uma honra ser seu primeiro paciente. Obrigado, mais uma vez. - Ele se aproximou e deu um leve beijo na bochecha de Cécile e saiu do consultório.
***
Após o almoço, Cécile estava em seu consultório preenchendo algumas fichas e ansiando pelo jantar com Érik, quando seu telefone de mesa tocou.
Era a Sra. Giry a chamando para sua sala.
Sobre o que será que é?
Quando entrou, a Sra. Giry fez sinal para que Cécile se sentasse e ela obedeceu.
- Cécile, sua saída não foi identificada pela catraca de saída no horário adequado ontem à noite. Sua saída foi registrada bem mais tarde. Preciso saber o que ocorreu, pois preciso prestar contas de horas extras à justiça.
Cécile respirou fundo.
Não podia dizer a verdade, obviamente. Poderia dizer que ficara atendendo alguém, mas seria fácil para a Sra. Giry descobrir que era mentira.
Tentava pensar rápido em uma resposta coerente.
- Fiquei encantada com a teatro e fiquei matando tempo por aqui. - Foi a única coisa em que conseguiu pensar.
- Ficou aqui sozinha todo aquele tempo? - A Sra. Giry ergueu uma sobrancelha.
- Fiquei no palco com Piérre. Pedimos até comida, o pessoal da portaria pode confirmar, eu estava lá fora esperando o entregador. - Cécile disse rapidamente, mas se arrependeu no exato momento que terminara de falar.
Droga! Droga! Droga! Mentir tudo bem, mas não envolva nomes...
A Sra. Giry imediatamente discou um número em seu telefone.
- Peça que Piérre venha até minha sala, por favor.
Cécile congelou.
Vai, sua idiota. Agora você tá ferrada. Quebrou a regra número um da mentira: não envolva nomes que poderão te entregar. É isso, foi bom trabalhar aqui por 1 dia e meio. É meu fim.
Os minutos de espera por Piérre pareciam uma eternidade enquanto Cécile suava frio, até que Piérre entrou na sala com um sorriso no rosto, sorriso esse que se desfez no momento em que viu Cécile sentada sob o olhar duro da Sra. Giry.
- Em que posso ser útil, Sra. Giry? - Piérre perguntou educadamente.
- É verdade que Cécile esteve aqui com você até tarde da noite ontem? Ficaram no palco, pediram comida?
Piérre olhou para Cécile com olhos de reprovação, mas ela estava de cabeça baixa.
É meu fim, estou acabada.
- É, sim, Sra. Giry.
Cécile imediatamente ergueu a cabeça e o encarou. Seus olhos gritavam um "obrigada" silencioso, enquanto os olhos de Piérre pareciam dizer "não sei o que está acontecendo, mas vou te proteger".
- Bom, então se é assim, fico feliz que Cécile esteja gostando do teatro e fazendo amizades aqui, mas precisa respeitar seu horário, ok, Cécile? Podem ir os dois.
Quando saíram da sala, Cécile soltou todo o ar que estava prendendo. Não sabia como havia se livrado daquela, mas estava feliz de tudo ter acabado bem.
Só havia um detalhe: Piérre.
Ele a acompanhava em direção ao consultório e seu olhar era acusador.
- Cécile, acabei de salvar sua pele. O que aconteceu ontem? Você está com problemas?
- Não, tá tudo bem, é que peguei no sono aqui no consultório e esqueci do horário. Não queria que a Sra. Giry soubesse que dormi no meu primeiro dia.
O olhar de Piérre deixava claro que ele não estava satisfeito com aquela reposta.
- Você disse que precisava levar os documentos de sua contratação e não foi. Se estiver com problemas, Cécile, pode me dizer.
- Está tudo bem, juro. - Cécile disse, abrindo a porta de seu consultório. - Agora preciso preencher a planilha de remédios. Até mais, Piérre.
E ela fechou a porta antes que ele pudesse responder.
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O FANTASMA - Phantom Of The Opera AU
FanfictionApós ser abandonado por Christine, Érik decide pôr fim à sua vida. O tão famoso Fantasma da Ópera só não esperava acabar enfeitiçado, dormindo por 200 anos e acordando no primeiro dia de trabalho da nova funcionária do lendário teatro de Paris.