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Yuri

Meu pai viaja com muita frequência, as vezes pra julgar algum caso em específico ou só para dar palestras.

Sempre que ele volta nós vamos comer no mesmo restaurante italiano. Eu sempre me animo pros jantares, mas hoje eu tô muito nervosa. Vou ter que contar pro meu pai sobre a gravidez.

O que mais me deixa tensa é que eu sei que ele não vai gostar da notícia.  Na verdade ele vai odiar. Peguei um uber até o restaurante, ao chegar sou levada até a mesa onde o senhor Yoshida está sentado.

- Oi princesa! - ele se levanta para me dar um abraço.

- Oi pai! - a gente se senta - Senti a sua falta.

- Também senti a sua. - ele pega a taça de vinho e toma um gole - Esse é de uma safra incrível. Você tem que provar. - dou um sorriso amarelo.

- Dessa vez vou passar. - meu pai ama vinho, até é sócio de uma vinícola.

- Certo... O que fez nesses últimos meses que estive fora?

- Nada demais! - dou de ombros - Faz quase três meses que tô atolada em trabalhos da faculdade, eu e Ali combinamos de sair do trabalho pra focar apenas na facul! - uma faculdade que eu não queria estar fazendo.

- Melhor assim, espero que esteja se saindo bem!

- Estou. - meu pai é muito rígido em relação à faculdade de administração.

- Vamos pedir? Que tal o ravioli de sempre? - meu estômago se revira só de pensar nesse prato.

- Acho que vou pedir uma lasanha mesmo!

Meu pai faz o pedido e jantamos falando sobre várias coisas aleatórias. Ele sempre pergunta sobre tudo, ele gosta de saber sobre tudo que poder ao meu respeito.

- Bom... Pai, tem uma coisa que eu preciso te contar. - meu coração se acelera.

- Voltou com seu ex-namorado?

- Não! - digo pela milésima vez.

- Que pena, eu adorava o Johan. Mas me diga, o que você precisa me contar?

- ...Eu passei muito mal alguns dias atrás... Alice tava comigo e ela deduziu que eu estava grávida. Fiz o teste e deu positivo. - vou direto ao assunto.

Ele larga o garfo e me encara sério.

- Isso é algum tipo de brincadeira? - nego.

- Fiz o exame de sangue e um ultrassom, eu estou grávida. - ele bufa seu ódio.

- Que decepção! - me afundo na cadeira - Dezenove anos e grávida? Quem é o pai? O Johan?

- Não! Você não conhece ele, foi um caso de uma noite só... - meu pai me corta, seu rosto transparece desgosto.

- Um caso de uma noite só? Você faltou às aulas de educação sexual? Não sabe o que é a porra de um preservativo? Inacreditável!

- A gente usou papai! Mas acabou estourando e mesmo assim ainda tomei a pílula do dia seguinte... O senhor sabe que nada é cem por cento!

- Grávida, sem um diploma, e solteira...

- Pai!...

- Quanto tempo? Quantas semanas essa coisa tem?

Essa coisa? Porra isso foi babaca.

- Onze semanas.

- Dá tempo ainda...

- Desculpa, tempo de quê? - tô confusa.

- De tirar isso! Amanhã eu procuro por uma clínica confiável, a gente vai dar um jeito nisso.

- O quê? Pai, para de se referir ao meu filho como "coisa" ou "isso", é o seu neto e eu não tenho interesse nenhum em abortar o meu bebê!

- Pelo amor de Deus! Tenha senso. Você é imatura e instável, não pode ser mãe agora!

- Eu vou me esforçar pra dar certo. E outra, você votou contra o aborto, lembra? Você odeia que alguns estados permitam isso.

- É diferente! Não vou deixar a minha filha estragar o futuro dela. - hipócrita.

- Pode até me atrasar um pouco, é óbvio. Mas estragar não vai.

- Mas eu quero que você tire!

- Não é uma opção. Eu não vou tirar meu filho!

Acho que a Aline e a Emma vão ser as únicas a ficarem felizes por conta da gravidez.

- Yuri! Para de pensar com a emoção, você quer um filho? Agora? Tão nova? Sem estar em um relacionamento?

- Não vou abortar meu filho. Isso não está aberto para discussões. Você tem o direito de ser contra mas tem que entender que a escolha é minha!

- Um filho, fruto de um descuido. Tirar é o melhor pra todos, já falou com o pai sobre isso? Ele deve entender o meu ponto de vista.

- NÃO! - ele me olha assustado.

Não sou de levantar a voz pra ele. Mas meu Deus, ele não entende o meu lado, eu já disse que não vou tirar o meu bebê.

Não ligo se ele não quer, não ligo se o Nanami não vai querer. Eu quero e ponto final! Eu que vou carregar, eu que vou parir, eu que vou cuidar.

Me levanto e saio do restaurante deixando o meu pai sozinho. Eu só queria chorar, meu vai odiar o meu filho.

Me encosto no lado de fora do restaurante e respiro fundo.

Pra piorar ainda mais a minha noite eu esqueci o meu celular, não tem como eu chamar um uber.

- Oi! - viro meu rosto para ver a loira do meu lado - Eu te mandei mensagem - ela sorri - Emma, irmã mais nova do Nanami.

- Ah! Claro. - arrumo a postura.

- Eu tava lá dentro jantando com uma amiga e vi você saindo, está tudo bem?

- Nem tanto, mas vai ficar...

- Claro, você precisa de algo?

- Na verdade sim! Eu iria adorar se você chamasse um uber pra mim. Eu esqueci meu celular.

- Bom, ainda tá cedo, eu iria adorar passar um tempo com você. Vamos ser bem presentes uma na vida da outra, quero ser uma tia bem presente!

- Desculpa. Mas não me sinto à vontade pra voltar pra lá... - me refiro ao restaurante.

- Claro. Que tal a minha casa? Não fica muito longe. Ou a gente pode ir na boate do meu irmão... Ele vai está na empresa até tarde hoje pra uma reunião! - ela pisca pra mim - A gente pode tomar uns drinks, claro que pra você é sem álcool.

- É, por mim tudo bem. Acho que vai me ajudar à esquecer a noite de merda que eu tive.

- Ótimo! Meu carro tá logo ali. - ela aponta.

A situação tá uma merda e eu nem posso encher a cara pra esquecer...

Meu chefe NanamiOnde histórias criam vida. Descubra agora