Piérre estava irritado naquela manhã, e era por dois motivos. Primeiro que, na noite anterior, Cécile havia sido ríspida com ele e recusado novamente um jantar. Não que ela tivesse obrigação de aceitar, mas quando se conheceram, disse que aceitaria e depois recusou novamente, e como se isso não bastasse, ela havia chegado hoje pela manhã carregando uma vitrola em formato de maleta e vários discos em uma sacola, e Piérre não fazia ideia do motivo de ela querer aquilo.
O segundo motivo é que, na noite anterior, após voltar do escritório de Cécile após o convite de jantar fracassado, voltara e toda a comida que pedira havia sumido. Todos se conheciam ali e nunca, em todos os anos em que trabalhava lá, aquilo havia acontecido.
Fora bem cedo na sala da Sra. Giry para que ela puxasse nas câmeras e estava quase surtando de tanta ansiedade quando a viu voltando e parando sobre o palco, ao lado dele.
- Piérre, pela câmera, vi um dos funcionários da limpeza pegando as embalagens de comida. Provavelmente foi no momento que você se ausentou. Ele provavelmente viu as comidas no chão e pensou ser lixo. Sinto muito.
Piérre suspirou de frustração. Não sabia o que esperava que fosse, mas esperava que tivesse algo a ver com Cécile, para entender o motivo de ela parecer cada dia uma pessoa diferente.
- Tudo bem, pelo menos já sei o que aconteceu.
- Peço desculpas por isso. Se quiser, o teatro pode ressarcir o valor.
Ele balançou negativamente a cabeça.
- Não precisa, Sra. Giry, eu nem ia comer, mesmo.
A Sra. Giry fez um gesto de despedida com a cabeça e se afastou.
Havia mentido. Havia visto claramente o homem de capa e máscara branca roubando as duas embalagens de comida.
Ele está acordado.
***
A Sra. Giry desceu as escadas cuidadosamente.
Fizera aquele caminho muitas vezes desde que começara a trabalhar na Ópera.
Durante todo aquele tempo, toda semana, descia até lá, limpava o covil que Érik chamava de casa para não acumular musgo e mofo, verificava se ele estava bem e hidratava por fora seu corpo inerte com água, pois seu corpo por dentro já estava protegido pelo feitiço.
Cuidava dele com o amor que fora passado de geração em geração em sua família, e esperava ansiosamente pelo momento em que ele acordasse.
Ela se aproximou em silêncio e passou pela grande entrada que dava para o espaço dele. Érik estava de costas mexendo em alguns papeis quando ouviu os passos.
- Cécile, você veio mais cedo! - Ele falou com uma voz animada, mas quando se virou, o brilho dos seus olhos se apagou.
- Então a Cécile anda sumida porque está aqui com você, é?
Érik a encarou com o rosto impassível.
- Seus olhos se parecem com os da Madame Giry. - Ele disse por fim.
- Sou a quarta depois dela, sou Chalotte Giry. Tenho ordens expressas para cuidar de você, e é o que fiz durante vinte anos. Vejo que finalmente acordou e está bem.
Érik se aproximou dela a passos curtos e a encarou duramente.
- Suas antepassadas lhe disseram que sou o dono deste lugar?
- Disseram que age como se fosse. - Ela o encarou friamente.
Os dois se encararam por alguns segundos.
- Érik, vou te proteger porque você foi importante para minha família, então é importante pra mim. Mas lembre-se de que não posso permitir que você cause danos a esse teatro como fez da última vez, tudo bem?
- E por que diz isso? - Érik perguntou com a voz baixa.
- Porque foi possível ver como fica quando se apaixona, e eu não terei como te proteger se causar danos à Ópera. Estamos entendidos?
- Não há possibilidade de isso acontecer.
- Está falando de incendiar a Ópera ou de se apaixonar? - A Sra. Giry olhou para ele com um sorriso cômico no rosto. - E se algo acontecer com a senhorita Cécile, eu acabo com todas as suas armadilhas espalhadas pela construção e te exponho para todos. Está me entendendo?
Érik assentiu.
Não havia entendido o motivo daquele aviso envolvendo se apaixonar e o nome de Cécile, mas também não questionou mais, e observou enquanto a Sra. Giry voltava para a superfície da Ópera.
***
Piérre precisava cortar uma madeira na serra circular, e esse tipo de trabalho fazia muita poeira.
Para não prejudicar o ambiente interno do teatro, resolveu fazer a tarefa no terraço.
Quando subiu, encontrou o espaço um pouco revirado.
O que rolou aqui?
Ele andou um pouco e viu a mesa com as coisas que Érik ainda não voltara para limpar. Na verdade, Érik estava tão acostumado a mandar e desmandar na Ópera, que não achou que seria de grande problema recolher tudo no dia seguinte.
Piérre se aproximou mais e notou num canto um saco com o nome do restaurante no qual havia pedido comida na noite passada. Ele revirou o saco e viu as exatas embalagens da comida que pedira na noite anterior, até a nota fiscal ainda estava grampeada na parte interna do saco, com seu nome identificado.
Será que o homem da limpeza jantou a minha comida aqui?
Então Piérre se aproximou mais da mesa e viu, entre os pratos, taças e o abafador, um pequeno vaso com uma rosa vermelho vivo dentro.
Um flashback foi imediatamente acionado em sua mente.
Quando martelei o dedo e fui ao consultório de Cécile, tinha uma flor exatamente igual a essa na mesa dela, e essa flor não tem fácil por aqui... Não pode ser coincidência.
E então ele desceu furioso para o térreo.
Sempre soube que ela tinha algo a ver. Minha intuição estava certa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O FANTASMA - Phantom Of The Opera AU
FanfictionApós ser abandonado por Christine, Érik decide pôr fim à sua vida. O tão famoso Fantasma da Ópera só não esperava acabar enfeitiçado, dormindo por 200 anos e acordando no primeiro dia de trabalho da nova funcionária do lendário teatro de Paris.